22 | иιgнт'ѕ α∂νιcєѕ

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ꜱᴛᴇᴘʜᴀɴɴᴇ ꜱᴏᴀʀᴇꜱ ʙᴇᴀᴜᴄʜᴀᴍᴘ

ꜰʀɪᴅᴀʏ.

Sabia que após sair sem avisar ninguém, meus pais e meus amigos ficariam preocupados comigo, mas eu precisava pensar e colocar a cabeça no lugar.

Fui para a sacada, e assim que o vento gélido do inverno bateu contra meu rosto, agradeci mentalmente por estar devidamente agasalhada. Abraçando meus braços, fui até o parapeito e me encostei no mesmo, tendo a vista privilegiada de toda a cidade de Nova Iorque.

Pensei no que havia visto, cerca de alguns minutos antes de decidir sair do quarto do hotel.

Embora Esther tenha falado comigo sobre estar em um quase relacionamento com Arthur, e eu ter garantido para a mesma que estava tudo bem, não pude evitar sentir um leve aperto ao vê-los se beijando.

Sim, eu havia desistido de Arthur, todavia, era extremamente bizarro vê-lo seguindo em frente, enquanto eu estava trancada no mesmo lugar há bons meses.

E ainda tinha Enzo.

A convivência de um com a família do outro serviu para moldar nosso relacionamento atual, e o fato de que estávamos passando mais tempo juntos do que eu gostaria nos últimos tempos, foram um empurrão extra para eu perceber que também gostava dele.

Não sabia se era possível gostar de duas pessoas ao mesmo tempo, porém, sentia que não gostava de Arthur tanto assim. e que só recusava-me a aceitar que ele estava com outra pessoa, por ter sido o meu primeiro amor, desde que eu me entendia por gente.

— Não sabia que tinha companhia — virei para olhar para o lado.

Era um garoto, que aparentava ter quase a mesma idade de Michael, parecendo somente um pouco mais novo. Tinha uma estatura alta, porte físico típico de qualquer agente de campo, cabelos loiros, olhos castanhos levemente claros e maxilar marcado.

— Achei que estava sozinha, me desculpe — falei.

— Não tem problema. Só não imaginava que mais alguém pudesse estar, tipo, aqui, nesse lugar em específico — comentou, e assenti. — E então? O que uma linda agente faz aqui, á essa hora da noite?

— Como sabe que eu sou uma agente? — questionei. O garoto apenas riu.

— Pessoas comuns não estariam aqui, e agentes são mestres em encontrar locais escondidos — explicou. — Mas, você ainda não respondeu minha pergunta. O que faz aqui?

— Tentando ordenar os pensamentos, longe da função de missões e todas as burocracias que um agente precisa enfrentar. — Respondi. — E você? Tá escrito na sua testa que você não dorme bem há dias, e que está pensando muito no que não deveria.

— Agente médica? — deduziu, e assenti. — Uau, você é boa.

— Obrigada, mas você também não respondeu minha pergunta. — Afirmei. — O que aconteceu?

Ele ficou calado por alguns instantes, e não estava com pressa para que ele começasse a falar.

— Sabe a sensação de estar dividido entre fazer o que lhe mandam fazer, sem contestar, e entre fazer o que é certo, sem pensar duas vezes? — indagou, olhando para o horizonte à nossa frente.

— Nunca passei por esse dilema, mas entendo o que quer dizer — rebati. — Geralmente, as pessoas do nosso meio vão lhe aconselhar a seguir as ordens designadas.

— Pois é, mas caso eu escolha a primeira opção, pessoas vão sair machucadas, e algumas, até mortas — argumentou. — Estou devendo um favor para uma pessoa, e a única forma de ficarmos quites, é eu fazendo isso.

— Sinto muito em não poder ajudar — falei, realmente tocada pela situação. — Mas, se quer um conselho, faça o que seu coração orientar, e se você pode fazer algo para impedir que pessoas morram ou se machuquem, faça. Se estiver com medo das consequências, acredite que outras pessoas reconhecerão seu esforço e tomarão providências.

O agente assentiu, e permanecemos um tempo considerável em silêncio, nos sentindo confortáveis com a presença um do outro.

— E quanto á você?

— Quanto á mim o quê? — perguntei.

— O que aconteceu, que fez com que você tivesse que vir pra cá? — explicou.

— É algo bem bobo, comparando com a sua situação — ri sem humor, desviando meu olhar para o chão.

— Ah, que isso, não tô aqui pra julgar — assegurou para mim, com confiança no tom de voz.

— Tudo bem — suspirei. — Meu primeiro amor está namorando com uma das minhas amigas mais próximas, que sabe que eu gostava dele. Vi os dois se beijando, quando saí do banho, e mesmo que eu já tenha desistido e me conformado que não é recíproco, fiquei incomodada em vê-los.

— Saquei — disse.

— E, bom, eu estou gostando de um amigo próximo, e nesse caso, sei que é recíproco, mas não quero ficar dividida entre um ou outro. — Expliquei.

— Mas você não precisa ficar dividida. É mais simples do que parece — alegou.

— Como assim?

— Seguinte, você mesma disse que gostava desse cara que a sua amiga está namorando, ou seja, passado. Agora, há um cara que gosta de você e valoriza seus sentimentos, e você também gosta dele no mesmo nível, pelo menos eu acho. — Deu de ombros. — Conclusão, foca em quem gosta de você, não em quem não lhe dá a mínima. — Piscou, dando um sorriso discreto em seguida.

— Eu devia anotar esse conselho — brinquei. Meu celular começou a vibrar dentro do bolso do casaco, e já sabia que estava na hora de retornar ao quarto, ou meus pais, tios e amigos iriam enlouquecer á minha procura. — Já deu minha hora. Foi bom conversar com você.

Girei os calcanhares e caminhei em direção a porta de saída, que dava acesso a escadaria de volta para o corredor dos quartos.

— Hey! — o loiro me chamou, e virei para encará-lo. — Eu nem perguntei seu nome! — Disse um pouco mais alto por conta da distância.

— É Stephanne! — falei de volta. — E o seu?

— Muito prazer, Stephanne, meu nome é Harry!

— Foi muito bom te conhecer, Harry! — sorri, logo saindo definitivamente do cômodo aberto. 

[...]

𝐓𝐇𝐄 𝐍𝐄𝐖 𝐅𝐁𝐈Onde histórias criam vida. Descubra agora