Naquele inverno / Vol. 2

Capítulo 26: Ele é meio lesado.

Para a minha total felicidade o reboque apareceu, nos tirando do meio de toda aquela neve e nos permitindo seguir viagem. Chegamos na cabana um pouco depois do meio dia, com a minha barriga roncando de fome. O chalé estava pedido no meio das árvores, coberto de neve e com uma escadaria lateral que dava para uma varanda imensa.

—Ei, vocês vieram! —Ian apareceu na varanda, soltando um gritinho animado ao se virar para a casa. —Gente, o Alfredo e a Grace vieram!

Soltei uma risada ao ver Gavin, Hermione, Pietro, Rebeca e um outro cara que eu não conhecia aparecerem na varanda, como se não acreditasse que estávamos mesmo ali.

—Não acredito que você tirou ela se casa. —Gavin exclamou, descendo as escadas para nos ajudar a tirar as coisas do carro. —É praticamente um milagre.

—Bem, eu não precisei de muito para convencê-la. —Alfredo deu de ombros. —Demoramos porque ficamos presos na neve por horas.

—Mas agora estamos aqui e eu estou morrendo de fome! —Afirmei, agarrando minha bolsa e correndo escada a cima.

Fiquei um pouco sem graça ao cumprimentar Rebeca, mesmo sabendo que talvez ela não tocasse no assunto, assim como Alfredo disse. Mas eu tocaria no assunto em algum momento, só precisava de um pouco de coragem pra isso. Hermione sorriu pra mim, assim como Pietro, restando apenas o rapaz desconhecido.

—Grace, esse é meu parceiro de trabalho Vincent. —Rebeca gesticulou na direção do homem de forma um pouco rude. —Infelizmente eu tive que trazê-lo.

—É um prazer, Vincent. —Apertei a mão dele, abrindo um sorriso nervoso. Vincent parecia ter uns 24 anos. Tinha a pele clara e os cabelos escuros, além de usar um óculos redondo que me lembrava Harry Potter.

—O prazer é meu, Grace. Sei que não deve querer ouvir sobre, mas acredito que não traiu seu namorado... ex namorado e que deve havia uma explicação pra isso... —Ele soltou um grunhido, cambaleando para trás quando Rebeca pisou no pé dele.

—Eu disse pra não falar sobre isso! —Sibilou pra ele, antes de se virar pra mim. —Desculpa por isso, Grace. Ignore o Vincent, ele é meio lesado.

—Você é uma grossa! —Vincent acusou com uma careta, erguendo o óculos com o dedo indicador. —Eu estava tentando ser simpático com ela.

—Simpático é tudo que você não é, Vincent. —Rebeca retrucou, se virando pra mim. —Ele derrubou café quente na minha camisa no primeiro dia dele no jornal.

—Foi sem querer! —Ele bufou e revirou os olhos. —Você é uma chata controladora!

—Você é estabanado e irritante! —Rebeca mostrou a língua pra ele, enquanto eu me segurava para não rir.

—Quanto amor vocês dois! —Ian surgiu, empurrando ambos pra dentro da casa. —A gente já entendeu que vocês vão se casar e viver felizes para sempre, agora chega de brigas, crianças.

Os dois entraram, murmurando acusações um contra o outro, enquanto eu me perguntava como eles trabalhavam juntos daquela forma. Mas minha atenção foi para Alfredo que estava subindo as escadas com a minha mala. Olhei pra ele, observando sua expressão tranquila ao olhar pra mim e sorrir, antes de entrar na casa. Corei ao lembrar do selinho e entrei atrás dele.

[...]

—Pensei que ele ia passar o final de semana com você lá e não que ia convencê-la a vir até aqui. —Gavin sussurrou, vindo para perto de mim. Olhei por cima da bancada da cozinha, vendo que todos estavam distraídos conversando, inclusive Alfredo.

—Bem, mas eu vim. —Dei de ombros. —Não consigo dizer não a Alfredo. O jeito dele é...

—Apaixonante? —Gavin ergueu as sobrancelhas, me encarando com um sorriso maroto.

—Não começa, tá legal? Estamos nos conhecendo ainda. —Afirmei, mordendo o lábio ao lembrar do que eu havia feito no carro. —Além do mais, eu não sou de Aspen e vou embora em breve.

—Conversa fiada. —Gavin retrucou. —Isso não impediria ele de ficar com você, Grace. Mas acho que você sabe disso. E caso tenha esquecido, estou com o Ian e também não sou de Aspen, mas pareço preocupado com isso?

Olhei pra ele, tombando a cabeça de lado e soltando um suspiro derrotado. Gavin soltou uma risada, deixando um beijo na minha bochecha.

—Nada que um diálogo com ele não resolva, meu bem. —Afirmou, me fazendo morder o lábio inferior com força.

—Querido, preciso da sua ajuda aqui. —Ian chamou, fazendo Gavin deixar outro beijo na minha bochecha e se afastar para ver o que Ian queria.

Olhei para o meu prato, cutucando a comida sem qualquer interesse, enquanto pensava no que ele havia dito. A risada de Alfredo me fez olhar pra cima e vê-lo conversando com Hermione sobre alguma coisa, enquanto acariciava a cabeça de Azeitona. Ele estava sempre sorrindo. Sempre de bom humor. Era impossível ficar perto dele e não sentir um pingo de atração. Era impossível não se apegar a ele.

—Ele gosta bastante de você. —Pietro se aproximou de mim, me deixando sem graça por ter sido pega espiando o irmão e a namorada dele.

—Eu sei. —Falei, abrindo um sorriso fraco. —Também gosto bastante dele.

—O bastante para não quebrar o coração dele? —Indagou, me fazendo parar o que estava fazendo e erguer os olhos para fita-lo. —Sei que é uma boa pessoa, Grace. Só me preocupo com meu irmão. Quando eu digo que ele gosta de você, é porque ele realmente gosta de você. Não quero que ele se decepcione.

—Eu te entendo. —Afirmei, sentindo meu coração disparado dentro do peito. —Não sei se posso te prometer algo, Pietro. Mas eu também gosto do seu irmão e não quero decepciona-lo. Então...

Acredite, Pietro, a última coisa que eu quero é quebrar o coração do seu irmão. Não sabe o quão bem que ele me faz.

Continua...