Naquele inverno / Vol. 2

Capítulo 36: Eu sei quem você é.

Gavin realmente queria fazer compras, porque nos fez entrar em todas as lojas pelo caminho, saindo de lá com uma pilha de sacolas nas mãos. Hermione não parecia estar incomodada, na verdade ela parecia estar se divertindo.

—Vamos comer alguma coisa? —Gavin indagou, soltando um suspiro cansado. —Estou com fome.

—Acho uma ótima ideia. —Falei, sorrindo pra Hermione e enlaçando seu braço, enquanto caminhávamos na direção da praça de alimentação. —Viu, fazer compras é bom, não é?

—Com amigos, é sim. —Ela corou, mais abriu um sorriso.

—Vamos sair mais vezes. —Gavin afirmou, se virando pra olhar pra nós duas. —Se vocês se lembrarem de me chamar, é claro.

—Como se você não fosse aparecer mesmo sem ser chamado. —Retruquei, revirando meus olhos ao mesmo tempo que Gavin me mostrava a língua.

Achamos uma mesa pra nos sentarmos, enquanto Gavin soltava todas as sacolas ao lado, fazendo uma careta para o número de coisas que havia comprado. Enquanto ele pedia algo para comermos, eu e Hermione fomos para o banheiro.

Raio de sol — Como estão as minhas garotas?

Grace — Somos suas garotas agora?

Raio de sol — Sempre foram.
Hermione é minha melhor amiga e você, cupcake, minha futura namorada.

Meu coração deu um salto no peito ao ler aquilo, porque Alfredo era direto demais e nunca escondia o que estava pensando ou o que queria. E eu amava isso, porque era fácil demais lê-lo. Não nós conhecíamos nem a um mês, mas ele já parecia mais do que determinado a fazer isso evoluir pra um namoro.

Grace — Suas garotas estão bem.
Gavin apareceu aqui, então...

Raio de sol —Já sei que estão em boas mãos então.
Quer jantar lá em casa depois?

Respondi que sim, porque eu não ia perder a oportunidade de passar mais um tempo com ele. Ergui os olhos para o espelho do banheiro na minha frente, vendo Hermione sair de uma cabine e ir lavar as mãos. Uma mulher estava retocando o que quer que fosse na frente do espelho, na ponta oposta a minha, mas parou quando a viu, girando a cabeça na direção dela.

—Hermione? —Chamou, fazendo Hermione estagnar no lugar. Hermione se encolheu tanto que eu tive certeza que se pudesse ela teria sumido ali mesmo, enquanto a mulher comprimia os lábios. —Pietro está aqui com você?

—Não, eu vim com... —Hermione certamente ia indicar minha presença ali, mas a mulher a cortou com um aceno rude de cabeça.

—Não importa. Você pelo visto não entendeu da última vez. —A mulher prosseguiu, e eu a encarei com as sobrancelhas erguidas, percebendo algumas coisas semelhantes nela.

—O que? —Hermione fez uma careta, esfregando as bochechas coradas com as mãos. —Sinto muito pela sua briga com Pietro. Mas eu não tenho culpa de nada.

—Não tem? —Ela riu, se virando pra ela. —Você foi o motivo da briga, e não tem culpa de nada?

—Eu não fiz nada pra você. —Hermione hesitou e eu finalmente liguei os pontos de quem era a mulher. —Você nem sequer me conhece.

—Conheço o suficiente. —Afirmou, com um tom rude que me fez enfiar o celular na bolsa e me virar para as duas.

—Eu não quero discutir. Já estou indo embora. —Hermione se virou pra mim, parecendo alguém sendo pego fazendo alguma coisa errada.

—Faça o favor de pelo menos não ficar grávida. Não precisamos de mais como você na família. —Afirmou, fazendo Hermione se virar pra ela com os olhos arregalados e o rosto completamente vermelho.

—Dá licença? —Me aproximei das duas, já que a mulher parecia ignorar minha presença até aquele momento. —Perdão, eu acho que eu não entendi muito bem o que você acabou de dizer.

—Ah, eu... —A mulher parou, olhando pra mim por alguns segundos, como se estivesse se dando conta de algo. —Você é a Grace, não é? Eu soube que está saindo com meu filho. Estava ansiosa pra te conhecer. —Ela se aproximou, estendendo a mão pra mim. —Meu nome é Antonella. Sou a mãe do Alfredo.

—Eu sei quem você é. —Afirmei, ignorando a mão estendida dela, enquanto enlaçava o braço de Hermione, que estava encolhida e envergonhada. —E eu não estava nem um pouco ansiosa para conhecê-la. —Apertei o braço de Hermione, me sentindo um pouco irritada. —Não gostei do que disse a ela e como disse. Foi ofensivo e preconceituoso da sua parte.

—Olhe, não tenho preconceito com o que ela é. Não foi minha intenção...

—Esse é o tipo de coisa que pessoas preconceituosa dizem, logo depois de ofender alguém. —Retruquei, vendo ela enrugar os lábios e olhar pra Hermione. —Você a ofendeu, ofendeu o seu próprio filho, e sinceramente? Me ofendeu também.

—Você certamente não entende. —Ela disse, empinando o queixo como se não estivesse fazendo nada de errado.

—Está tudo bem, Grace. Vamos apenas embora. —Hermione pediu, parecendo desesperada para sair daquele lugar.

—Tudo bem. —Concordei, abrindo um sorriso pra ela. Tinha prometido a mim mesma que não a deixaria desconfortável. E se ela queria ir embora, nós iríamos naquele mesmo instante.

—Grace, espere! —A mãe de Alfredo se aproximou quando eu e Hermione nos dirigimos até a saída. —Escute, querida, você parece ser uma pessoa muito boa. Gostaria que fosse até a fazenda, conhecer o lugar e me conhecer melhor. Tenho certeza que podemos superar esse momento desconfortável.

—Ah, não. —Soltei uma risadinha, estalando a língua. —Certamente não vamos conseguir separar isso. E eu não quero conhecer você melhor. Pra falar a verdade, não quero estar nem no mesmo ambiente que a senhora. Se me der licença, eu e a Hermione estávamos tendo uma excelente tarde no shopping. Passar bem.

Saímos do banheiro em silêncio e eu só percebi o quanto o ar estava pesado quando voltamos para a praça de alimentação. Hermione estava vermelha ainda, com os ombros caídos e os lábios tremendo como se quisesse chorar. Queria guardar ela em um potinho naquele momento, mas infelizmente não podia mudar o que aquela mulher havia dito pra ela.

—Hermione, eu sinto muito. —Falei, vendo ela se virar pra mim e abrir um sorriso fraco.

—Eu gostaria de ir pra casa agora, Grace. —Ela abriu um sorriso fraco, parecendo forçado e dolorido. —E eu quero pedir, por favor, que não conte o que aconteceu aqui a Pietro.

Continua...