Encarei Rebeca por longos segundos, sentindo meu coração despencar dentro do peito. Vim pra essa viagem porque queria fugir do meu ex e da minha irmã, mas também porque queria evitar especificamente os jornalistas. E agora eu estava sentada em uma mesa de bar com uma, jogando uno. A vida é uma grande piada de mal gosto as vezes.
Entrei no jogo, me ocupando em pedir várias rodadas de bebida e fugir de qualquer assunto que pudesse levar eu e Gavin a falarmos do nosso trabalho. Não conhecia Rebeca. Ela poderia ser alguém séria e sensata, ou uma maluca que faz qualquer coisa por uma matéria. Qualquer que fosse a opção correta, eu não queria saber.
Mas percebi no final da noite que havia sido uma péssima ideia sair de casa. Gavin desapareceu em alguma rodada do jogo com Ian, murmurando algo sobre não voltar pra casa. Rebeca se despediu e foi embora depois de receber uma ligação de alguém que ela chamou de "Babaca, sem coração e incompetente". Mas eu não tinha certeza se foi nessa ordem, porque eu já estava bêbada demais para pensar.
—Acho melhor eu te levar pra casa. —Alfredo murmurou, juntando as cartas e enfiando dentro do bolso da jaqueta. Só então percebi que estávamos sozinhos ali.
—Eu quero ficar aqui mais um pouco. Faz tanto tempo que eu não saio pra beber. —Peguei meu copo, trazendo até os lábios. Alfredo o tirou da minha mão antes que eu o virasse na boca. —Ei!
—Você já bebeu demais, Grace. —Ele ficou de pé, me ajudando a levantar, enquanto eu choramingava. —Vamos. Vou te levar pra casa.
—Eu gostava mais de você quando estava flertando comigo. —Afirmei, me virando para apertar as bochechas dele. —Mas você continua um gato.
—Tenho certeza que você vai se arrepender de ter dito isso amanhã cedo. —Murmurou, soltando uma risada ao me abraçar pela cintura e me guiar até a saída.
—Não... eu não vou, não. —Falei, sentindo minha cabeça girar. —Por que eu me arrependeria? Você é... você é muito bonito sim. Beeeemm mais bonito que ele.
—Ãn? —Ele fez uma careta, arrancando uma gargalhada de mim. —Tudo bem, você tá muito bêbada.
Me escorrei no carro ainda rindo quando ele parou para abrir a porta, tirando a jaqueta e passando nos meus ombros, antes de me fazer entrar e sentar no banco.
—Olha só! —Exclamei, assustando Alfredo quando ele se inclinou sobre mim para passar o sinto. —O príncipe encantado das trevas é super cheiroso também.
Me inclinei e deixei um beijo estralado na bochecha dele. Alfredo olhou pra mim quando se afastou, ficando com as bochechas vermelhas. Soltei outra risada, querendo beijar ele de novo só pra vê-lo ficar corado. Mas quando me inclinei para alcançá-lo fora do carro, ele fechou a porta.
—Ei! —Bati no vidro, vendo ele dar a volta. —Você fechou a porta na minha cara. Isso não foi legal. Não foi... não.
—Desculpe. —Falou, se sentando na frente de volante e passando o cinto assim que fechou a porta.
—Tudo bem. Mas eu não vou vomitar em você. —Falei, sentindo minha língua e minhas pálpebras pesares. —Mas eu certamente beijaria você.
—Você com certeza vai se arrepender disso amanhã. —Afirmou, me fazendo gargalhar de novo enquanto ele ligava o carro e saia dali.
—Não ligo. A culpa é toda daquele infeliz e daquela... daquela... traíra duas caras. —Soltei um soluço, afundando o rosto entre as mãos. —Eu não quero que a Rebeca faça uma matéria sobre mim, Alfredo. Eu não vou aguentar ser... chifruda nas redes sociais também.
—O que? —Ele olhou pra mim com a testa franzida. —Grace, eu vou te deixar em casa e ligar pro Gavin pra...
—Hipoteticamente falando, eu tenho chifres. —Afirmei, olhando pra ele enquanto erguia as mãos e fingia dois chifres na minha cabeça. —Mas não são tão legais como os de unicórnios. —Parei de sorri, inclinando a cabeça até encostar ela no vidro do carro. —Será que minha irmã me considerava uma vaca e por isso fez aquilo? —Fiz uma careta, olhando para Alfredo. —Alfredo, eu sou uma vaca?
—Pelo amor de Deus! —Ele balançou a cabeça negativamente. —Você não é uma vaca.
—E então o que eu sou? —Me inclinei na direção dele, vendo-o olhar pra mim de relance e então voltar a olhar pra rua. —Se eu não sou uma vaca, que animal eu sou?
—Hm... —Ele hesitou, enquanto eu erguia a mão e cutucava a bochecha dele, querendo que ela ficasse vermelha de novo. —Você é uma gata.
—Por quê? —Indaguei, ainda cutucando a bochecha dele.
—Porque elas são fofas, bonitas... —Ele parou de falar quando encostei minha cabeça no ombro dele. —Você está bem, Grace?
—Eu tô... ótima! —Ergui os olhos e observei o rosto dele, querendo gravar cada detalhe. Minhas pálpebras pesaram e eu fechei os olhos, absorvendo o cheiro do perfume dele.
[...]
Eu deveria ter sido atropelada por um caminhão, porque meu cérebro tinha sido revirado e meu corpo parecia gelatina. Abri os olhos lentamente quando minha barriga roncou assim que o cheiro delicioso de panquecas chegou até mim. Gavin nunca havia cozinhado, então aquilo era um milagre.
Me sentei na cama rapidamente, sentindo minha cabeça latejar como se uma bomba estivesse prestes a explodir dentro dela. Segurei minha testa e olhei ao redor com uma careta, observando o quarto estranho que eu estava. Paredes creme, com cortinas azuis. Armários de madeira antiga. Prateleiras pelas paredes com livros e inúmeros discos de vinil.
—Não! —Sussurrei, me jogando de volta na cama e cobrindo meu rosto com a coberta, que agora eu sabia que pertencia a Alfredo, já que estava impregnada com o cheiro dele. —Não acredito nisso.
—Bom dia! —Puxei a coberta, deixando apenas os meus olhos a mostrar. Alfredo está entrando no quarto, usando meias e um conjunto de moletom. —Trouxe água e um remédio pra dor de cabeça. Está com fome? Pietro está fazendo panquecas. Estão quase prontas.
—Por que eu tô na sua casa? —Olhei para a cama dele, antes de erguer a coberta e ver o que eu usava. —E quem colocou esse pijama rosa em mim?
—Porque eu te levei pra sua casa, mas quando cheguei lá não consegui achar a chave nas suas coisas e você não acordava de jeito nenhum. Não queria estragar a noite do Gavin e nem te deixar sozinha, então te trouxe pra cá. —Ele me estendeu a água e uma cartela de comprimidos. Mesmo envergonhada me sentir e peguei os dois. —O pijama é da Hermione. Ela colocou em você ontem a noite. Eu dormi no sofá. Relaxa.
Alfredo aguardou que eu tomasse o remédio e a água e então pegou o copo e a cartela de volta.
—Eu passei mais vergonha do que no outro dia, não é? —Falei, sem conseguir me lembrar o que havia acontecido. —Desculpa se eu fiz alguma coisa que te deixou desconfortável.
—Tudo bem. Foi divertido. Você é uma bêbada engraçada. —Ele indicou uma muda de roupas em cima de uma escrivaninha. —E o melhor de tudo, não vomitou em mim.
Soltei uma risada, me escondendo embaixo das cobertas enquanto ouvia Alfredo rir ao se afastar.
Continua...
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Naquele inverno / Vol. 2
RomantizmGrace Bailey tinha absolutamente tudo que alguém poderia desejar na vida. Um pai amoroso que a enchia de presentes, uma carreira em ascensão como patinadora, o amor incondicional do namorado e um melhor amigo que a apoiava até mesmo nas ideias mais...