Mantive meus olhos fechados, aguardando que ele quebrasse o restante dos espaço que estava e me beijasse. Alfredo parecia tenso e ansioso, assim como eu, além de visivelmente nervoso. Tinha quase certeza que estava ouvindo o coração dele bater, assim como ele poderia ouvir o meu, disparado dentro do meu peito.
—Ei, onde vocês estão? —A voz de Pietro quebrou todo encanto do momento, fazendo Alfredo se afastar assustado. —Venham aqui, rápido! —Me sentei na neve ao lado de Alfredo, sentindo meu rosto pegando fogo quando Pietro apareceu no meio das árvores. —A gente viu um cervo do outro lado do lago.
Alfredo ficou de pé, estendendo a mão para me ajudar a levantar também. Corremos atrás de Pietro encontrando os outros no final da linha das árvores, onde um imenso lago congelado se abria. Do outro lado, olhando na nossa direção, tinha um cervo. Vincent estava tirando fotos dele, com uma câmera que eu nem vi que ele carregava. Mas não demorou muito para o cervo se assustar e disparar para dentro da floresta.
Olhei para Alfredo, que estava escordado em uma árvore ao lado de Hermione. Parecia estar pensando em tudo, menos no cervo que estava ali antes. Ele olhou na minha direção como se soubesse que estava sendo observado. Nossos olhos ficaram fixos um no outro, com a lembrança do quase beijo que havia acontecido. Meu coração estava martelando dentro do peito, enquanto eu me perguntava se teríamos outro momento como aquele.
Voltamos para o chalé, com todo mundo precisando se aquecer. Eu e Alfredo mantivemos distancia um do outro, como se fossemos nos queimar se chegássemos perto demais um do outro. Andei ao lado de Vincent, vendo-o mexer na câmera, ajustando alguma coisa.
—Por que você e a Rebeca não se dão bem? —Indaguei, chamando a atenção dele.
—Ah, é só que... sou filho do dono do jornal onde trabalhamos, ela acha que isso me da alguma vantagem. —Ele suspirou, dando de ombros. —E também, já tivemos muitas divergências em relação as matérias que o jornal publica. Nosso chefe colocou a gente pra trabalhar juntos pra tentar resolver isso, mas acho que só piorou.
—Mas você está aqui hoje. —Falei, fazendo ele rir e negar com a cabeça.
—Porque Ian gosta de mim e me convidou. Além disso, ele gosta de me usar pra provocar a Rebeca. —Ele sorriu, olhando na direção que a jornalista estava. —Só precisamos conversar, Grace. Mas ficamos atrasando isso, porque atirar provocações é bem mais interessante e divertido.
Isso me fez sorrir, porque Vincent não parecia odiar Rebeca ou ter qualquer sentimento negativo sobre ela. Apesar das alfinetadas, ele a olhava com respeito.
—Então, vocês fariam uma matéria sobre mim se pudessem? —Indaguei, vendo ele se voltar pra mim com os olhos arregalados.
—Sim, é claro... Quer dizer, você estaria disposta a conversar com a gente sobre sua vida e seu trabalho? —Questionou, parecendo subitamente animado só com a ideia.
—Bem... sim. —Falei, arrancando um sorriso enorme dele. —Hoje a noite?
—O que for melhor pra você, Grace. —Vincent afirmou, ajustando o óculos no rosto. —Um jornalista está sempre pronto.
Alfredo
Desci as escadas depois de ficar horas no banho. Não que eu precisasse e a natureza certamente reprovava meu gasto excessivo de água, mas eu queria um tempo sozinho, pensando no quase beijo que eu e Grace quase trocamos. Meu coração disparava só com a lembrança da proximidade dela e de como ela mostrou que desejava o beijo tanto quanto eu.
Eu tinha certeza que se e não estava apaixonada por ela, aquele beijo certamente faria o sentimento se solidificar dentro de mim. Grace não precisava de nada, só ser ela mesmo. E passar o dia todo com ela está sendo incrível e preocupante ao mesmo tempo. Sei que vou estar completamente perdido por ela quando esse final de semana acabar.
—Ah, cara, você demorou. —Gavin murmurou, se enfiando dentro de um casaco. —Nós estamos indo até a cachoeira congelada. Ian e Rebeca querem tirar umas fotos lá. —Ele acariciou a cabeça de Azeitona quando o cachorro passou por ele para se deitar perto da lareira, provavelmente porque estava com frio. —Grace foi dar uma volta. Talvez você queira ir chamar ela?
Inclinei a cabeça para o lado, abrindo um sorriso para Gavin quando entendi o que ele estava fazendo. Ele se despediu e saiu para encontrar os outros, enquanto eu vestia minhas botas e a jaqueta para ir encontrar Grace.
Sai da cabana e segui pela floresta, descendo a colina e olhando ao redor, procurando por qualquer sinal de Grace. O tempo parecia ainda mais frio do que quando chegamos ali e alguns flocos de neve caíam do céu, grudando no meu gorro. Enfiei as mãos no bolso e fiquei observando minha respiração fazer um vapor quando saía pelos meus lábios.
—Grace? —Chamei, umedecendo os lábios com a língua. —Grace?
—Eu estou aqui! —Exclamou, me guiando na direção do lago. Andei um pouco mais rápido até sair da linha das árvores, encontrando Grace com seus patins, deslizando pelo lago congelado. Isso fez meu coração contrair com uma sensação ruim. —Oi, você...
—Grace... —Engoli em seco, me aproximando da borda do lago, sem tirar os olhos dela. Grace parou no meio do lago, me encarando com as sobrancelhas erguidas. —Não sei se isso é uma boa ideia. A gente não sabe se o gelo está... —Grace soltou um grito quando o gelo rachou embaixo dela, arregalando os olhos na minha direção. —Grace, não se mexe!
—Alfredo? —Ela me olhou assustada, completamente imóvel, enquanto eu pisava na ponta do lago, voltando para trás quando o gelo rachou com o meu peso.
—Calma, vai ficar tudo bem. —Olhei pra ela, vendo seu rosto tão branco como a neve ao redor, enquanto seus olhos estavam vermelhos e cheios de lágrimas. —Vou tirar você dai, cupcake. Vai ficar tudo bem, não se preocupe. Só fique bem paradinha, está bem?
Ela balançou a cabeça, olhando para o gelo rachado embaixo de si. Olhei ao redor, procurando por qualquer coisa que pudesse me ajudar. Fui até as árvores, pegando o maior galho que encontrava e voltando para a margem do lago.
—Grace? —Ela olhou pra mim, com os lábios tremendo e o rosto assustado. —Vou tirar você dai. Preciso que faça o que eu pedir, está bem? Confia em mim? —Ela balançou a cabeça e eu me obriguei a sorrir, mesmo que meu coração estivesse quase se quebrando dentro do meu peito. —Tudo bem, preciso que se mova bem devagar e fique de joelhos.
Ela fez o que eu pedi, se agachado lentamente no gelo, que estralou embaixo dela. Minha mão começou a soar de nervosismo, enquanto eu me abaixava também e deslizava o galho pelo gelo na direção dela.
—Se mova bem devagar até conseguir segurar firme o galho com as duas mãos. —Falei, vendo ela fazer exatamente o que eu disse, engatinhando pelo gelo até o galho. Meu sangue gelou quando o gelo rachou mais ainda embaixo dela, fazendo Grace soltar um choramingo. —Você está indo bem, cupcake. Continua, vou estar aqui pra te segurar no final.
Grace se moveu, tão lentamente que meu coração chegou a doer. Então as mãos dela envolveram o galho e eu exalei aliviado. Segurei firme na minha ponta, assentindo pra que ela continuasse. Grace continuou a se mover, sem soltar o galho e sem desviar os olhos de mim.
—Você está indo tão bem, cupcake. —Afirmei, sorrindo pra ela. —Está tão perto.
Ela sorriu pra mim, com os lábios trêmulos e os olhos vermelhos. Estava apenas a alguns metros de mim agora e eu já podia sentir minhas mãos formigando para agarra-la e não a soltar mais. Mas então o gelo estralou, rachando sem para, fazendo os olhos de Grace se arregalarem mais ainda.
—GRACE! —O grito dela acompanhou o meu quando o gelo se quebrou e ela afundou na água.
Continua...
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Naquele inverno / Vol. 2
RomanceGrace Bailey tinha absolutamente tudo que alguém poderia desejar na vida. Um pai amoroso que a enchia de presentes, uma carreira em ascensão como patinadora, o amor incondicional do namorado e um melhor amigo que a apoiava até mesmo nas ideias mais...