Capítulo 12: Eu sou jornalista.

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Encarei a tela do celular, beliscando a ponta do nariz ao mesmo tempo que fazia uma careta ao ver as fotos que Greta havia tirado pra uma marca de roupas. Era estranho olhar para as fotos dela e ver eu mesma na aparência, mas pensar que somos completamente diferentes na personalidade.

—Mamãe estaria se revirando no túmulo se soubesse o que aconteceu. —Murmurei, esfregando minhas mãos no rosto, me sentindo cansada de tudo que está acontecendo. —Er... Gavin?

Ele parou, se virando pra mim. Estava de banho tomado, super bem vestido, enquanto arrumava os cabelos ruivos recém secados com um secador de cabelos.

—Onde você vai? —Indaguei, me perguntando se a piada sobre Alfredo tê-lo chamado pra sair era mesmo uma piada. —Vai mesmo sair com o Alfredo?

—Sim e não. Nós vamos sair, mas não em um encontro, não se preocupe. Ele vai me apresentar uns amigos dele. —Gavin abriu um sorriso maroto pra mim. —Estava esperando você sair dessa lamentação de ficar olhando as fotos da sua irmã pra te chamar pra ir junto.

—Ah! —Soltei uma risada nervosa, balançando a cabeça negativamente. O jantar de ontem já tinha sido encontro o suficiente com ele. —Não, obrigada. Pode ir se divertir.

—Qual é, vamos, Grace. —Gavin pediu, parando na minha frente e juntando as mãos na frente do peito como se estivesse implorando. —Sei que não está no clima, mas eu queria tanto que fosse. Por favor.

—Você só está querendo dar um de cupido. —Afirmei, balançando a cabeça em negação.

—Eu juro que não vou jogar você pra cima dele. Vamos lá, por favor. —Ele tocou meu rosto, me obrigando a encara-lo. —Não quero que você fique aqui se martirizando pelo que aconteceu, sendo que a culpa nem foi sua.

—Eu estou bem. Sei que a culpa não foi minha. —Sorri pra ele, dando um peteleco no seu nariz. —Pode ir, Gavin. Vou ficar bem.

Gavin insistiu, até finalmente decidir ir sem mim. Encarei o apartamento vazio, me sentindo a pessoa mais solitária do mundo. Então fui até a geladeira e peguei uma garrafa de vinho, pronta para afogar as mágoas.

[...]

Não gosto de stalkear as pessoas. Na verdade, nunca tinha feito isso na vida. Mas depois de me sentir completamente entediada enquanto estava jogada na cama, abri meu celular e pesquisei o nome de Alfredo no Instagram. Não demorei a encontrá-lo, porque o cara chamava a atenção em qualquer lugar que fosse, até em uma rede social.

Fotos de quando estava em Harvard. Fotos com o irmão e a Hermione. Fotos só dele. Sua coleção de discos de vinil. E pelo que parecia, ele era apaixonado por animais, já que haviam fotos com vários tipos de animais diferentes, principalmente em uma fazenda.

Soltei uma respiração pesada, saindo do perfil dele e soltando o celular. O melhor que eu fazia era não segui-lo. Mas agora a ideia de ir encontrar eles era muito tentadora. Joguei as cobertas para o lado e abri minha mala, tirando todas as minhas roupas e jogando sobre a cama. Depois fui até a outra e peguei todos os meus sapatos.

Grace — Qual o endereço?

Gavin — Sabia que você ia mudar de ideia, garota.
Quer que o príncipe encantado das trevas vá te buscar com um cavalo branco?

Grace — Manda o endereço, Gavin.
Vou te matar quando chegar aí.

[...]

Entrei no bar, ouvindo o som da minha sandália no chão a medida que eu andava pelo meio das pessoas que dançavam e das mesas onde as pessoas bebiam. Olhei ao redor, procurando pelos cabelos ruivos de Gavin, até encontrá-lo acenando pra mim. Ele estava sentado em uma mesa junto com Alfredo, uma mulher morena de cabelos curtos encaracolados e de um rapaz também moreno de cabelos curtos, que estava olhando pra Gavin atentamente.

—Ei, você veio. —Gavin sorriu inocentemente pra mim, puxando uma cadeira para que eu me sentasse entre ele e Alfredo.

—Gente, essa é a Grace, amiga do Gavin. —Alfredo indicou a mulher e depois o rapaz. —Grace, essa é a Rebeca e esse o Ian, ele é sócio do meu irmão.

—O dono do café. —Estendi a mão pra Ian, apertando sua mão e depois a de Rebeca.

—Eu mesmo, florzinha. —Ele sorriu pra mim, todo caloroso. —Você é a famosa Grace de quem Alfredo tanta fala sem parar.

—O que? —Olhei para Alfredo, enquanto me sentava, vendo ele sorrir e dar de ombros, sem se importar de ter sido entregue daquele jeito.

—Você é uma pessoa memorável, Grace. Não posso fazer nada quanto a isso. —Ele piscou pra mim, me deixando sem palavras por alguns segundos. Só então percebi que eles estavam com um baralho de uno.

—Vocês estão jogando uno em um bar? —Questionei, olhando pra eles.

—A ideia foi do Alfredo. —Rebeca murmurou, apontando pra ele.

—Eu não gosto tanto de beber. —Olhei pra ele, vendo o mesmo juntar as cartas. —A não ser vinho. Mas esses bares normalmente só tem vinho barato. E jogar é um bom passatempo.

—Vinho então? Um pouco exigente você. —Falei, vendo ele rir.

—Sou italiano, o que esperava? —Olhou pra mim com uma das sobrancelhas erguidas, antes de começar a distribuir as cartas. —Pensamos que não vinha.

—O que te fez mudar de ideia? —Gavin indagou logo em seguida, enquanto eu pegava minhas cartas e fazia uma careta

—Só estava cansada de ficar sozinha em casa. —Dei de ombros, deixando de lado a parte que eu stalkeei Alfredo nas redes sociais.

—Ian convidou a gente pra ir no café amanhã. —Gavin murmurou, me fazendo olhá-lo. Vi a expressão marota no rosto dele ao encarar o rapaz do outro lado da mesa. —O que eu achei uma excelente ideia.

—Por mim tudo bem. —Dei de ombros, não querendo atrapalhar o que quer que estivesse nos planos de Gavin.

—Eu costumo tomar café lá toda manhã. Hermione também fazia isso, antes de começar a namorar com o Pietro e ele abrir a padaria. —Rebeca disse, jogando a primeira carta e iniciando o jogo.

—O que você faz, Rebeca? Trabalha com o Ian? —Gavin indagou, jogando quando chegou a sua vez.

—Ah, não. —Ela riu, negando com a cabeça. —Eu sou jornalista.

Meu sorriso morreu, assim como o de Gavin.


Continua...

Naquele inverno / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora