Capítulo 1: Patinadora profissional.

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Não é uma história engraçada. Na verdade é um pouco trágica e vergonhosa. Eu estava namorando Edward McBride a três anos. Estávamos prestes a ficar noivos.

Então ele me traiu.

Com a minha irmã gêmea.

—Espera, o que foi que ele disse mesmo? —Gavin indagou, pelo que eu achava ser a centésima vez. Eu não sei. Só sei que ele já havia perguntado aquilo muitas vezes nos últimos dias.

—Que confundiu a Greta comigo. —Engoli o nó que se formou na minha garganta, que estava prestes a se tornar uma risada. —E que ela não desmentiu que não era eu.

—E porque isso é mentira? —Gavin deslizou com seus patins azuis para perto de mim, sentada com a bunda no gelo e expressão mais desprezível no rosto.

—Porque eu ouvi ele murmurar o nome dela, duas vezes, antes de enfiar a língua na garganta dela. —Falei, soltando um suspiro pesado, enquanto a cena rodava na minha mente como o pior filme possível. —Duas vezes.

Gavin fez um barulho de puro nojo com a boca, antes de puxar o cabelo ruivo para trás com força e então esfregar as bochechas sardenhas, tentando espantar algo muito ruim de si próprio. Talvez ele tivesse imaginado a cena. E percebeu que não era agradável. Não, não era nem um pouco agradável.

Isso aconteceu a três dias atrás quando eu estava indo pra casa pegar meu celular que eu havia esquecido no meu quarto. Eu e Greta ainda moramos com nosso pai, porque mesmo depois de sete anos, ele ainda parecia abalado demais com a morte da nossa mãe e não queríamos deixá-lo sozinho.

Mas então lá estava eu, entrando na garagem e dando de cara com Edward e Greta no maior amasso. Fiquei paralisada, então pensei que estava vendo coisas. Mas então ele disse o nome dela e murmurou algo super meloso, antes de beija-la. Um beijo que deixava claro que não era o primeiro. Então ele se afastou e murmurou o nome dela uma segunda vez. Então, não, ele não pensou que era eu. Ele sabia muito bem que boca estava beijando.

Quando eles perceberam que eu estava lá, fizeram uma cena digna de cinema, fingindo uma enorme confusão. Edward caiu de joelhos pedindo perdão e Greta chorou como uma verdadeira atriz. Foi terrível, vergonhoso e caótico de várias formas, porque eu dei meia volta e sumi de lá. Estou em escondendo na casa de Gavin desde então, evitando ligações e encontros desagradáveis.

Agora eu estou aqui, tentando absorver o que aconteceu. Porque, certo, muito namorados traem, o tempo todo. Eu só não estava esperando que isso envolvesse minha irmã gêmea. Eu e Greta nunca tivemos a melhor relação do mundo. 22 anos de pura comparação e competições de quem é a melhor e mais bonita. E não somos nós que começamos isso, foram nossos familiares e então os sites de fofocas.

Duas irmãs gêmeas. Uma patinadora profissional e a outra uma modelo de capa de revista. Qual das duas é mais bela? Qual das duas é mais famosa? Qual das duas tem mais fãs? Sinceramente, eu não sei. Mas quando vi, isso já estava embrenhado no nosso sangue, minando nossa relação de irmãs.

Não sei o que aconteceu com meu cérebro três dias atrás. Só sei que ainda não acredito que isso aconteceu. Se esconder parece a melhor opção, já que todos já estão começando a falar sobre eu e Edward. Fotos no Instagram questionando porque não fomos vistos mais juntos. Onde eu estaria, já que não fui vista mais em casa. O que estaria acontecendo entre nós dois. Se havíamos ficado noivos ou não.

Não quero dar entrevistas. Não quero falar com as pessoas sobre minha vida pessoal. Essa foi a parte que mais odiei de tudo isso. Adorava as pistas de gelo e minhas competições com Gavin. Mas odiava os holofotes que isso trazia junto. Até mesmo Gavin, que ama as redes sociais, está evitando isso pra não criarem mais histórias e teorias sobre mim.

Além de meu parceiro de patinação, ele era meu melhor amigo. Talvez se ele não fosse abertamente e oficialmente gay, eu me casasse com ele. Gavin certamente não é alguém que trairia o namorado com o irmão gêmeo.

—Grace, você está me ouvindo? —Gavin estalou os dedos na frente do meu rosto, me despertando dos meus devaneios. —Sei que está em choque ainda. Na verdade, adorei o jeito que reagiu a isso, sem fazer barraco nem nada. Mas precisa fazer algo a respeito logo. Não pode se esconder pra sempre.

—Está me expulsando da sua casa? —Fiquei de pé, recobrando meu equilíbrio sobre os patins, enquanto arregalava os olhos para Gavin.

Essa foi a primeira vez que aceitei sair do apartamento dele e vir treinar, porque não podíamos ficar parados por muito tempo. Mas voltar pra casa era outra coisa. Não queria olhar pra minha irmã. Ainda não estava pronta pra isso. Seria... confuso e estranho demais.

—É claro que não. Você pode vir morar comigo se quiser. Sabe que essa não é a questão. —Ele segurou minha mão, deslizando pelo gelo e me puxando junto, para que saíssemos dali. —Mas uma hora ou outra essa história vai vazar. Você quer que saibam a verdade ou uma história fantasiosa que sua irmã vai contar?

—Argh! —Chiei, ficando irritada. —Greta não seria louca de inventar algo.

—Ela é sim. Você sabe. —Ele arqueou as sobrancelhas, com os olhos verdes me avaliando. —E Edward é mil vezes pior. Agora você sabe disso.

—Onde eu tava com a cabeça, Gavin? —Me sentei no banco, começando a tirar meus patins. —Eu estava pensando em me casar com esse cara. Que merda eu ia fazer?

—Bem que eu achava ele perfeito demais. —Gavin suspirou, tão frustrado quanto eu. —O namorado das propagandas de tv. O cara que todos querem casar. É claro que alguma coisa tinha que ser errada com ele. O filho da mãe é um maldito duas caras, traidor, nojento, ba...

—Gavin, eu já entendi. —Murmurei, fazendo ele parar de falar e dar uma risadinha sem graça. —O pior é que eu pensei que amava ele.

—E não ama? —Ele me olhou, com os olhos virando duas bolas de gude verdes.

—Eu achava que sim. Agora não sei mais. Talvez eu tenha me apaixonado pela versão perfeita dele. Mas agora percebi que ela não existe. Então, o amor também não. —Encolhi meus ombros, olhando para a pista de gelo na minha frente. —O que eu faço agora, Gavin?

—Eu não sei. Mas vou ajudar você a descobrir. —Ele segurou minha mão, enquanto eu escorava minha bochecha no seu ombro. —E foi ele quem perdeu, Grace. Você vai ver só. Ainda vai conhecer alguém que vai deixar Edward McBride no chinelo.



Continua...

Naquele inverno / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora