💜Capítulo 39💜

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Não posso voltar para a casa da minha irmã neste estado, ela irá perceber facilmente que aconteceu alguma coisa e irá insistir até que eu conte, mas não consigo colocar em palavras agora tudo o que vi. Preciso acalmar minha mente e meu coração primeiro. 

Sigo para o centro da cidade, sem saber direito onde ir, sinto uma louca vontade de beber, apenas para o álcool tirar de mim esse desconforto todo. Preciso de algo que me faça esquecer, mas sei que decepcionarei não só minha irmã se encher a cara. 

Também ficarei decepcionada comigo por voltar com esse hábito. Preciso ser mais forte que a vontade de beber e a de fumar. 

Ainda tenho tempo antes da aula de hoje começar, então decido ir para o parque, mas quero ficar sozinha. Não sei como, mas ainda lembro o caminho da trilha que fazíamos quando mais novos. 

O caminho ficou mais estreito com o crescimento das árvores e plantas, e a grama está alta também, mas a vista continua sendo a coisa mais linda que já vi. 

Mesmo com os raios solares, o vento gélido arrepia meu corpo me fazendo sentir viva. Ele bate em meu rosto e leva embora as lágrimas que derrubo. 

Não tenho outro jeito de distrair minha mente, além de tirar os sapatos e começar a rodopiar em meio a grama, não tenho música e nem uma plateia, mas continuo me balançando. 

Faço uma pequena cena de Odette, a personagem que sempre sonhei em fazer, e que continuará sendo um sonho. Meu joelho lateja, mas sei que é apenas psicológico, eu devia ter sido mais forte anos atrás, talvez tivesse conseguido ser a bailarina que todos esperavam que eu fosse. 

Estico meus braços para o céu e dou várias piruetas no mesmo lugar, e só paro ao sentir algo em meus pés, olho para baixo com a respiração cansada e vejo que cortei o dedão em uma pedra pequena. 

Sorrio com a lembrança que invade meus olhos. 

Jungkook cuidou de mim naquela vez que me machuquei, usou a própria camiseta do uniforme para tirar o sangue e usou a água de sua garrafinha para limpar o corte. E fez questão de calçar meus tênis, fez tudo isso sem que eu pedisse a sua ajuda, mas eu não precisava falar, Jeon já estava pronto, porque ele sempre foi atencioso comigo. 

Agora que estou sozinha, calço os tênis com o corte ainda sangrando e me jogo na grama molhada da chuva de ontem a noite. Prometo a mim mesma que lavarei as roupas da minha irmã quando voltar. 

Mais uma lembrança toma conta de mim. 

Do nosso primeiro beijo, nesse mesmo lugar. 

O modo como me senti confortável para me deitar ao seu lado e deixá-lo me abraçar. Ou como fiquei assustada e até com raiva dele ter confessado seus sentimentos. 

Dou uma risada por lembrar em como sempre foi fácil para Jungkook falar sobre o que sente. A facilidade que ele tem e que falta em mim. 

Meu coração se aperta ao lembrar todos os nossos momentos, e deixo que essa sensação boa continue comigo ao invés de empurrá-la para o fundo do meu cérebro e fingir que o que vivemos não foi real. 

E por mais que todos os sentimentos antigos estejam surgindo, não posso me dar ao luxo de explorá-los por agora, não enquanto minha vida esteja essa bagunça. 

Jungkook cresceu e sua vida é normal agora, sua família está bem e ele não tem mais tanta preocupações como antigamente. Mas eu, continuo presa ao meu passado, me sinto aquele garota de dezessete anos ainda, preciso crescer e sozinha. 

Levo esse pensamento comigo enquanto caminho para a casa da minha irmã, a encontro sentada na mesa da cozinha, concentrada em costurar um suéter, os óculos apoiado na ponta do nariz. Parecendo uma senhora. 

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