Capítulo 9: Hipoteticamente falando.

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Alfredo era super insistente e não desistia fácil. Mas não era uma insistência ruim e chata, como de alguns caras que não sabem ouvir não. Eu sabia que na verdade ele só estava aliviando o clima, depois de eu ter dito que não sairia com ele.

—Bom, eu tenho que ir. Tenho aula à noite e preciso voltar pra padaria. —Alfredo caminhou até a saída da loja comigo, enquanto carregava sua caixa e uma sacola com alguns discos que havia comprado. —Espero que seu pai goste do presente.

—Ah. —Olhei para a sacola na minha mão. Havia pegado mais do que um único disco, porque Alfredo me ajudou a encontrar mais alguns que talvez ele gostasse. —Ele vai amar. Certeza.

—Que bom, então... —Ele desceu o degrau da loja para a calçada, se virando pra mim como se quisesse dizer mais alguma coisa, mas não sabia como. —A gente se vê.

—Claro. Vou aparecer na padaria toda manhã. —Afirmei, fazendo ele soltar uma risada e balançar a cabeça. Alfredo começou a se afastar, mas então se virou, olhando pra mim, enquanto chutava de leve a neve no chão.

—Hipoteticamente falando. —Começou, me fazendo morder o lábio para não rir. —Você me acharia um babaca se eu não desistisse da ideia de te levar pra sair?

—Eu não acharia. Mas você estaria apenas perdendo seu tempo. —Falei, vendo ele sorrir mais ainda, como se isso significasse muita coisa.

—Isso nunca seria perda de tempo pra mim. Pode ter certeza. —Ele piscou, sorrindo ao se virar e começar a se afastar. Soltei o ar com força, sentindo meu coração errar algumas batidas.

—O par de chifres está dificultando seu cérebro de pensar? —Gavin indagou, surgindo ao meu lado.

—Você é uma praga na minha vida, não é? —Afirmei, dando uma cotovelada nas costelas dele, enquanto o mesmo gargalhava. —Sua sorte é que eu te amo, se não eu te matava depois desse seu comentário.

—Pra superar uma coisa ruim, fazer piada sobre ela sempre é uma boa alternativa, sabia? —Ele passou o braço ao redor dos meus ombros, começando a andar comigo pela rua. —Por que disse não? O cara é gato e parece ser super gente boa.

—Eu sei. Mas, você mesmo falou, acabei de ganhar um par de chifres. Não tô pronta pra outra. —Afirmei, olhando pra Gavin. —Acho que a fixa ainda não caiu, Gavin. Não sei. Não parece ser real. Não a questão da traição, mas... minha irmã e Edward.

—Eu entendo. Mas Greta realmente fez isso, Grace. Talvez você só precise de tempo pra absorver tudo. —Ele sorriu, erguendo as sobrancelhas. —Que bom que o nosso príncipe encantado das trevas não está disposto a desistir.

—Ai, lá vem você de novo. —Soltei uma risada, vendo ele rir e dar de ombros.

[...]

Na manhã seguinte, fiz Gavin descer até a padaria para pegar o café. Primeiro porque o dono do apartamento era ele, e ele ainda não havia conhecido Pietro. E segundo, porque eu estava evitando encontrar Alfredo. Não queria ouvi-lo me chamar pra sair de novo, porque tinha certeza que quanto mais ele fizesse isso, mais difícil seria dizer não.

—A culpa é toda sua Edward. —Afirmei, esfregando minhas bochechas enquanto olhava pela janela, esperando Gavin sair da padaria.

Peguei meu celular quando ele começou a tocar, vendo o nome do meu pai aparecer na tela. Soltei um suspiro, me preparando para aquela conversa, porque tinha medo do que ele poderia me dizer.

Grace — Oi, pai.

Pai — Bom dia, querida. Como estão as coisas por aí? Você não tem respondido minhas mensagens.

Grace — Eu sei, me desculpa. Tenho evitado mexer no celular. As coisas estão bem, eu acho. Eu e Gavin vamos voltar a treinar hoje a tarde. Como... como estão as coisa por aí?

Pai — Sua irmã não está querendo falar comigo depois que eu cortei a mesada dela e quando soube que você foi viajar. Ela tem um ensaio de fotos hoje. Vou tentar conversar com ela mais tarde, agora que o choque inicial já passou.

Grace — Antes que ela te conte, eu a bloqueei no celular. Não queria falar com ela. Nem sei se em algum momento vou querer.

Pai — Como pai das duas, eu gostaria que vocês não ficassem brigadas. Mas eu te entendo. Infelizmente, eu te entendo.

Ficamos em silêncio, enquanto eu fechava meus olhos e tentava pensar em que momento eu e Greta chegamos a esse ponto. Minha própria irmã. Minha vida se tornou uma peça de teatro com o pior drama possível e eu não estava preparada pra ele.

Pai — As pessoas estão fazendo perguntas sobre o que está acontecendo. Ed também está quieto, o que é estranho. Provavelmente está tentando descobrir onde você está.

Ou está se pegando com a minha irmã gêmea, vai saber.

Grace — Tudo bem, pai. Olha eu tenho que ir. A gente pode conversar mais tarde?

Me despedi dele, sentindo minha cabeça girando e girando, enquanto meus ombros estavam tensos. Isso parecia um pesadelo sem fim. Não consigo imaginar o que faria se Edward aparecesse aqui atrás de mim. E eu esperava que isso não acontecesse nunca.

—Voltei. —Gavin entrou no apartamento, trazendo junto o cheiro delicioso de donuts. Abri um sorriso, porque nada poderia me deixar mais feliz do que comida.

—Finalmente, eu estava morrendo de fome. —Afirmei, indo até a bancada e ajeitando as coisas pra gente. —Conheceu o Pietro?

—Ah, sim. Ele é adorável. E a namorada dele é uma fofa, apesar de parecer super tímida. —Gavin parou do outro lado da bancada, olhando pra mim com as sobrancelhas erguidas. —Ele chamou nós dois pra jantar na casa dele hoje.

—O que? —Parei, erguendo os olhos. —Quem chamou?

—Pietro. —Gavin soltou uma risadinha. —Depois que Alfredo sugeriu isso. Aliás, ele é adorável também. Não sei como conseguiu dizer não a ele.

—Gavin... —Fechei meus olhos, quase choramingando. —Você disse não, certo?

—O que? E negar um jantar feito por um italiano? —Ele soltou uma risada, enquanto eu afundava o rosto entre as mãos. —É óbvio que eu disse sim. Mas você não é obrigada a ir se não quiser.

—Você fez isso de propósito. —Acusei, fuzilando ele com os olhos.

—É errado eu querer ver minha melhor amiga bem? —Ele olhou pra mim, inclinando a cabeça na minha direção. —Vamos lá, Grace, vai ser bom. Um jantar é só um jantar.

Claro. Um jantar era só um jantar. Não um encontro. E não era nem mesmo a hipótese de um.


Continua...

Naquele inverno / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora