capítulo 2

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As fortes e geladas rajadas de vento fizeram
Priscila encolher todo o seu corpo; em pleno final de outono o frio castigava quase
severamente. A garota estava guardando seu crachá em sua bolsa quando suas chaves caíram no chão. Imagine ter que tocar no metal, agora molhado, em pleno nove graus Celsius?

Serenata devido à hora: Pouco mais das onze da noite. Priscila fez o que mais cedo ou mais tarde teria que fazer e acabou pegando a chave do chão. A garota voltou a se levantar, todavia, algo não a deixou se mover. Ela fechou os olhos ao cair em percepção de que deveria ter ido visitar a senhora Fernanda e Carolyna.

Seus passos foram desajeitados e apressados para dentro do hospital e logo ela estava no elevador rumo ao quarto da garota. Por sorte não precisou ter que gravar outros números de quartos aquele dia, se não, com certeza teria problemas em se lembrar do número do quarto de Carolyna.

Assim que chegou ao piso em que deveria
descer, ela rumou para o quarto. Deu três
batidas na porta e logo a mesma foi aberta.

- Olá. - Ela disse docemente. - Muito tarde? Se quiser eu posso voltar amanhã e..

- Não se preocupe, criança. Entre. - Fernanda  disse, vendo Priscila (agora não uniformizada) entrar. A garota deixou a bolsa no canto da sala e se aproximou de Carol.

- Olá, Carol. Como está? - Priscila disse, vendo Fernanda voltar a se sentar em sua cadeira. - Vejo que pentearam seus cabelos. Está linda!

- Ninguém a visitava e bem, ela sempre
gostou de ficar arrumada para as visitas. Dei uma leve ajeitada. - Fernanda disse sorrindo fraco e Priscila agradeceu mentalmente por ter lembrado de visita-lá. A mulher teria se chateado caso o cérebro de Priscila resolvesse falhar em lembrá-la de algo novamente.

- Oh! - Priscila disse. A maior analisou a
expressão da mãe de Carolyna. Aquela mulher carregava consigo uma dor tão profunda que transparecia no brilho de seus olhos. - Viu só, Carol? Sua mãe ainda se lembra de seus gostos. - Fernanda riu baixinho e assentiu.

- Você é muito especial, Priscila. - A mais velha disse, causando um sorriso no rosto da maior.

- Obrigada, senhora. - Ela disse sentindo-se lisonjeada. - Carol, vou contar para você e sua mãe sobre o meu chefe, quer escutar? - Priscila perguntou sorrindo. - ele brigou muito comigo por ter entrado aqui mais cedo. Ele realmente não deve gostar de mim. - Falou rindo.

- Oh, querida. Enganos acontecem. Por que ele brigaria com você?

- Por importunar a paz de uma família. Eu
deveria ter ido à outro quarto. Levei bastante xingo, mas sabe, Carol? Gostei de conhecer vocês duas. - A porta foi aberta de supetão, roubando a atenção do momento para o doutor que entrava na sala.

- Boa noite, moças. Como estamos aqui? -
o homem que aparentava seus quarenta e
poucos anos era ligeiramente grisalho, mas
incrivelmente lindo e simpático. - Temos
visita nova para você, Carol? - O homem
disse em um tom alegre e empolgado.

- Priscila é nossa nova amiga, Doutor Derek. - Fernanda disse sorrindo, se afastando para dar lugar ao médico, que retirava sua pequena lanterna do bolso de seu jaleco.

- Vamos lá. - Ele disse, abrindo um dos olhos
de Carol e jogando luz neles. Priscila pôde ver que os olhos eram castanhos também, uma tonalidade incrível, para ser honesta.

- Você não se incomoda com isso, Carol?
Se alguém jogasse luz nos meus olhos eu
choraria de raiva. - Priscila disse rindo. - Sou meio explosiva na TPM.

- Como disse que se chamava? - O médico
perguntou, se virando para Priscila.

- Bem, eu não disse. Fernanda que me
apresentou. Sou Priscila.

- Certo. Priscila..

- Já sei. Pedirá silêncio. Desculpe! - Ela disse
rindo um pouco envergonhada.

- Muito pelo contrário. Continue falando. -
Priscila arqueou uma sobrancelha.

- Bem, eu não entendi, mas tudo bem. Sou
fácil em falar coisas aleatórias do nada. Isso
me faz parecer louca? - Ela perguntou, vendo Fernanda rir.

- Não, querida. - A mulher respondeu
gentilmente.

- Priscila, ande até a porta, por favor. - O
homem pediu e a garota assentiu confusa.
- Vá falando. - Que espécie de louco aquele
médico era? Priscila resolveu acatar seu pedido mesmo assim.

- Eu não posso ficar falando sozinha doutor. O senhor me pede para falar, mas é complicado e isso compromete a minha imagem na frente de Carol.

- Repita o nome dela. - O homem pediu com
veemência.

- Está tudo bem, doutor? - Fernanda perguntou preocupada.

O homem jamais fizera algo assim em todos os anos que estivera ali. Ele era apenas um interno quando foi apresentado ao caso e permaneceu ali até os dias atuais ao lado daquela família.

- Sim. Só preciso que Priscila repita o nome da Carol.

- Claro. Carol, eu não sei o porque o doutor
quer que eu repita seu nome, mas gosto de "Carolyna". É um bonito nome e por isso repeti sem problemas.

O homem soltou uma risada animada e
apagou a lanterna, olhando para Fernanda
visivelmente comovido. Ele havia se apegado à garota e dizia naqueles quatorze anos Carolyna lhe ensinava sobre perseverança todos os dias.

- Senhora Fernanda, podemos trocar uma
palavra? - Ele perguntou e a mulher olhou
confusa e assustada para ele.

- Eu prefiro que Priscila esteja comigo. - Ela
confessou. - Você sabe que eu não tenho..
Mais ninguém, doutor. - Os olhos negros do
homem se direcionaram para Priscila antes de ele assentir.

- Tudo bem. - Ele disse. - Senhora Fernanda, de alguma maneira a sua filha parece responder quando a ouve. As pupilas se dilatam e se movem, porém..

- Oh meu Deus. - Fernanda disse levando sua mão à própria boca. - Ela nos ouve? Oh meu Deus. Minha filha.. - A mulher começou a chorar e o doutor respirou fundo.

- Preciso que se acalme, senhora. Ainda tem
mais. Ele disse, vendo-a limpar algumas
lágrimas e voltar a fitá-lo. Fernanda sentiu um aperto cálido em sua mão, virando-se apenas para ver que era de Priscila.

- Prossiga, doutor.

- Bem, o mais estranho de tudo é que, bem..
Carol só responde à voz de Priscila. Eu falei
e nada, a senhora falou e nada, Pricila falou
e seus olhos a seguiram. Quando Priscila
proferiu o nome dela era como se seus olhos quisessem se aproximar dela.

- Está dizendo.. - Fernanda foi cortada pelo
doutor.

- A voz de Priscila é o estímulo que procuramos todos esses anos para Carol, Fernanda. - Priscila  piscou lentamente, tentando processar o que acabara de escutar. Como raios seu dia se tornou tão louco?

Em um piscar de olhos - CapriOnde histórias criam vida. Descubra agora