Capítulo 22: Ela não vem.

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Não consegui pensar direito no que estava acontecendo. Andei apressadamente pela rua, ignorando Gavin quando ele me chamou. Fui até uma banca de jornais perto de um restaurante, puxando uma revista e vendo que a capa era uma montagem de várias fotos minhas com Alfredo.

Nós dois chegando no restaurante, jantando, de mãos dadas enquanto conversávamos e sorriamos. E havia até mesmo fotos de quando estávamos no Burger King. Soltei a revista e peguei o jornal, folheando ele para encontrar uma matéria sobre nós dois também. Todas tinham praticamente a mesma pergunta, se eu havia terminado com Edward ou se estava o traindo.

—Grace? —Gavin chegou atrás de mim, arregalando os olhos ao ver as capas das revistas. —Puta merda!

—Quanto tempo você acha que vai demorar pra alguns jornalistas aparecerem querendo falar comigo? —Engoli em seco. —Ou quanto tempo vai levar para Edward saber disso e resolver dar uma entrevista?

—Grace... eu não sei. Mas vai ficar tudo bem. A gente sabe que você não estava traindo ele e que foi o contrário. Não tem que se preocupar com isso. —Ele enlaçou minha cintura, me puxando de volta pro carro. —Eu vou ligar pro seu pai e ver o que está acontecendo em Nova Iorque. Acho que você deveria falar com o Alfredo. Querendo ou não ele também está nisso agora.

Senti meu coração despencar dentro do peito. Alfredo não tinha nada a ver com isso, mas eu o havia arrastado para dentro disso da pior forma possível. Por mais que a culpa fosse cair em cima de mim, como sempre acontece com as mulheres, não queria ter trazido ele pro meio dessa confusão.

Gavin trancou o carro e voltamos pro apartamento em cima da padaria. Acho que a ideia da cabana já era. Pelo menos, eu não conseguia pensar em mais nada que envolvesse diversão e Grace no mesmo lugar.

Alfredo

A última coisa que eu queria ver era minha mãe. E pela expressão de Pietro, ele também não queria vê-la tão cedo. Nosso último encontro foi semanas atrás, quando ela deu uma de preconceituosa com Hermione e quase acabou com o namoro do meu irmão. Desde então eram só meias mensagens e nós dois ignorando qualquer contato com ela.

—O que você quer aqui, mãe? —Pietro indagou, se virando para terminar de abrir a porta.

—Eu vim conversar, é claro. —Murmurou, enrugando os lábios ao olhar para Azeitona. —Vocês não atendem minhas ligações e nem respondem minhas mensagens.

—Por que será, né, dona Antonella? —Sussurrei, esfregando minha testa quando ela me olhou com uma expressão azeda. —Estamos ocupados. Inclusive agora, temos que sair em alguns minutos e não temos tempo pra conversar.

—Ah eu percebi que estão ocupados. Principalmente você, não é? —Ela voltou pro carro, puxando uma revista que estava sobre o banco e jogando pra mim. Agarrei a mesma, fazendo uma careta ao ver que a capa eram várias fotos minhas com Grace, quando fomos jantar. —O que significa isso? Está saindo com uma mulher comprometida?

—Não que isso seja da sua conta, mãezinha... mas, não, não estou saindo com uma mulher comprometida. Grace não está mais namorando. —Afirmei, entregando a revista para que meu irmão visse. —Estamos nos conhecendo apenas.

—Que bom. Pelo menos você tem algum pingo de sensatez, diferente do seu irmão. —Afirmou, fazendo Pietro quase amaçar a revista entre as mãos.

—Se veio aqui ofender minha namorada, pode dar meia volta e desaparecer. Não preciso da sua opinião. —Pietro devolveu a revista pra ela. —Vou subir pra terminar de arrumar as coisas. Não demore, Alfredo.

Ele passou pela porta com Azeitona e a fechou com um baque que com certeza acordou o prédio todo.

—Parece ser uma boa moça. Bonita, conhecida e uma patinadora artística? Acho que gosto disso. —Murmurou, olhando para a revista. —Quero conhecê-la.

—Não! —Rebati, soltando uma risada e negando com a cabeça. —Não vou apresentar Grace a você. Não quero ela perto de toda essa negatividade que você emana. Quero que vá embora.

—Eu ainda sou sua mãe e exijo respeito! —Afirmou, comprimindo os lábios em reprovação.

—Estou te dando o mesmo respeito que você teve pela Hermione. —Olhei pra ela com as sobrancelhas erguidas, soltando uma risadinha. —Ou seja, zero, caso esteja com algum grau de Alzheimer.

Ela estalou a língua e balançou a cabeça em reprovação, apertando a revista contra o peito antes de olhar para o prédio atrás de mim.

—Quero que venha morar comigo. Já que largou a faculdade e está estudando a distância, pode fazer isso na fazenda. —Afirmou, umedecendo os lábios com a língua. —É melhor do que ficar morando com seu irmão.

—Melhor pra quem, exatamente? Que eu saiba, morei com ele a vida toda. E pelo que eu me lembre, você deixou claro que não me queria na fazenda quando eu disse que ia largar a faculdade. —Comentei, cruzando os braços na frente do corpo. —Parece que você está mesmo tendo Alzheimer. Deveria procurar um médico.

—Pare com isso! —Chiou, ficando vermelha. —Eu estou falando sério. Quero que venha morar comigo.

—Hm... bem, então a resposta é não. —Sorri gentilmente pra ela, abrindo a porta do prédio. —Sei porque está fazendo isso, mãe. Acha que me levar pra morar com você vai atingir Pietro de alguma forma. Não vai funcionar. —Olhei pra ela uma última vez. Não, eu com certeza não amava ela. Não havia nada para amar naquela mulher. —Entre ele e você, eu sempre vou escolher ele.

Fechei a porta na cara dela e subi as escadas, sentindo todo o ar dos meus pulmões evaporar e a tensão tomar contra de mim, deixando meus ombros rígidos como concreto.

[...]

Pietro estacionou o carro perto do final da cidade, observando que Gavin já estava lá com Ian. Soltei um suspiro de alívio ao ver que Rebeca ainda não estava ali. Não havia respondido as mensagens dela e também não sabia como Grace havia reagido as notícias sobre nós dois. Desci do carro na maior velocidade possível, querendo falar com Grace.

—Ei! —Pietro cumprimentou eles primeiro, enquanto eu percebia que só estavam os dois ali.

—Cade a Grace? —Indaguei, vendo que Grace não estava no carro.

—Ah... —Gavin suspirou, recebendo um olhar carinhoso de Ian. —Ela está chateada com as matérias que saíram, Alfredo. Tentei argumentar com ela, mas Grace não quis mais sair e me expulsou do apartamento. —Ele olhou pra mim com os ombros caídos. —Sinto muito, mas ela não vem.



Continua...

Naquele inverno / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora