Capítulo 7 - Irresponsável

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POV LUIZA:

Valentina falava toda concentrada sobre uma nova ideia para o trabalho, eu vejo sua empolgação e acabo me perdendo em meus pensamentos.

Até que não era tão insuportável assim ter sua companhia durante esse trabalho, e não dava para acreditar que o maior sonho dela era ser mãe, logo ela que tem cara de ser aquelas pessoas que quer viajar o mundo com a sua moto, indo em todas as festas possíveis e curtindo a vida adoidado sem se preocupar com o dia de amanhã.
Será que eu estava tão errada assim a seu respeito?
- Luiza? - ela me chamou quando percebeu que eu estava longe.
Luiza : Oi.

Valentina: Você tá me ouvindo? O que foi? Parece distante...

Luiza: Nada não.
Valentina: Ah não me vem com essa, vai fala! O que está pensando?
Luiza: É que eu só fiquei surpresa em descobrir que o seu maior sonho é ser mãe,
te acho tão irresponsável que chega até ser inacreditável isso. Não te imagino sendo mãe nem de cachorro, quanto mais de uma criança! -  
Dou risada, mas logo engulo seco ao olhar pra Valentina e ver sua expressão que mudou completamente.
Valentina ficou em completo silêncio, parece que o olhar dela tinha perdido o brilho, era uma mistura de decepção e tristeza.

Luiza: O que foi?

Valentina: Nada...bom eu acho que já adiantamos bastante coisa por hoje, depois continuamos.- Ela começa a arrumar suas coisas.

Luiza: Valentina, eu disse algo que você não gostou?

Valentina: Não, eu só preciso ir.

Sinceramente não consegui decifrar sua expressão, era uma mistura de nervosismo junto com pressa, ela fechou seu notebook rapidamente, juntou suas coisas guardando tudo na mochila e saiu apressada.
Eu pensei em ir atrás dela, mas ao mesmo tempo deixei pra lá, não sei aonde foi que eu errei, eu sempre deixei claro que acho ela irresponsável isso não deveria nem ser uma ofensa pra ela partindo de mim.

Reviso o que alinhamos do trabalho hoje, acho que apenas mais um encontro é suficiente para terminarmos. Logo depois arrumo minhas coisas, a cena da Valentina saindo atordoada do café não sai da minha cabeça. - O que será que deu nela?

POV VALENTINA:

Saio andando sem nem olhar pra trás, subo em minha moto e nem sabia qual rumo tomar, apenas saí dirigindo sentindo as lagrimas caírem pelo meus rosto que estava dentro do capacete.

Não foi pelo o que a Luiza falou, ou como falou, é porque ela não era a única a achar isso. Porque as pessoas duvidam tanto de mim? Porque elas acham que eu não seria capaz de ser mãe? Sim esse é o meu maior sonho, e além de tudo eu sinto que nasci pra isso. Ainda em meus pensamentos me vem em mente palavras que me machucaram profundamente vindas da minha própria mãe. Lembro exatamente do dia em que saí do armário assumindo de vez que eu gostava de garotas, primeiro ela me lançou aquele olhar de reprovação e confesso que eu já esperava isso dela. E depois a primeira coisa que ela me disse foi. "Então já pode começar a esquecer esse seu sonho de ser mãe, isso jamais vai acontecer" e ali iniciamos nossa discussão. Diferente do que acham, eu sempre fui a filha certinha que seguia a risca as coisas ditadas pelos pais, faço essa faculdade de direito mesmo odiando, só porque é o querem que eu faça, mas minha mãe sempre deixa estampado em sua cara como nunca está satisfeita com nada que eu faço, diferente de Igor que é o filho protegido, intocável o exemplo de ser humano pra ela. Mas agora eu tenho sim dado uns motivos pra ela poder falar com razão, ando me cansando de tudo e todos e espero cada vez mais conseguir seguir com a minha própria vida. Mas eu sei que vai ser uma longa jornada.
Paro próximo a uma praça e desço pra me recompor e por as coisas no lugar, respiro fundo e começo a me acalmar, até que em meu olhar perdido avisto ela. - Luiza. Percebi que apenas dei voltas com a minha moto, mas praticamente não sai do lugar, pego o meu outro capacete e caminho até ela.

- Psiu...quer uma carona? - Estico a mão direcionando o capacete.
Era impressionante como o universo dava um jeito de fazer com que eu lhe ofereça uma carona.

Luiza: O que faz por aqui?
- Sabe que eu não sei? Quando eu vi tava aqui, acho que é o destino me colocando no teu caminho. - Dou risada.

Luiza: Aí Valentina. - Vejo ela revirar os olhos, já falei que amo ver ela bravinha apenas com uma frase que eu falo?

- É sério! Agora vem eu te levo pra casa.
- Esticou de novo o capacete pra ela pegar.

Luiza: Não precisa, eu não estou indo pra casa, to indo pro estúdio tenho aula de Bachata agora, e mesmo se fosse pra casa, é perto daqui consigo ir andando!

- Ótimo, então te dou uma carona até o estúdio.
- Estico mais uma vez o capacete pra ela pegar.
Luiza: Você me vence pelo cansaço sabia? - Ela toma o capacete da minha mão bufando.


Dessa vez Luiza não se segurou em mim ao subir na moto, lamentei muito por isso.
De fato o estúdio era bem perto e logo chegamos, ela desceu me devolveu o capacete, agradeceu a carona e foi para a sua aula.

Fui direto para casa e me tranquei no meu quarto.

Já tinha anoitecido, e eu continuava trancada no meu quarto, abri minha mochila e fui conferir as fotos que tinha tirado da Luiza com as crianças na aula de ballet.
E tenho certeza que foram as fotos mais lindas que eu já tinha visto na minha vida, a cada clique meu coração transbordava, eu acho que nunca tinha sentido isso antes.

Eu sabia que a Luiza mexia comigo,  irritá-la foi a maneira errada que eu encontrei de me aproximar e ser notada, talvez não fosse a mais correta, mas era a que estava no meu alcance naquele momento.
A aproximação nesses últimos dias do trabalho me fez perceber que
quanto mais eu a conhecia, mais apaixonada eu ficava, e de certa forma esse sentimento estava sendo novo para mim.

Por mais que todo mundo ache que eu saio pegando geral, por esse meu jeito decidida, na verdade sempre fui muito tranquila, gostei de verdade apenas de uma garota da época do colégio. Claro, em algumas festas por conta da pressão da galera, beijava uma ou outra, mas não passava disso. Nunca apresentei alguém para os meus pais.

Eu sentia que com a Luiza era diferente, quando mais eu a conhecia, mais perto eu queria ficar, eu não sei onde isso vai me levar, e também sabia que a possibilidade dela me dar uma chance era zero, mas eu ia tentar me aproximar dela.
Então depois de ter passado o turbilhão de sentimentos que eu estava sentindo, peguei meu celular e mandei uma mensagem para ela:

Amanhã, acho que conseguimos finalizar, tem o domingo livre?
Te espero na minha casa às 14h00.
Localização

Acabei esquecendo que a Luiza mora longe, então digito outra mensagem:

Se quiser posso te pegar!

Acho que isso ficou estranho.

Te buscar com a minha moto para te dar uma carona até minha casa :P

VALU - SERIA ESSE O COMEÇO?Onde histórias criam vida. Descubra agora