Capítulo 20: Joia rara.

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Grace me olhou por longos segundos, como se estivesse surpresa com meu comentário. Eu tinha certeza que sim, mas era inevitável pra mim não falar aquelas coisas. Grace tinha toda minha atenção desde o momento que cruzou a minha frente naquela rua quando a defendi. E não quero fingir absolutamente nada com ela. Quero que ela saiba o que eu penso e o que eu sinto.

—Bem, já que você está aqui. —Falei, saindo do lugar onde eu estava para ir até Grace. —Eu estava pensando na gente ir esquiar. Todos nós. Mas podemos fazer isso depois de ir nessa cabana do Ian.

—Ei, eu gosto da ideia. —Ela sorriu, ficando com os olhos iluminados. —Faz tempo que eu não vou esquiar. Eu quase não tenho tempo pra nada quando estou em Nova Iorque.

—Então vamos aproveitar que você não está em Nova Iorque pra fazer tudo que você deseja. —Me inclinei, deixando um beijo na ponta do nariz dela que a deixou surpresa. —Nosso próximo encontro está marcado então.

—A gente mal saiu e você já está pensando no próximo? —Murmurou, soltando uma risada.

—Você é uma pessoa memorável, Grace. Já disse isso. —Dei de ombros, piscando pra ela quando a mesma ficou me observando com as sobrancelhas erguidas. —Vou me tornar fã número um de patinação artística por sua causa.

—Espero que eu e Gavin sejamos o seu casal favorito então. —Ela piscou de forma inocente pra mim. —Ou nossos encontros ja eram.

—Não se preocupe, você é o meu top 1, Grace. —Sorri mais ainda, sabendo que aquilo ia pegar ela. —E não é só nas pistas de gelo.

[...]

Olhei para Rebeca do outro lado do café, sentada em uma mesa e digitando em um notebook aberto na sua frente sem parar. Ian tinha acabado de deixar um café na frente dela e então veio na minha direção com as sobrancelhas erguidas.

—Tenho umas mesas pra você limpar. —Comentou, lançando um pano na minha direção.

—Eu trabalho pro meu irmão, não pra você. —Afirmei, bufando quando ele riu.

—Eu e seu irmãos somos sócios, o que significa que você trabalha pra mim também. Tenho mesas pra limpar e você não esta fazendo nada no momento. —Ele ergueu as sobrancelhas. —Coincidência? Vai trabalhar, vai.

—Ian! —Lancei o pano na cabeça dele quando o mesmo começou a se afastar. —Onde é essa sua cabana, hein? Você não tá levando todo mundo pra lá pra matar a gente com uma serra elétrica, né?

—Bem que a ideia é muito tentadora. —Afirmou, se virando pra mim com uma expressão de deboche. —É só um pequeno chalé na floresta. Um final de semana só a gente. Nada demais.

—Rebeca vai? —Indaguei, indicando a nossa amiga jornalista maluquinha que parecia muito infeliz com o que via no seu notebook.

—Vai. Ela e um amigo do trabalho. —Ergui as sobrancelhas com aquela afirmação. Não queria que Grace ficasse desconfortável lá. —Por quê? Pensei que estava com a Grace.

—A gente está saindo. —Falei, fazendo uma careta. —Ainda não temos nada concreto.

Ainda. —Ian me arremedou, soltando uma risadinha. —Você tá pior que o seu irmão quando ele se aproximou da Hermione.

—Não enche! —Fiz uma careta pra ele, pronto para sair dali. —Não esquece que eu apresentei o Gavin a você. E pelo que eu saiba, não sou o único emocionado nessa história.

—Ei, falando nisso de eu sair com o amigo dela. —Ian coçou a cabeça, parecendo sem graça de tocar no assunto. Voltei até onde ele estava, erguendo as sobrancelhas.

—O que foi? Fala logo.

—Você falou pra Grace que se interessa por homens também? —Indagou, me pegando de surpresa.

—Não. A gente não tocou em um assunto que levasse a isso. —Falei, vendo ele balançar a cabeça. —Eu deveria falar?

—Bom, eu acho que sim. Tem pessoas que não ligam pra isso, mas tem outras que realmente se importam. —Ian deu de ombros.

—Mas Gavin é melhor amigo dela e é gay. —Falei, vendo Ian revirar os olhos.

—Você disse certo, é o melhor amigo dela, não o cara com quem ela esta saindo! —Afirmou, umedecendo os lábios com a língua. —Não tô dizendo que ela não vai querer saber mais de você. Mas eu julgo ser uma coisa importante que ela deveria saber.

—Ah, tá bom. —Murmurei, sem saber ao certo o que dizer.

—Olha, esquece o que eu falei, tá bom? Grace parece ser super mente aberta. Eu só... não sei. —Ian deu de ombros. —Fala pra ela se quiser. Você não é obrigado a falar. Só acho que deveria. Mas o relacionamento é de vocês e eu não tenho que me meter.

—Tudo bem, Ian. Valeu por isso. —Me afastei dele até a porta, pensando no que ele havia dito.

Ian não estava errado em alguns pontos. Grace poderia realmente se importar, como poderia não dar a mínima importância pra mim. Mas se fosse ao contrário, eu gostaria de saber que a garota que eu saio também se interessa por mulheres. Não mudaria nada pra mim, mas eu gostaria de saber. Querendo ou não, é uma coisa importante.

Parei na frente de uma banca de jornais e revistas, fazendo uma careta para a capa das revistas que estavam sendo colocadas no suporte na frente da banca. Puxei uma delas, mordendo o lábio ao perceber que Grace não só tinha uma irmã, como elas eram gêmeas.

—Greta Bailey. —Comprimi meus lábios, lembrando do que Grace havia me contado, enquanto olhava as fotos da irmã. Não havia nada no mundo que me faria trair a confiança de Pietro. Não consigo imaginar como Greta fez isso com a própria irmã gêmea.

—Você não tem nada de especial, Greta. —Coloquei a revista de volta no lugar, percebendo que não gostava dela sem nem ao menos conhecê-la. —Mas a sua irmã é uma joia rara.


Continua...

Naquele inverno / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora