Alfredo
Estava sentado naquelas cadeiras duras e desconfortáveis da sala de espera no hospital. Grace estava sendo atendida fazia umas boas horas, mas o médico ainda não havia aparecido para nós dizer se ela estava bem. Gavin estava perto da janela, falando no celular com o pai dela. Não tinha certeza se ele viria até aqui, já que havia voltado pra Nova Iorque esses dias, levando a irmã de Grace junto.
Passei as mãos pelos meus cabelos, me sentindo um pouco frustrado pela demora. Não acho que ela tenha se machucado de forma tão grave. Ela não parecia ter batido a cabeça, mas não tínhamos certeza. Ela reclamou apenas do braço esquerdo. Mas ela também havia apagado antes que a ambulância chegasse. Não tinha certeza se isso significava alguma coisa ruim.
—Ele vai pegar um avião e vem pra cá. —Gavin se aproximou, se sentando na cadeira ao meu lado. Ainda estava com as roupas do treino, mas havia substituído os patins por um par de tênis.
—O que rolou de errado? Vocês estavam indo super bem. —Falei, me virando pra ele. Gavin deu de ombros, parecendo tão confuso quanto eu.
—Eu não sei. A gente estava em sincronia. Mas então eu a ergui e Grace deveria apenas ficar imóvel enquanto eu girava. Mas ela se mexeu do nada e eu perdi o equilíbrio. —Gavin se encolheu, agarrando os cabelos ruivos e os puxando para trás. —A culpa foi minha. Eu deveria ter segurado ela. Mas foi tudo tão rápido. Ela estava nas minhas mãos e no segundo seguinte estava caída no gelo.
—Ei, não pensa assim. A culpa não foi sua. Aposto que já derrubou ela milhares de vezes antes. Isso acontece. —Falei, tocando o ombro dele, já que Gavin parecia realmente culpado. —Ela vai ficar bem.
—Espero que sim. Não sou nada sem a Grace. Ela é minha parceira desde sempre. —Gavin suspirou, se ajeitando até estar com o rosto escondido entre as mãos.
Ergui os olhos quando o médico finalmente veio atrás de nós. Gavin e eu ficamos de pé em um segundo. Meu coração disparou dentro do peito e eu pensei que quem iria precisar ser atendido no final das contas era eu, pela demora dele.
—Vocês são da família? —Indagou, enquanto olhava a prancheta com as informações sobre Grace.
—Eu sou o namorado. —Falei, indicando Gavin. —Ele é o parceiro de patinação dela.
—Ela estava com você quando caiu, certo? —Ele olhou para Gavin, que assentiu.
—Eu expliquei pra uma das enfermeiras da ambulância o que tinha acontecido. —Gavin respondeu, engolindo em seco. —Ela está bem?
—Está sim. Por sorte ela aparenta não ter batido a cabeça e está tudo bem quanto a isso. Mas ela caiu sobre o braço esqueço, que amorteceu a quebra quando recebeu todo o choque do impacto. —Ele tirou os olhos da prancheta e nos encarou. —Ela torceu o punho e deslocou o ombro. Já colocamos no lugar, mas vai precisar ficar um tempo de molho.
—Quanto tempo até ela se recuperar? —Gavin indagou, parecendo preocupado.
—Varia de paciente pra paciente. Mas até estar 100%? De 1 a 6 meses. Vai depender inteiramente da paciente. —Afirmou, e eu vi Gavin arregalar os olhos. —Ela vai usar uma tipoia por enquanto, para o ombro não se mover. O punho não vai demorar a se curar, só precisa tomar cuidado também.
—A gente pode ver ela? —Indaguei, vendo ele assentir e indicar que o seguíssemos.
[...]
Grace estava dormindo quando entramos no quarto. O médico disse que depois de vários exames e remédios ela estava cansada e então dormiu. Estava usando um tipoia azul no braço e parecia bem. Mas vê-la na cama de um hospital não era nem um pouco divertido.
—E agora? —Gavin parou de um lado da cama e eu do outro. —Ela pode demorar 6 meses pra ficar 100%. Isso vai acabar com todos os nossos treinos e o próximo campeonato.
—Serio, Gavin? —Falei, soltando o ar com força.
—Não estou preocupado com uma medalha de ouro, Alfredo. Mas essa é a nossa carreira. Grace ama patinar. Sonhou com isso desde pequena. E eu posso ter estragado tudo por um descuido idiota. —Afirmou, esfregando as bochechas. —A culpa é toda minha se perdermos isso.
—Gavin?
—O que foi? —Ele olhou pra mim e viu minha expressão impaciente.
—Com todo respeito, só cale a boca. Você está nervoso e preocupado. Não está pensando direito agora. —Murmurei, abrindo um sorriso ao olhar pra Grace. Toquei a mão dela com cuidado, apertando seus dedos. —Ela vai melhorar rápido. Grace não faz o tipo que espera o tempo passar. Vai estar sobre os patins antes mesmo que você perceba.
Gavin ficou quieto, apenas olhando pra ela assim como eu. Poderia passar horas olhando Grace dormir e já havia feito isso várias vezes quando acordei primeiro que ela nos dias que ela dormia lá em casa. O que eram exatamente todos os dias desde que voltamos daquela cabana.
Meu celular tocou e eu atendi assim que vi o nome de Pietro, me afastando um pouco de Grace.
Pietro — Onde você está?
Alfredo — Que isso... calma, quem morreu?
Pietro — É sério, onde você está?
Alfredo — No hospital. Grace caiu no treino e deslocou o ombro. Estamos esperando ela acordar, mas está tudo bem... O que foi? Por que você parece nervoso?
Pietro — Tio Luigi acabou de sair aqui da padaria.
Alfredo — Ele veio pedir pra você fazer um empréstimo pra ele? Ou pediu dinheiro emprestado? Não faz nenhum dos dois, princeso. É serio, ele não pagou aquele da vovó ainda.
Meu irmão ficou em silêncio do outro lado da linha e eu ouvi a voz de Hermione murmurando algo que eu não entendi.
Alfredo — Ele não queria um empréstimo, né?
Pietro — Não. Ele veio avisar que nosso padrasto teve um infarto hoje de manhã.
Me encolhi ao ouvir aquilo. Eu morei um tempo com ele, mas nunca tivemos uma relação tão próxima assim. Mas mesmo assim, ainda tenho mais carinho por ele do que pela minha mãe.
Alfredo — Ah... nossa... parece que hoje é o dia de coisas ruins. Como ele está?
Pietro — Ele faleceu, Alfredo. Ele veio nos avisar porque... bem, você sabe o que o luto fez com a nossa mãe da última vez. Acho que não preciso dizer mais nada.
Continua...
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Naquele inverno / Vol. 2
RomanceGrace Bailey tinha absolutamente tudo que alguém poderia desejar na vida. Um pai amoroso que a enchia de presentes, uma carreira em ascensão como patinadora, o amor incondicional do namorado e um melhor amigo que a apoiava até mesmo nas ideias mais...