💜Capítulo 1💜

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*2014

Eu consigo sentir aqueles olhos ferozes me encarando, quase sem piscar, esperando pacientemente que eu falhe para poder jogar na minha cara horas mais tarde. Mas não quero pensar sobre isso mesmo sentindo todos meus pelos se arrepiarem.

Eu danço por mim, não por ela. 

Por mais que minha mãe tenha me forçado a aprender balé assim que aprendi a andar percebi, com o tempo, que gosto do que faço e sou realmente boa. As horas de treino valem a pena quando ouço os aplausos vindo da plateia.

Termino a apresentação completamente ofegante e não sentindo meus pés por causa da sapatilha de ponta. Não ligo para a dor latejante em alguma área do meu corpo enquanto tenho dezenas de sorrisos em minha direção.

Principalmente dela.

Kang Mi-suk.

Passo pela coxia com o restante dos bailarinos murmurando sobre seus cansaços e que a apresentação foi muito boa, não me interesso muito em me juntar a qualquer conversa banal que logo iniciam, continuo caminhando em direção ao camarim. Quero me livrar dessa roupa apertada, a meia-calça está dentro da minha bunda há algum tempo e o collant está pinicando meu corpo me deixando bastante incomodada.

Sento na cadeira de madeira acolchoada ainda com a saia do espetáculo não me importando em amassá-la um pouco. Reparo meu rosto fixamente no espelho odiando cada detalhe dele.

Por baixo da maquiagem delicada e brilhante esconde minhas terríveis olheiras por passar mais tempo treinando do que dormindo, se deitei por mais de cinco horas todo dia esse mês é muito.

Minhas bochechas já foram naturalmente vermelhas e aparentavam vida, mas com o tempo elas foram se perdendo por causa da minha perda de peso. Não posso comer nada que saia da restrita dieta que minha mãe fez para mim.

Ela não é nutricionista, mas disse que se funcionou com ela, funcionará comigo.

Nunca gostei muito da minha aparência, desde criança precisei ouvir da minha mãe que eu precisava mudar para me encaixar nos padrões coreanos ou nunca conseguiria estrelar uma peça de balé, as pessoas não me levariam a sério se não as agradassem.

Estão foi o que fiz.

Mudei até ser considerada perfeita pelas pessoas ao meu redor, mas a única que pensa ao contrário sou eu.

Odeio me olhar nos espelhos e perceber a realidade. Sem a maquiagem, o cabelo perfeitamente arrumado e as roupas caras é como se eu fosse uma desconhecida para mim mesma. Não consigo aceitar que não sou o que os outros veem.

Retiro a pequena coroa que decorava o perfeito coque preso no alto da minha cabeça. Passaram tanto gel para que nenhum fio saísse do lugar que meu cabelo está tão duro quanto uma pedra, precisarei lavar umas duas vezes até tirar tudo.

Não demoro em tirar a maquiagem com demaquilante, minhas mãe não gosta de ficar muito tempo esperando e se eu não me apressar ela irá ligar e dizer que vai para o restaurante sem mim.

A ideia de ir direto para casa e me jogar na cama é tentadora, não irei negar, mas minha barriga roncou o espetáculo todo. Não como faz umas boas horas.

Evito me encarar para não deparar com os defeitos escondidos sob a maquiagem, sempre tento evitar para não desapontar a mim mesma.

Organizo a penteadeira e aproveito o vazio para me trocar de frente ao meu armário mesmo ao invés de ir para o banheiro. Tiro a saia primeiro ficando de collant e meia-calça, sento para poder descalçar as sapatilhas e não me surpreendo pelo que encontro.

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