Capítulo 3: Um italiano?

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Meu pai acompanhou eu e Gavin até o aeroporto. Fomos o mais silenciosos possíveis com nossa saída, porque não queríamos a presença indesejada de algum jornalista com uma câmara e a cabeça cheia de ideias idiotas. Não perguntei para o meu pai sobre Greta, mas ele saiu do apartando de Gavin e voltou logo depois, com duas malas minhas com tudo que eu havia pedido. Edward ainda estava me ligando, até eu perceber que a única coisa que precisava fazer era bloqueá-lo. Problema resolvido.

—Se algo der errado com o apartamento e vocês precisarem de um hotel, liguem pra mim que eu resolvo. —Meu pai murmurou, enquanto caminhávamos até a área de embarque. —Melhor o nome de vocês não ser usado por aí.

—Esse é o problema de termos ganhado quatro campeonatos de patinação artística. —Gavin passou as mãos nos cabelos ruivos, tombado a cabeça de lado. —Todo mundo fã de patinação no gelo conhece a gente.

—Tudo tem seus pós e contras. —Afirmei, me virando para dar um abraço de despedida no meu pai. —Vou sentir saudades.

—Se precisar de qualquer coisa, me avise, filha. Por favor, me avise. —Ele tocou meu rosto, dando um beijo na minha testa. —Quero o melhor pra você e quero te ver bem. Vou tentar dar um jeito na sua irmã. Isso... isso não é algo que ela deveria ter feito com você.

—Obrigada, pai. —Sorri pra ele, pegando minha bolsa e caminhando junto com Gavin até as portas duplas, dando tchau para Nova Iorque e olá para Aspen.

Se fosse antes, eu provavelmente diria para o meu pai não pegar tão pesado com Greta. Mas agora, acho que ela precisa mesmo de um puxão de orelha. Eu jamais faria algo assim com ela. Uma pena que não tenhamos os mesmos pensamentos, da mesma forma que temos a mesma aparência.

Afundei na poltrona do avião, pensando nos últimos acontecimentos. Não importava o que havia acontecido com Edward, Greta ou o que quer que fosse. Iria aproveitar essa viagem como se fossem férias de verdade. Iria superar tudo isso e voltar pra casa pronta pra ganhar mais um campeonato ao lado de Gavin.

—Lembra que uns meses atrás Natan disse que alguém tinha feito uma oferta pelo apartamento? —Gavin murmurou, enquanto digitava algo no celular.

—Lembro. Você disse que o cara ia comprar a sala do primeiro andar e queria o apartamento também. —Falei, jogando meu celular na parte mais funda da minha bolsa, para não olhar pra ele a viagem toda.

—Pois é, Natan acabou de me contar que o cara abriu uma padaria no andar de baixo. —Gavin soltou o celular, olhando pra mim com as sobrancelhas erguidas. —Pelo menos o café da manhã todo dia está garantido.

Soltei uma risada, balançando a cabeça negativamente.

[...]

Gavin estava empurrando o carrinho com as nossas malas, enquanto procurávamos por um cara de 50 anos, cabelos loiros e expressão ranzinza, entre as pessoas que aguardavam depois das portas de desembarque. Me encolhi dentro do casaco, sentindo que Aspen estava mais fria que Nova Iorque.

—Natan? —Gavin abriu um sorriso para o homem que estava aguardando, sentado em um dos bancos com os braços cruzados na frente do corpo. —Eu sou o Gavin. Nós falamos por telefone e...

—Sim, sim, eu sei quem é você. Não se preocupe. —Natan ficou de pé, pegando o carrinho com as malas para empurra-lo. —Tomei conta do apartamento do jeito que fui instruído durante esses anos e arrumei tudo pra chegada de vocês, como me pediu.

—Obrigada. Então, você conhecia a minha tia? —Gavin começou a conversar com Natan, enquanto ele nos guiava para fora do aeroporto, até o carro estacionado no meio da rua coberta de neve.

Fiquei em silêncio o caminho todo até o apartamento, enquanto observava a cidade. As luzes todas acesas. As estrelas pintando o céu. As montanhas brancas no horizonte noturno. Quando vi, o carro já estava parando na frente de um prédio de dois andares, onde a fachada era de uma padaria recém aberta e bem cuidada.

Desci do carro, sentindo o vento frio bater contra mim, enquanto Gavin e Natan tiravam as malas de dentro do carro. Encarei a fachada da padaria, percebendo que o lugar parecia acolhedor. Na verdade, Aspen toda era uma cidade que me trazia um ar acolhedor.

—Ah, deveriam tomar café aqui amanhã cedo. —Natan parou ao meu lado e encarou a padaria quando viu que eu a observava. —Um dos donos tem um café mais no centro da cidade e o outro, que dirigi a padaria, é um italiano.

—Um italiano? —Gavin indagou, sem deixar de transparecer o interesse.

—É. —Natan olhou pra ele com uma careta. —Tem namorada. Mas o irmão mais novo é solteiro, pelo que eu sei. São gentis e prestativos.

—Hm... —Gavin soltou uma risadinha, olhando pra mim com as sobrancelhas erguidas. —Já vi que vou amar essa cidade.

—Gavin, você tem 23 anos. Aquieta a bunda aí. Vai que o cara tem 15 anos. —Falei, fazendo ele soltar uma risada.

—Não custa sonhar. —Gavin deu de ombros, pegando as malas par subirmos pro apartamento.

A porta na lateral dava para uma pequena escada, que dava para um pequeno e estreito corredor com uma única porta. Natan entregou as chaves para Gavin, que abriu a porta, revelando um minúsculo apartamento. A sala era pequena, com um sofá e duas poltronas, na frente de uma lareira velha. A cozinha aberta estava bem ali, sem nenhuma mesa, apenas a bancada de dívida a sala da cozinha. O corredor dava para duas portas, um do quarto e a outra do banheiro.

—Aquilo na sala é um sofá cama? —Indaguei, encarando a cama de casal do quarto.

—Não, é só um sofá. —Natan entrou no quarto com Gavin. —Sua tia morava sozinha. Tudo aqui é bem simples.

—O apartamento é ótimo. —Gavin afirmou, parando ao meu lado e encarando a cama. Ele inclinou a cabeça na minha direção. —Eu não vou dormir no sofá.

Olhei pra ele, beliscando a ponta do meu nariz e soltando uma risada perversa.

—Se você roncar ou roubar minha coberta durante a noite, jogo você pra fora da cama. —Declarei, arrancando uma risada dele. —E você vai pagar o café na padaria amanhã cedo.



Continua...

Naquele inverno / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora