capítulo 4

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  O barulho da chave girando na porta fez
Vanessa saltar de cima do sofá e esconder seus seios e seu sexo com a almofada. A morena ao seu lado fez exatamente a mesma coisa, no entanto, Pricila ainda assim foi capaz de ver algo antes do total cobrimento dos corpos.

- Vanessa, de novo? - Pricila reclamou chateada.

- Eu pensei que não viria mais, já viu que
horas são? Quase oito da manhã. Achei
que finalmente tivesse aceitado sair com a Elana e que dormiria com ela lá.

- O quê? - Pricila perguntou inconformada.
- Eu nem vi aquela garota. Onde estão os
garotos, afinal?

- Allan já foi para a faculdade e o Luccas foi fumar maconha com alguma garota que eu não lembro o nome. - Pricila assentiu e coçou os olhos.

- Certo. Podem continuar então, vou subir,
tomar banho e dormir umas duas horas. -
Ela disse, indo rumo às escadas de madeira
invernizada.

- Onde estava, afinal, se não estava com
Elana? - Clara perguntou não se aguentando de curiosidade.

- Aconteceu algo bizarro ontem e por alguma razão uma garota que estava em coma havia quatorze anos respondeu à minha voz.

- Quatorze anos? Ela está bem? Fala ou
anda? Tudo isso de tempo não era para ter
comprometido seu cérebro? - Vanessa perguntou surpresa.

- Como chegou a encontrar um caso assim?
Pensei que fosse da fisioterapia. - Clara
concluiu.

- E sou. - Pricila respondeu. - E sobre
as perguntas de Vanessa.. Bem, ela fala
normalmente, o resto ainda não sabemos.
Ela deve passar por uma bateria de exames
exaustivos, coitada. - Pricila disse em um
suspiro. - De qualquer forma, vou ir uns
trinta minutos mais cedo para visitá-la -
Disse, dando de ombros. - Bom sexo para
vocês.

- Obrigada. - Disseram em uníssono e Pricila  subiu as escadas correndo.

Tomou um banho não tão demorado, pois
sentia suas pálpebras pesarem, no entanto,
quando finalmente se deitou em sua cama
seus olhos não se fecharam. Seu cérebro
não permitia; ele ficava enviando imagens do sorriso de Carolyna e lembranças do elogio sobre os olhos de Pricila.

Ela não fez muita coisa após aquele elogio,
pois o médico insistiu para que ela saísse
da sala junto com Fernanda, pois precisava
realizar uma série de exames. Antes de sair,
Fernanda ouviu o "mamãe?" E caiu em um choro intenso antes de abraçar sua filha e prometer voltar logo.

Pricila se recebeu na cama e fechou seus olhos forçadamente, porém aquele sorriso voltou a invadir seus pensamentos. Pricila bufou irritada e se cobriu, mas, segundos antes de dormir, a delicada voz de Carolyna voltou a pronunciar:

"Os seus olhos também são lindos."

Esse era o maldito problema em nunca
receber elogios de mulheres tão lindas:
Quando recebia não era tão fácil de esquecer. Tentou evitar, mas um sorrisinho bobo enfeitou seus lábios antes de finalmente pregar os olhos.

[...]

O corpo da garota estava quebrado; ela não
deveria sequer ter dormido, pensou, pois se
sentia muito pior. Nos olhos havia pingado
colírio, já que ardiam intensamente. Seus pés correram o mais depressa possível para dar tempo de visitar Carolyna.

Assim que chegou na porta a qual ansiava,
deixou três batidas suaves na mesma, que
logo foi aberta por Fernanda. A mulher avançou em Pricila assim que a viu, envolvendo suas mãos ao redor do pescoço da garota e a abraçando forte.

- Eu jamais serei capaz de agradecer
o suficiente, querida. - Fernanda disse
emocionada, fazendo Pricila sorrir.

- Não me agradeça, senhora Borges, eu não fiz nada. Foi tudo mérito único e exclusivamente de Carol. - Pricila disse sentindo a mulher lhe soltar e enxugar uma lágrima solitária. - Como ela está?

- Perfeita. - A mulher disse dando espaço para Pricila entrar no quarto. - O médico disse que ela terá que ficar uns dias em observação e terá que passar por fisioterapia, pois ela está há muito tempo em desuso dos músculos e dos ossos. - Fernanda explicou, vendo Pricila  sorrir e acenar para Carolyna, que sorriu de
volta. - O cérebro dela também é acostumado a carregar um corpo de seis anos, então ele mesmo pregará peças nela até entender que seu corpo já é adulto.

- Mamãe.. - Carol chamou, fazendo a mulher se calar é pôr atenção em sua filha. - Ela voltou mesmo. - Carol disse sorrindo e se ajeitando mais na cama.

- Sim, querida. Eu disse que ela voltaria. -
Fernanda disse rindo de uma forma calorosa.

- Olá, Carol, sabem quem eu sou? - Pricila
perguntou, se aproximando da cama e,
consequentemente, de Carolyna.

- A moça dos olhos castanhos. - Pricila enrubesceu ante ao elogio. - Eu gosto de castanho.

- Bem, eu te trouxe caramelos, mas eu
conversei com seu médico antes de entrar
aqui e, infelizmente, ele disse que você terá
que passar por uma dieta rigorosa por alguns dias, sinto muito. - Carol fez uma careta antes de olhar seriamente para Pricila.

- Nem escondido? - Ela sussurrou após tampar a boca com uma das mãos para a sua mãe não ver, fazendo Pricila rir a plenos pulmões.

- Não seja assim, mocinha. Não é legal
trapacear nas regras quando se trata de nossa saúde, tudo bem? - Pricila disse e Carol  assentiu um pouco contrariada.

- Pricila, posso aproveitar que está aqui para ir ao banheiro? - Fernanda perguntou, vendo a moça assentir. Pobre Fernanda, deve estar exausta, pensou Pricila. Se ela não tivesse que ir para suas aulas práticas ela ficaria com Carol para a mulher tirar algumas horas para descansar.

- Mamãe disse que eu não sou neném. Que
agora eu já tenho vinte anos. - Carol disse
fitando com atenção as expressões de Pricila.

- Ela disse isso?

- Disse também, que eu sempre serei o neném dela, mas me explicou o que aconteceu. - Carol disse. - Parece o desenho do jacaré que queria comer o Pica-Pau.

- Ah, sim? - Pricila perguntou rindo. Ela
adorava aquele desenho em sua infância.

- Sim, só que invés de dormir por todo o
inverno eu dormi por vários. - Pricila assentiu, orgulhosa por Carolyna ter entendido.

- E suponho que sua fome esteja igual ao do
jacaré, uh? - Pricila perguntou rindo ao ouvir o estômago de Carol roncar. A menor acenou um pouco envergonhada e Pricila sorriu. - Já estava quase na hora de sua refeição. Vai comer tudo?

- Siiimm. - Carol disse animada e Pricila riu.

- Voltei, crianças. - Fernanda disse, sorrindo
abertamente. Rápida! Pensou Pricila. A
garota se permitiu fitá-la: Ainda aparentava cansada, porém aquela grande tristeza e falta de brilho em seus olhos já não existiam.

- Eu adoraria ficar mais, mas o dever me
chama. - Pricila disse entortando a boca e
Carol cruzou os braços.

- Ah não! - Protestou emburrada.

- Pricila tem coisas para fazer, meu amor.
Lembra-se do que conversamos? - Carol
assentiu ainda emburrada.

- No meu intervalo eu prometo passar aqui,
tudo bem?

- Falta muito para isso? - Carol perguntou.

- Umas quatro horas. - Pricila informou.

- Mamãe, quanto é isso? - Fernanda entortou a boca, como explicaria isso?

- São o mesmo que dois filmes da Disney, mais ou menos. - Pricila se apressou em dizer.

- Jura que vem?

- Juro. - Pricila respondeu.

De dedinho? - Carol questionou, esticando
seu dedo mindinho. Pricila a olhou e sorriu
genuinamente.

- De dedinho.

Em um piscar de olhos - CapriOnde histórias criam vida. Descubra agora