Grace se debateu na água, afundando em instante e voltando pra superfície, agarrando o galho enquanto eu o puxava mais rápido, subindo sobre a beirada do gelo do lago, desesperado para alcançá-la. Meu corpo estava tomado por uma onda de adrenalina enquanto eu a observava se debater mais ainda, tentando se agarrar ao gelo ao redor, sem soltar o galho.
—Eu estou indo, Grace. Vou pegar você. —Afirmei, soltando o galho e agarrando as mãos dela. O gelo se partiu embaixo de mim, molhando minhas roupas enquanto eu a puxava com força pra cima. —Peguei você... Peguei você, cupcake.
Grace agarrou meus braços quando a puxei pra cima do gelo, me arrastando para trás junto com ela até estarmos fora do lago. Ela estava tremendo de frio, batendo os dentes e mais pálida que a própria neve. Tirei minha jaqueta e envolvi o corpo dela, pegando-a no colo e disparando em direção a casa.
—Vai ficar tudo bem, Grace. Vou te levar de volta e te aquecer. —Prometi, enquanto ela fechada os olhos e tremia contra mim, com os lábios roxos e trêmulos. —Você vai ficar bem.
Ela não respondeu, apenas se encolheu mais contra mim, tremendo cada vez mais. Subi a colina com dificuldade, com minhas botas afundando na neve. Meu coração estava martelando no peito e tinha certeza que Grace podia ouvi-lo contra seu rosto. Mas ela estava quieta demais e fria demais.
Subi as escadas rapidamente, abrindo a porta e a fechando com o pé. Azeitona veio na minha direção, balançando o rabo e me seguindo enquanto eu corria escada a cima em direção aos quartos. Entrei no que Grace ia dormir, entrando no banheiro e a soltando sentada em um banquinho que havia ao lado da pia, antes de ligar a água da banheira e deixá-la morna.
—Grace, você ainda está comigo? —Questionei, vendo ela abrir os olhos e me fitar, tentando abrir um sorriso que soou mais como uma careta de dor. —Eu vou tirar suas roupas, está bem? Temos que aquecer você.
Ela balançou a cabeça positivamente, afastando as mãos do peito e me deixando tirar as jaquetas e blusas que usava, erguendo os braços quando era necessário. Depois tirei o patins, removendo a meia encharcada. Ela se segurou nos meus ombros quando desfiz o nó da calça de moletom que ela usava, puxando-a pelas suas pernas quando ela deslocou o peso sobre mim e a deixando apenas com as roupas íntimas.
—Você está indo bem, cupcake. —Falei, pegando ela no colo de novo e tentando não olhar pro corpo dela mais do que necessário, porque a última coisa que eu queria era que ela ficasse desconfortável com aquela situação.
—Você... você disse isso no lago e eu caí na água. —Murmurou em um tom de reprovação que eu sabia ser para si mesma. Coloquei ela dentro da banheira, escutando ela soltar um suspiro quando sua pele gelada afundou na água morna. —Me desculpa.
—Por que está me pedindo desculpas? —Indaguei, confuso, deixando que ela se ajeitasse na banheira.
—Eu fui impru... imprudente e idiota. Deveria imaginar que aquilo poderia acontecer. —Afirmou, com os lábios trêmulos.
—Você foi imprudente, sim. Mas erros acontecem para que possamos aprender com eles. —Falei, observando as mãos de Grace que estavam grudadas nos meus braços, me segurando com força. Não sabia se ela havia percebido, mas não iria me afastar até que ela se sentisse segura. —Não precisa me pedir desculpas, está tudo bem.
—Hm... pelo menos você me viu sem roupas. —Afirmou, indicando o próprio corpo embaixo da água.
—Meu Deus, Grace! —Exclamei, soltando uma respiração pesada. —Eu estou preocupado com você. Te ver de roupas íntimas certamente não é o ponto alto do dia.
—Desculpe, eu só... Eu vou ficar bem. Não fiquei tanto tempo embaixo da água. —Ela escorou a cabeça no meu braço, enquanto fechava os olhos. Não estava tremendo, mas ainda estava pálida demais. —Já estou melhor.
Soltei um suspiro, tocando meus lábios na testa dela, ouvindo som dos passos de Azeitona para dentro do banheiro, antes de se deitar no chão ao meu lado.
—Vou te deixar na companhia do Azeitona e vou descer pra fazer alguma coisa pra você beber e se aquecer. —Beijei a testa dela, fazendo-a erguer a cabeça e olhar pra mim. —Chá ou chocolate quente?
—Chocolate quente. —Sussurrou, ainda olhando pra mim. —Com muitos marshmallows.
—Tudo bem. Quer que eu pegue uma roupa pra você? —Ela balançou a cabeça negativamente, finalmente me soltando e deixando eu me afastar. Azeitona ficou deitado do lado da banheira, enquanto eu saía do quarto sentindo que estava deixando alguma coisa pra trás.
[...]
Grace desceu alguns minutos depois, quando o chocolate quente já estava pronto. Eu já havia trocado de roupas também, logo depois de deixá-la sozinha no banheiro. Indiquei que ela se sentasse na poltrona em frente da lareira, deixando a caneca na mesinha ao lado dela. Ela ficou me observando pegar o edredom sobre o sofá quando se sentou.
—As piadas sobre roupas íntimas já estão liberadas? —Indagou, me fazendo rir.
—Não, nada de piadas desse tipo. —Afirmei, deixando o edredom sobre as pernas dela enquanto sorria, antes de entregar a caneca fumegante de chocolate quente. Azeitona veio até nós dois, ganhando um cafuné na cabeça antes de se deitar no tapete em frente a lareira. —Vou levar você pra cidade. É melhor ir no hospital ver se está tudo certo.
—Não, eu estou bem. Juro que estou bem. Não estou mais com frio nem nada. —Prometeu, enquanto eu balançava a cabeça negativamente. —Não quero estragar o final de semana de ninguém, Alfredo. Sério, eu estou bem. Você me tirou de lá rápido.
—Ainda pode ser perigoso. —Retruquei, ficando de joelhos na frente dela. —Estou realmente preocupado com você, Grace.
—Eu estou bem. Juro pra você. —Afirmou, soltando a caneca e tocando minhas mãos que estavam em seus joelhos. —Eu vou ficar bem. Nunca viu aqueles programas de sobrevivência onde os caras caem nas águas congelantes e continuam lá?
—Isso aqui não é um programa de sobrevivência do Discovery. —Falei, soltando uma risada quando ela deu de ombros. —Você não existe, sabia? Me deu um susto imenso.
—Eu sei. Sinto muito. —Ela tocou meu rosto, acariciando minha bochecha. —Eu estou bem. Vamos ficar aqui. Quero aproveitar o final de semana com você.
Meu coração acelerou tanto que eu pensei que ia explodir. Grace empurrou o edredom e desceu da poltrona, vindo para o meu colo e se aninhando entre meus braços. Me ajeitei no chão para que ela ficasse confortável e então puxei o edredom para cobrir nós dois. Grace escorou a bochecha no meu ombro e voltou a beber o chocolate quente quando eu alcancei a caneca nas mãos dela.
Não sei quanto tempo ficamos naquela posição, apenas apreciando a presença um do outro sem que nada fosse dito. Mas eu tinha certeza de uma coisa, estava realmente apaixonado por ela.
Continua...
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Naquele inverno / Vol. 2
RomanceGrace Bailey tinha absolutamente tudo que alguém poderia desejar na vida. Um pai amoroso que a enchia de presentes, uma carreira em ascensão como patinadora, o amor incondicional do namorado e um melhor amigo que a apoiava até mesmo nas ideias mais...