Luana Francis
A escola está um caos total com os preparativos para a excursão à Connecticut. Os alunos do terceiro ano estão tão animados para esse evento, que me pergunto o que há de tão especial assim.
Particularmente não acho a ideia de passar três horas num ónibus abarrotado de gente, viajando para outro estado sem tantos pontos turísticos, para além de um aquário que é o único sítio que visitaremos, isso não justifica a empolgação de todos eles, como se estivessem tratando de algo realmente empolgante.
Várias pessoas faltaram as aulas hoje. Podiam se ouvir grilos em todas as salas que pisei hoje, e no refeitório. A escola também está nos preparativos para levar os alunos até lá! Carros, estadia, alimentação.
É possível ver o movimento dos camiões chegando, e de caixas entrando. Tudo para o conforto dos alunos, ou melhor, tudo para o conforto daqueles que pagam. Porquê, nos os bolsistas, não teremos todos os privilégios dos outros. Porém, não vou reclamar, ao menos pagaram nossa estadia e transporte.
Faltam apenas três meses para eu sair dessa escola. E cinco meses para eu começar minha faculdade, caso seja aceita em alguma.
As cartas já foram enviadas. Agora, resta-me esperar, ansiosa, a resposta de cada universidade. Todos os dias, abro minha caixa de e-mail com esperança, desejando ver uma notificação de alguma delas, mas até agora, nada. A expectativa é excruciante. Mesmo com minhas notas excelentes e meu histórico como aluna de destaque, o medo da rejeição está sempre presente. Basta imaginar a possibilidade de não passar em nenhuma para o estômago se revirar e o peito se apertar.
Não quero terminar trabalhando em um posto de gasolina ou servindo mesas em algum restaurante. Sei que esses trabalhos são dignos e essenciais, mas sonho em ir além. Quero superar barreiras que foram colocadas para pessoas como eu. Todo mundo sabe que, para uma garota negra com condições limitadas, as oportunidades não são muitas, especialmente no meu estado e país. E, sendo mulher e de cor, com poucas condições, preciso me esforçar dez vezes mais para tudo na minha vida.
Foi assim desde que nasci. Tive que ser a melhor aluna desde o ensino fundamental, nunca dando a ninguém a chance de usar minha cor para justificar qualquer coisa. Esse esforço me levou à Westside High School com uma bolsa de estudos, e ser aprovada aqui foi uma vitória.
No que diz respeito ao ensino, a Westside é um exemplo a ser seguido – moderna, de qualidade, com programas de elite.
Mas em igualdade... essa escola falha miseravelmente. Eles fecham os olhos para o racismo, o bullying, o preconceito. Se você não paga, você não importa. Se você paga, apenas certifique-se de ser mais rico e poderoso que os outros colegas. E reze para que seu pai ou mãe seja jornalista.
Para quem depende de bolsa, as regras são rígidas: nada de faltas acima do limite, nenhuma nota abaixo de B, e envolvimento zero em brigas ou discussões. Tive sorte de não ser expulsa depois da confusão com Dalila. Fiquei com uma advertência, quase como se fosse um lembrete constante para conter minhas emoções, para aprender a ignorar provocações.
É exaustivo, mas eu continuo. Sigo forte, me esforçando, dando o melhor de mim, porque quero quebrar todas essas barreiras, quero derrubar os estereótipos. Quero que a sociedade veja que uma garota negra pode, sim, sonhar e chegar longe. Entrar numa universidade da Ivy League seria uma conquista imensa, um orgulho para mim, para meu pai, minha mãe, meus irmãos e Sally. Mais do que isso, seria uma prova de que, apesar de tudo, eu posso realizar meus sonhos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Culpa Do Amor
Novela JuvenilDescrição: Depois da morte de sua mãe e seus irmãos, Luana Francis se trancou em uma bolha escura, e não deixava nem um feixe de luz entrar por ela. Se dedicou apenas aos estudos para conseguir sair do sítio que trazia as memórias a tona da noite f...