Alfredo
Olhei para Pietro, vendo ele mexendo nas panelas sobre o fogão com uma expressão pensativa. Hermione estava abraçando ele por trás, enquanto o observava fazer tudo com a cabeça escorada no braço dele. Ela sempre fazia isso quando ele estava cozinhando, como se quisesse retribuir tudo que ele fazia com carinho. Ou ela só gostava se observá-lo cozinhando mesmo.
—Eles vem mesmo? —Indaguei, passando as mãos nos meus cabelos úmidos.
—Vem. —Pietro olhou pra mim com as sobrancelhas erguidas. —Gavin acabou de me mandar mensagem avisando que está tudo certo pro jantar.
—Isso! —Exclamei, dando um soco pro alto, arrancando uma risada de Hermione. —Vou escolher minha melhor roupa pra esse evento.
—Alfredo... —Pietro sorriu, esfregando a testa. —Lembra de ir com calma. Você já chamou ela pra sair e ela disse não.
—Ela disse que não podia, não que não queria. Ainda tenho uma luz no fim do túnel, princeso. —Afirmei, erguendo as sobrancelhas, vendo os dois sorrindo pra mim.
—Nem parece que semanas atrás estava dizendo que não queria se apaixonar. —Hermione comentou, erguendo os olhos para Pietro. —Eu tô achando tão fofo.
—Essas coisas não se escolhe, certo? Acontece. —Dei de ombros, soltando um suspiro ao me lembrar de Grace.
Não acho que seja amor à primeira vista. Tenho certeza que preciso conhecer ela pra de fato amá-la de verdade. Mas também não posso negar que aconteceu alguma coisa quando a olhei pela primeira vez. Uma ligação, uma química que não tive com qualquer outra pessoa. Eu simplesmente olhei pra ela e perdi a fala. Se não for ela, então eu não sei de mais nada.
Quero conhecer essa garota e quero que ela me conheça também. Quero saber se posso ter com ela a mesma coisa que Pietro tem com Hermione. Se ela envergonhada pelo que aconteceu, vou fazer de tudo pra que fique confortável comigo. E se ela teve um exemplo ruim de relacionamento, vou mostrar a ela que pode ser diferente. Mas pra isso, a gente precisa de um encontro. Precisa de mais do que encontros aleatórios em lojas de discos.
Entrei no quarto, abrindo meu armário e observando todas as minhas roupas. Não sou vaidoso, mas um momento como esse merece toda atenção. Comecei a tirar algumas peças e jogar na cama, procurando por qualquer coisa decente. Parei, puxando meu celular do bolso quando ele começou a vibrar.
Mãe — Precisamos conversar.
Me ligue quando puder.Parei de ler, apagando a tela do celular e esfregando as mãos no meu rosto. Haviam mais mensagens dela, mas eu não ia deixar minha mãe e seu senso de humor negativo estragarem minha noite. Havia um limite rígido ao qual eu e minha mãe tínhamos uma relação. E de uns tempos pra cá, ela tem passado desse limite demais. E eu acho que sei o motivo. E não quero fazer parte disso.
[...]
Grace estava me evitando. Tudo bem que eu nem conhecia ela direito, mas depois de conversar com ela na loja, podia perceber a diferença dela agora no jantar. E ela estava me evitando. Encarei meu prato, ponderando se havia feito alguma merda quando estávamos lá, mas não conseguia pensar em nada.
Grace parecia ter se divertido comigo. Quer dizer, ela sorriu várias vezes. Quase o tempo todo. E além do mais, ela deixou claro que não se incomodaria com a minha insistência. Ou eu fiz algo muito errado e não percebi, ou ela mudou de ideia.
—O que vocês fazem? —Pietro indagou, me tirando dos meus pensamentos. Olhei para Grace e Gavin, vendo eles hesitarem. Até então, o jantar estava indo perfeitamente bem.
—Somos patinadores. —Gavin falou, dando uma olhada em Grace. —Competimos profissionalmente juntos.
—Sério? —Olhei pra ela, que abriu um sorriso sem mostrar os dentes. —Não somos muito ligados a patinação. Já ganharam algum campeonato?
—Quatro vezes em primeiro lugar, duas em segundos e duas em terceiro. —Grace afirmou, fazendo meus dedos coçaram para pegar o celular e pesquisar pelo nome dela na internet.
—Estávamos parados a alguns dias. Mas voltamos aos treinos hoje. Temos um campeonato em alguns meses. —Gavin prosseguiu, enquanto Grace dava um gole na sua taça de vinho, evitando olhar pra mim. —O que você faz, Alfredo? Seu irmão tem uma padaria e nós já sabemos que cozinha super bem.
—E a Hermione uma floricultura. —Grace olhou pra Hermione, que apenas sorriu, um pouco corada ao voltar a atenção pra comida. Como normalmente acontecia quando haviam mais pessoas com a gente, ela preferia ficar em silêncio.
—Eu estava estudando direito em Harvard. Mas eu larguei a algumas semanas. —Dei de ombros quando os olhos me olharam, visivelmente surpresos. —Estou ajudando meu irmão na padaria nas horas vagas e estudando administração a distância.
—Uau! —Gavin soltou uma risada. —Você é corajoso, cara. Não consigo imaginar alguém deixando Harvard assim.
—Aquilo não era pra mim. —Dei de ombros uma segunda vez. —Gosto de como estou agora. Gosto de trabalhar com Pietro na padaria.
—E por que foi pra Harvard então? —Grace indagou. —Você queria e não gostou ou...
—Sabe, me faço essa mesma pergunta todos os dias. —E eu sei a resposta dela e não gosto nem um pouco. —Mas de qualquer forma, já cai fora. Desde quando vocês dois patinam?
—Não lembro quando eu comecei. —Gavin olhou para Grace e riu. —Acho que eu já nasci com os pés em uma pista de gelo, assim como a Grace. Fomos feitos pra isso.
—Assim como Pietro nasceu com os pés dentro de uma cozinha. —Hermione falou baixinho, lançando um sorriso ao meu irmão.
—É verdade. Não me imagino fazendo outra coisa. —Pietro concordou, abrindo um sorriso pra ela.
Olhei para Grace, vendo que ela estava me observando, mas desviou os olhos na mesma hora. Isso me fez ter vontade de rir, porque ao mesmo tempo que ela parecia querer me evitar, fazia coisas como isso.
—Então, que horas vocês treinam? —Indaguei, como quem não queria nada. —Não conheço muito de patinação artística. Vocês se incomodariam de ter um espectador nos treinos caso eu aparecesse por lá a qualquer hora?
—Não! —Gavin falou antes de Grace, ganhando um olhar fulminante dela. Mordi o lábio para não rir, percebendo que certamente tinha um aliado ali. —Vai ser bom. Você vai poder dizer se estamos indo bem ou não, já que nossa treinadora não está presente. Treinamos todo dia as 17:00. Posso te enviar o endereço do lugar depois.
Concordei com a cabeça, olhando para o meu prato sem conseguir esconder o sorriso enorme que estava no meu rosto.
Continua...
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Naquele inverno / Vol. 2
RomanceGrace Bailey tinha absolutamente tudo que alguém poderia desejar na vida. Um pai amoroso que a enchia de presentes, uma carreira em ascensão como patinadora, o amor incondicional do namorado e um melhor amigo que a apoiava até mesmo nas ideias mais...