capítulo 25

5.2K 331 58
                                    

Os olhos castanhos estavam há quase um
minuto presos nos ferros a sua frente,
tentando assimilar o que Sarah dissera para que ela fizesse. Confiava em Pricila, contudo, seu verdadeiro medo estapeou-lhe bem na cara: E se não conseguisse?

- Que tal se tentarmos depois? - Carol
perguntou e Pricila riu suavemente.

- O que combinamos na virada de ano, uhm? - Perguntou, erguendo uma sobrancelha, mas jamais perdendo o sorriso.

- Que este ano eu andaria antes da primavera chegar. - Carol disse e Pricila assentiu.

- Exatamente. - Afirmou. - E para isso você
precisa começar a treinar na barra paralela. - Carol umedeceu os lábios pensativa antes de olhar para Pricila temorosa.

- E se eu não conseguir?

- Você vai. - Disse veemente. - Seus braços já
estão fortes para sustentar o seu peso, agora
precisamos trabalhar mais suas pernas.

- Por que meus braços estão bons e minhas
pernas não?

- Nossas pernas exigem mais força de
nós, você vai chegar lá. - Pricila insistiu
pacientemente. - Para irmos à piscina da sua casa em alguns meses quero que esteja boa, se não, eu não irei. - Impôs. Carol entortou a boca e olhou para a barra antes de voltar a olhar para Pricila.

- Sem Prica de maiô ou biquíni? - Perguntou
e Pricila segurou o riso.

- Sem Prica de maiô ou biquíni. - Disse
irredutivelmente, o que causou um longo
suspiro de Carol.

- Você vai me ensinar a nadar? - Carol era
esperta, queria negociar.

- Sim, mas precisa testar a barra.

- Se eu cair você não ri? - Pediu
envergonhada.

- Você não irá cair. Eu estarei bem atrás
de você, pronta para te segurar. - Pricila
informou e Carol tomou fôlego antes de
assentir.

- Tudo bem, me leve até ela. - Pediu. Queria, a todo custo, voltar a andar novamente; queria os passeios que Pricila lhe prometeu; queria ter a liberdade de tomar um banho sozinha; de poder subir a bendita escada sozinha; de poder se deitar por conta própria, pois apesar de ser algo que ela podia, sua mãe sempre a colocava para dormir.

Não que ela reclamasse, mas havia dias onde ela realmente queria estar sozinha. Aquele era um sentimento novo nos últimos dias, afinal sempre odiava ficar sozinha, porém ter as pessoas em cima dela o tempo inteiro estava começando a incomodar um pouco a menina, mas ela não diria nada a ninguém, não queria ser ingrata.

Pricila ajeitou a cadeira de rodas em frente à barra e estendeu os dois braços a ela, fazendo a menor segurar suas mãos. Aquele, de longe, era seu toque preferido: O de Carol. Havia se passado três semanas após o Natal, porém já sentia falta de Pricila dormindo ao seu lado, porque a verdade era que Pricila contava as melhores histórias, todavia, o que prendia a atenção de Carol era a voz eloquente de Pricila, cheia de vida, fazendo cada personagem ser compreendido perfeitamente.

- Pronta? - Pricila perguntou e Carol engoliu
em seco, mas mesmo assim assentiu. - No
três você vai fazer o que eu te disse, certo? -
Novamente Carol assentiu.

- Certo. - Carol disse se preparando.

- Um.. - Pricila começou a contagem, tentando transpassar segurança, porém seu interior estava aflito e ansioso. - Dois.. - Danda se aproximou um pouco mais, mal podia esperar por aquilo. - Três. - Disse por fim, vendo Carol tomar impulso e, com ajuda do leve puxão de Pricila, a garota ficou em pé.

Carol olhou para as próprias pernas
sentindo-se diferente, bem distinta do
que algum dia já se sentiu. Seus olhos
umedeceram e um enorme sorriso
preencheu-lhe o rosto, fazendo Pricila
acompanhar a expressão.

- Eu estou em pé, Prica.. - Carol disse ainda
incrédula. Sabia que não sairia andando
por aí, que ainda tinha um longo caminho
a percorrer.

Claro que sabia! Pricila já havia lhe explicado, mas o fato de conseguir
se sustentar sobre seu próprio peso era
magnífico e ela não podia medir a amplitude de seus sentimentos.
Pricila sorria diante da emoção no rosto
de Carol e de Fernanda, mas as borboletas
em seu estômago vieram lhe visitar assim
que Carol apertou mais suas mãos e a
puxou para mais perto. Seu rosto se abaixou alguns centímetros e seus olhos desceram, acompanhando seus cílios, apenas para encontrar as orbes castanhas fixadas em si, tão cintilantes quanto nunca. Priscila estava em uma espécie de transe, até ouvir Carol dizer algo novamente.

- Eu sou mais baixa que você. - Carol disse
sorrindo singelamente, fazendo Pricila engolir em seco devido à proximidade das duas.

Claro que ela não beijaria Carol ou
vice-versa, não ainda sequer trocado outro
selinho depois do primeiro e, mesmo que
tivessem, ela tinha a plena ciência de Danda  as vigiando. O que fazia Pricila sentir sua pressão baixa foi a sensação de Carol em pé tão perto; uma real e clara melhoria; um sinal de que as coisas não estavam estacadas.

- Sim, não é muito difícil ser mais baixa que
do que eu, sabe? Levando em conta que não sou baixa. - Pricila disse rindo suavemente, sentindo Carol agarrar mais em si como apoio.

- Eu sempre imaginei se eu seria mais baixa. - Carol disse sorrindo. - Você continua linda daqui.

Certo, ainda havia momentos onde Pricila
enrubescia fortemente ante aos elogios de
Carol. Eram elogios inocentes, mas que
faziam seu coração flutuar mesmo assim. Um pirrago de Danda fez Pricila corar ainda mais, focando no que realmente devia.

- Certo, vou para trás de você e te guiar. -
Pricila disse, segurando a cintura de Carol
e indo para trás dela. A maior empurrou
um pouco a cadeira para trás e se ajeitou no corpo da menor, tendo suas mãos segurando firmemente na pele de sua cintura. - Segure nas barras, anjo. - E assim a menina fez, levando suas mãos até as barras.

- Eu realmente sustento meu próprio corpo
com os braços. - Carol disse entusiasmada,
vendo que Pricila não era nada mais que um apoio.

- Agora quero que ande. - Pricila pediu.
- Aplique todo o peso que suas pernas
aguentarem, mas fique atenta aos braços, eles te segurarão quando as pernas não ajudarem.

- Você vai ficar aí, não é? - Carol perguntou.
- Mamãe, eu vou andar! - Exclamou com
entusiasmo.

- Vou ficar com você todo o tempo. - Pricila
disse, esperando Danda dar um beijo no rosto de sua filha por cima da barra antes de se afastar de novo.

Durante todo o tempo Carol fez todos os
exercícios sem reclamar, colocando o máximo empenho em tudo, mas houve uma hora que seu corpo estava extremamente cansado, que ela já não aguentava muito. Pricila soube ler seus movimentos, a colocando na cadeira novamente. Apesar da evidente exaustão, Carol parecia tão feliz que acabou por segurar a mão de Pricila e plantar um beijo sobre a delicada pele.

- Obrigada, Prica. - Agradeceu alegremente,
fazendo Pricila sorrir diante do gesto.

- Obrigada você por tentar. Agora preciso
continuar o trabalho, tenho mais alguns
pacientes. Nos vemos amanhã pela manhã.
- Pricila disse, pois já fazia parte de sua
rotina visitar Carol e Danda pela manhã. -
Fiquem com Deus. - Pricila disse, se inclinando para deixar um beijo no rosto de Carol, sem embargo, foi surpreendida quando a menina virou o rosto, fazendo seus lábios se encontrarem.

Pricila corou assim que se afastou e seus
olhos, automaticamente, foram para Danda. Será que a mulher pensava que sempre que elas ficavam sozinhas faziam isso? Céus, o embaraço a dominou completamente.

- Huh, eu.. - O riso calmo de Danda  contradizia o aparente constrangimento em
seu rosto.

- Vá, querida. Está tudo bem. - Danda disse e Pricila assentiu, segurando a mãe de Carol e depositando um beijo ali.

- Nos vemos, princesinha. - Disse sutilmente, vendo Carol assentir freneticamente.

- Até amanhã, Prica. - Carol disse, fazendo
Pricila sorrir antes de sair. Apesar do evidente embaraço, ela ainda assim podia sentir seus lábios formigando e seu coração agitado. Sem perceber um sorriso brincava em seus lábios.

Em um piscar de olhos - CapriOnde histórias criam vida. Descubra agora