Capítulo 15: Patinação artística.

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Gavin estava jogado no sofá com uma xícara de café quando cheguei, olhando para a tv com uma expressão de pura ressaca e sono. Olhei pra ele com as sobrancelhas erguidas, fechando a porta e chamando a sua atenção.

—Ei, olha só quem tá viva. —Gavin se ajeitou no sofá, batendo do seu lado do sofá para que eu me juntasse com ele. —Como foi a noite com o príncipe encantado das trevas?

—Você é o pior, sabia? Nem pra ficar lá até o final e me trazer pra casa. —Afirmei, me jogando no sofá ao lado dele. —A noite foi terrível. Bebi demais e falei o que não deveria.

—Tipo? —Gavin indagou, tirando um gole do café e fazendo uma careta ao tocar sua testa.

—Falei que eu não queria que a Rebeca fizesse uma matéria sobre mim porque não queria ser chifruda nas redes sociais. —Falei, soltando um grunhido quando Gavin caiu na gargalhada. —É sério, Gavin. Eu nem quis saber o que mais eu falei. Isso já era vergonhoso o suficiente.

—Acontece. Todo mundo fala merda quando bebe demais. —Ele bocejou, ficado de pé e olhando pra minha roupa. —Isso é da Hermione?

Abaixei meus olhos para o suéter rose que eu usava, junto com uma calça jeans clara com pinturas de flores nos bolsos na frente. Era a cara de Hermione. Eu nem precisava conhecê-la bem pra saber disso.

—É, eu peguei emprestado. —Olhei pra Gavin, mordendo o lábio. —Você dormiu na casa do Ian? Tipo, na primeira noite já?

—E? —Ele abriu um sorriso maroto, balançando a cabeça negativamente ao caminhar em direção ao quarto. —A vida é curta, Grace. Não vou ficar perdendo tempo quando eu sei o que vai rolar mais cedo ou mais tarde. —Ele parou e olhou pra mim por cima do ombro. —Deveria seguir o meu exemplo.

Mostrei a língua pra ele, me deitando no sofá com a cabeça pesada e confusa. Alfredo tinha certeza que iria ganhar esse encontro e eu tinha mais certeza ainda que meu namoro com Edward era uma grande ilusão de perfeição na minha cabeça.

[...]

Estava deslizando pelo gelo junto com Gavin, ensaiando os movimentos da nossa apresentação, quando vi a silhueta de Alfredo subindo as arquibancadas e se sentando para nós observar. Ele estava com o telefone no ouvido, o que me fez comprimir os lábios em reprovação, porque era o tipo de coisa que Edward sempre fazia.

Mas então eu desviei os olhos e balancei a cabeça negativamente. Eu não podia ficar comparando os dois pra saber quem faz o que. Eles não eram igual. Alfredo não era Edward. Voltei a me concentrar no treino, trocando algumas palavras ou outras com Gavin quando um movimento não saia da forma certa ou precisávamos mudar algo.

O celular de Gavin estava em um dos bancos na lateral, gravando todo o nosso treino para depois ele enviar pra nossa treinadora. Treinar longe dela não é a melhor opção e nem a ideia mais sensata. Mas estávamos dando o máximo de nós mesmos nesses treinos sozinhos.

As horas passaram como um borrão, enquanto eu começava a sentir o cansaço e meus pés doerem sobre o patins. Gavin me soltou depois de um giro comigo no ar, passando a mão na testa e olhando pra algo acima do meu ombro, onde Alfredo estava. Por mais que eu quisesse ignora-lo, tinha olhado pra ele a cada mínimo do treino. E depois que encerrou a ligação, Alfredo ficou com os olhos cravados no que eu e Gavin fazíamos, como se não existisse mais nada no mundo.

—Ele é determinado. —Gavin murmurou, jogando os cabelos ruivos pra trás e sorrindo. —Agora vai ter que sair com ele. Ele nem desviou os olhos de você.

—De nós dois. —Retruquei.

—De você. —Rebateu, inclinando o rosto na minha direção e dando um peteleco no meu nariz. —Vai lá falar com ele, eu sei que você está morrendo de vontade mesmo. Eu vou me enfiar dentro de um chuveiro.

Gavin desapareceu da pista de gelo mais rápido do que eu conseguia processar. Mordi o lábio e deslizei pelo gelo na direção que Alfredo tava, vendo ele descer das arquibancadas e ficar do lado de fora da pista. Sua expressão estava super neutra quando me aproximei, mas ele sorriu pra mim assim que parei na sua frente.

—Você veio mesmo. —Falei, fazendo o sorriso dele aumentar.

—Você me chamou. —Ele indicou a pista atrás de mim. —Você e o Gavin são muito bons. Acho que não conseguia fazer metade do que vocês fizeram aí dentro.

—Só precisa de um pouco de prática. —Dei de ombros, olhando para os patins nos meus pés. —Quer tentar?

—O que? Com você? —Ele riu, balançando a cabeça negativamente. —Adoraria, mas é uma péssima ideia.

—Por quê? —Indiquei a área que pegava os patins. —Vai lá, eu espero.

Ele olhou pra lá e depois pra mim de novo, parecendo hesitante. Mas então se afastou e correu até lá, pegando um par de patins e voltando pra onde eu estava. Observei Alfredo tirar os tênis e colocar os patins, entrando na pista de gelo com um equilíbrio perfeito.

—Já fez isso antes? —Indaguei, observando ele tentar repetir um dos giros de Gavin.

—Patinação artística não. —Ele se virou pra mim e riu, deslizando pelo gelo até parar na minha frente. —Pratiquei hóquei na faculdade.

—Sério? Eu sou apaixonada por hóquei. —Fiz uma careta. —Por quase tudo que envolve gelo, na verdade.

—Sério. Entrei pro time no meu primeiro ano. Já tinha praticado no colegial também. Mas a sério foi só na faculdade. —Ele começou a patinar e eu o segui lado a lado.

—Você largou o time depois que saiu da faculdade?

—Ah, não. Na verdade eu provavelmente teria continuado em Harvard se pudesse continuar jogando hóquei. —Ele indicou o joelho esquerdo, antes de olhar pra mim de novo. —Mas no meu primeiro jogo oficial com o time eu machuquei feio meu joelho. Um cara me jogou no chão e eu não sei o que aconteceu, mas quando eu caí meu joelho atingiu o gelo e... bem, você pode imaginar. Já era pra mim antes mesmo de começar de fato. Meu joelho se curou, mas eu não consigo ser mais rápido o suficiente com ele. Então eu caí fora.

—Sinto muito. —Sorri pra ele, sabendo que era terrível não poder fazer algo que você gosta muito.

—Tudo bem. Já foi. —Ele parou na minha frente, abrindo um sorriso enorme. —Mas agora, srta. Bailey, você me deve um encontro, porque eu assistiria todos os seus treinos se pudesse. —Ele gesticulou para a pista e piscou pra mim. —Isso aqui não é entediante, é a coisa mais fascinante do mundo ver você flutuando no gelo como se fizesse parte dele.




Continua...

Naquele inverno / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora