40 | ℓοиg ѕτοяγ ѕнοяτ

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ᴍɪᴄʜᴀᴇʟ ᴘᴀʟɪᴡᴀʟ ᴍᴀʏ

ᴛᴡᴏ ᴅᴀʏs ʙᴇғᴏʀᴇ ʀᴜsᴄʜᴇʟ's ғᴜɴᴇʀᴀʟ.

Lembro exatamente do dia em que conheci todos os agentes do esquadrão secundário que eu liderava.

Apesar de não ter memórias de quando Bailey e Shivani me trouxeram da Itália, eu tinha viva a lembrança de quando estava me adaptando aos Estados Unidos.

Pelo que meus pais adotivos me contam, eu sabia pouquíssimas palavras em italiano, e quando aprendi o inglês, logo me ensinaram minha língua nativa por empatia, caso eu tivesse preferência por ela.

Estava recém aprendendo a ser alguém quando vi Enzo pela primeira vez, aos sete meses. Como toda criança na sua idade, possuía peso e um cabelo ralo de cor escura, bochechas cheias e o olhar idêntico ao de Sabina, mas com o sorriso de González.

Sem demorar muito, conheci Arthur, que era tão pequeno que cabia no antebraço de sua própria mãe, e era temperamental demais.

Dois meses depois, Ellyse. Meu pai foi me buscar em casa apressado, e quis entender a razão. Falava ao telefone com minha mãe, que disse que Hina estava com a filha nos braços. Perto das seis e meia, entramos no quarto e me aproximei instintivamente daquele pacote enrolado nos braços da agente Yoshihara.

— Vem conhecê-la, Mike. — Krystian me chamou, enquanto estava ao lado da esposa observando a filha.

Olhei para ela, dormindo. Algo aconteceu em mim, de forma que quis pegá-la no colo, mas não deixaram, apenas observar. Ellyse era quieta, os olhos mal abertos eram repuxados igual ao dos pais, e resmungava. Acariciei o braço dela com cuidado, e ela simplesmente parou.

— Serão bons amigos, hum? — Hina sorriu, apesar de estar cansada.

— Vamos deixar a tia Hina e a Ellyse descansarem, meu amor? — Shivani falou, atraindo a minha atenção. Lembro de assentir, e segui-la, sem antes dar um último olhar para a terceira criança que eu estava conhecendo em pouco tempo. — Quando elas voltarem para casa, podemos comprar flores para a tia Hina e a Lyse, o que você acha?

Concordei novamente, e saímos do quarto. As visitamos após alguns dias, levando um buquê de frésias e tulipas brancas.

Anos depois, todos nós começamos a brincar e formar um grupo, mas Ellyse sempre me desafiava sem razão alguma. Em corridas — mesmo sabendo que não possuía resistência —, em quedas de braço e até mesmo em luta livre.

Desenvolvemos algo tão forte e intenso que sequer sabíamos o que era, apenas sentíamos e vivíamos daquela rivalidade.

Isso até o dia em que lutamos no QG, e meu golpe em sua cabeça foi forte demais, lhe causando sequelas que, dois anos mais tarde, eu saberia que eram crônicas e para a vida inteira.

Me culpei por machucá-la, uma vez que possuía a necessidade de protegê-la e cuidá-la, mesmo que precisasse torná-la mais forte — só não daquela forma.

Desde esse incidente, algo em nós mudou, no péssimo sentido. Ela desprezava minha presença e autoridade, tal como eu detestava sua prepotência e ar de superioridade. Conhecia o potencial que ela possuía de ser uma agente mais capacitada que eu, mas não sabia se ela estava disposta a isso apenas por motivações egoístas, ou porque realmente queria ser capacitada para proteger o condado.

Tive minha dúvida sanada de um dos piores jeitos possíveis, quando a vi caindo no chão depois de levar um tiro no abdômen.

— Ellyse! — Berrei, correndo até ela. Yonta apontou na arma na minha direção mas não me importei, porque a única coisa que me importava era checar Wang.

Ao mesmo tempo, algo aconteceu entre Ruschel e Yonta, porque as duas estavam caídas e provavelmente mortas.

Levantei a cabeça de Ellyse, a chamando, mas não obtive nenhuma resposta. Os olhos estavam fechados, a pele pálida e o sangue dela me sujando.

Krystian apareceu em meu campo de visão, na intenção de ver a filha. Olhei para Michelle, que não estava longe.

Ela estava morta, com sangue ao seu redor, e com Yonta, quase a mesma coisa. Uma das nossas agentes morreu, e uma agente do meu esquadrão estava gravemente ferida, e eu não tinha certeza se Ellyse escaparia daquela vez.

— Precisamos levá-la para o hospital mais próximo, agora! — Krystian disse, mas Noah o barrou.

— Não podemos movimentar ela! — Noah advertiu. — Boozie, liga para uma ambulância! Michael, mantenha as pernas dela elevadas para o sangue circular! — Orientou, enquanto fazia a reanimação cardiopulmonar.

Peguei qualquer coisa que pudesse servir de apoio para ela, e mantive suas pernas elevadas em um ângulo de noventa graus, A blusa que ela usava estava encharcada de sangue, deixando em evidência o quanto de sangue ela estava perdendo.

— Liam, rasga um pedaço do seu uniforme e estanca o sangue dela, daquele jeito que eu ensinei! — O Urrea mais velho pediu, sem parar as massagens.

Liam rasgou a barra da camisa e com cuidado, passou seu braço por baixo do tronco de Ellyse, fazendo um nó forte em cima de onde saía o fluxo sanguíneo dela.

— Michael, reveza comigo! — Noah pediu, e apenas tirou as mãos dela quando eu cheguei perto para assumir seu lugar. — Usa seu peso nos braços, e precisa ser de cinco a seis centímetros de profundidade, cento e vinte compressões por minuto, e vou te orientar para quando precisar respiração boca a boca. Você consegue!

Fiz exatamente como ele mandou, e os minutos sucedentes passaram como uma tortura. Quando o pai dos gêmeos pediu, inclinei a cabeça de Ellyse para trás, tampei seu nariz e encostei minha boca na dela, que estava entreaberta. Respirei pelo nariz e soltei o ar em sua boca durante um segundo inteiro, até o peito dela subir e eu retomar as massagens cardíacas.

— Mantém assim, Paliwal! — Ele me incentivou. — As sirenes da ambulância estão perto!

Os minutos sucedentes foram agonizantes até a chegada de socorro, e quando abriram a porta do terraço, estavam com uma maca. Pediram para que me afastasse de Ellyse e a pegaram, colocando cuidadosamente na maca.

Krystian e Hina foram com ela dentro da ambulância, e todos nós descemos atrás, mas cada um dentro de seu carro e uma porcentagem de nós, dentro da vã onde viemos.

Na vã, Sabina havia assumido o volante e dirigiu rapidamente até o hospital mais próximo dali, enquanto ninguém dava uma palavra dentro do automóvel. Quando chegamos, nos avisaram que ela teria que passar por uma cirurgia às pressas, e que não poderiam garantir sua sobrevivência devido a perda de sangue, mas que as massagens cardíacas e o estancamento aumentaram as chances.

— Caso a Ellyse não saia ilesa dessa, atira em mim. Eu deveria tê-la protegido quando a Yonta levantou a arma para ela. — Comentou Any para Hina. — O Wang disse que se eu não tivesse a Stephanne de volta, eu poderia atirar nele. É justo que um de vocês dois faça isso comigo.

— Não foi culpa sua, Any. — Hina disse, com a voz embargada. — Ela estava sem colete, foi um descuido dela, mas nem mesmo ela tem culpa disso ter acontecido. A Yonta já está morta, e a Ellyse vai sair dessa.

Três horas depois, o cirurgião geral apareceu na sala de espera. Éramos os únicos presentes naquele perímetro, e todos os médicos que passavam por nós, nos cumprimentavam ou abaixavam a cabeça em respeito.

— A paciente foi encaminhada para a sala de recuperação e ainda está inconsciente. Retiramos a bala e colocamos um dreno na cavidade abdominal dela, para a remoção de fluidos excessivos durante a cicatrização. — Ele informou, e o alívio foi coletivo e instantâneo. — Nenhum dos órgãos ou vasos sanguíneos dela foram severamente atingidos, e vamos garantir que ela tenha uma excelente recuperação. Os primeiros socorros prestados por vocês foram de suma importância para ela estar viva agora.

— Quando ela poderá receber visita? — Perguntei imediatamente.

— Após quarenta e oito horas, caso ela tenha um bom resultado de recuperação. — Respondeu. — O ideal é que ela receba visitas quando for transferida para Los Angeles, que garante mais estabilidade.

E para encurtar a história, ela sobreviveu.

[...] 

𝐓𝐇𝐄 𝐍𝐄𝐖 𝐅𝐁𝐈Onde histórias criam vida. Descubra agora