Me levantei e coloquei a roupa que Alfredo tinha mostrado, que provavelmente também pertencia a Hermione. Tentei ajeitar meus cabelos desgrenhados, saindo do quarto em busca do banheiro. Abri a primeira porta do corredor, andando para trás quando entrei em um quarto que tinha as paredes completamente cobertas com post-its.
Virei a volta e fechei a porta, indo até a outra e finalmente achando o banheiro. Me tranquei lá dentro, me escorando na porta e escondendo meu rosto entre as mãos. Não me lembrava do que havia acontecido ontem a noite e tinha medo de ter feito ou falado alguma merda.
Enquanto tentava lembrar, passei uma água no rosto e ajeitei meus cabelos, querendo atrasar o encontro inevitável com Alfredo. Não sei quanto tempo fiquei no banheiro, repassando a noite de ontem até minha mente virar um borrão.
—Grace? —Olhei para a porta quando Alfredo deu duas batidinhas. —Está tudo bem? Você não morreu aí dentro, não, né?
—Eu tô bem. Já vou sair. —Falei, sentindo meu coração disparar dentro do peito.
Escutei os passos dele se afastando e o latido inconfundível de Azeitona, o labrador preto de Hermione. Respirei fundo e puxei meu celular, vendo que haviam mensagens de Gavin perguntando se estava tudo bem e falando que estava na casa de Ian. Respondi o básico e finamente sai do banheiro, percorrendo o corredor até a sala.
—Ah, finalmente. Achei que estava se escondendo de mim. —Alfredo murmurou, sorrindo ao colocar algumas panquecas em um prato sobre a bancada. —Com fome?
—Seu irmão e a Hermione já foram? —Indaguei, percebendo que só estávamos nos dois ali e o cachorro com a cara enfiada no pote de ração.
—Já sim. —Ele indicou a banqueta e eu fui até ela e me sentei, vendo ele arrastar o prato e uma xícara de café fumegante pra minha frente. —Come tudo, você bebeu demais ontem.
—Tá bom, papai. —Falei, fazendo o sorriso no rosto dele aumentar.
Alfredo foi até a lava louça e colocou algumas coisas lá dentro, enquanto me dava espaço para comer. Tirei um pedaço da panqueca e enfiei na boca, ponderando como falaria sobre o assunto enquanto mastigava.
—O que eu fiz ou falei ontem? —Indaguei, com meu rosto ficando quente quando Alfredo se virou pra mim e ergueu as sobrancelhas. Ele passou a mão pelos cabelos, caminhando até puxar uma das banquetas e se sentar do outro lado na minha frente.
—Falou milhares de coisas que não faziam o menor sentido. —Comentou, parecendo pensativo, antes de me encarar. —Uma delas foi que não queria que a Rebeca fizesse uma matéria sobre você.
Me encolhi na cadeira, querendo sumir.
—O que mais? —Gesticulei para ele prosseguir, percebendo que Alfredo estava hesitante em falar.
—Porque não queria ser chifruda nas redes sociais. —Completou, muito lentamente. —Não é da minha conta, mas isso tem a ver com o relacionamento ruim que você citou na loja?
—É, tem a ver sim. —Soltei uma respiração pesada, esfregando minha testa. —Você não... não pesquisou sobre mim na internet?
—Eu fiquei com vontade, mas não fiz isso. Não quero conhecer você pelo que as pessoas acham que sabem sobre você. —Afirmou, me fazendo erguer os olhos para encarar os dele. —Quero conhecer a verdadeira, Grace.
—A verdadeira Grace está morta de vergonha agora. —Ele sorriu e isso me fez morder o lábio, porque nada parecia afetá-lo.
—O que eu preciso fazer pra conseguir um encontro com você, Grace? —Questionou, umedecendo os lábios com a língua como se estivesse nervoso. —Só um encontro. Só isso. Se você não gostar, eu juro que nunca mais falo sobre isso com você. Mas me dá um encontro.
—Alfredo... —Soltei uma risada nervosa, encarando meu café, apenas para evitar olhar pra ele.
—Um encontro. Só isso que peço a você. —Ele tocou minha mão que estava sobre a bancada, fazendo meu coração disparar dentro do peito, pronto pra explodir. Olhei pra mão dele sobre a minha, enquanto seu polegar fazia círculos na minha pele. —O que eu preciso fazer pra conseguir isso?
—Tudo bem. —Soltei o ar com força, olhando pra ele. —Vá no meu treino hoje. Se você conseguir ficar até o final sem achar aquilo a coisa mais entediante do mundo, saio com você.
—Espera, então isso é um teste? —Ele ergueu as sobrancelhas. —Pra namorar um cara você primeiro quer ter certeza de que ele não vai achar o seu trabalho entediante e sim incrível?
—Namorar? Pensei que isso era sobre um encontro. —Retruquei, vendo ele soltar uma risada.
—Uma coisa leva a outra. —Ele piscou pra mim, se afastando dali com um sorriso imenso. —E eu já ganhei esse encontro.
—Você é sempre tão seguro de si? —Questionei, percebendo que o sorriso dele estava muito, muito grande.
—Não, só tenho certeza que não vou achar seu treino entediante. —Ele deu de ombros. —Fiquei um tempão vendo você dormir ontem a noite. Assistir um treino onde você vai estar deslizando pelo gelo deve ser melhor ainda.
—Psicopata! —Sibilei, arrancando uma gargalhada dele que reverberou por todo meu corpo. —E sim, isso é um teste. Não vou namorar alguém que nem ao menos gosta do que eu faço.
—Tem algo que você não goste em mim? —Ele se virou pra mim, cruzando os braços na frente do corpo enquanto erguia uma das sobrancelhas. —Que gostaria que fosse diferente?
—Tipo o que? —Cerrei os olhos. —Não me incomodo se você é um cara maluco que resolveu largar Harvard.
—Bom saber. Algumas pessoas costumam achar que eu fui expulso e não que larguei porque quis.
—Algumas pessoas são idiotas. —Afirmei.
Como minha irmã. Como Edward.
—Bem, vamos aos fatos. —Ele se escorou na bancada e sorriu pra mim. —Vou assistir o seu treino hoje, Grace. Vou amar cada segundo e então ganhar um encontro com você. E prometo, será o melhor encontro da sua vida.
Continua...
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Naquele inverno / Vol. 2
RomanceGrace Bailey tinha absolutamente tudo que alguém poderia desejar na vida. Um pai amoroso que a enchia de presentes, uma carreira em ascensão como patinadora, o amor incondicional do namorado e um melhor amigo que a apoiava até mesmo nas ideias mais...