Alguns dias já haviam se passado desde que o bope entrou no complexo, e graças a Deus ninguém se feriu, tudo indica que eles vieram realmente para pegar Lyon e como não acharam ele, foram embora.
Desde a noite que tive com Lyon eu não o vejo, fiquei sabendo por alto que ele foi se esconder na casa da tal Michele a mulher que vi na chamada de vídeo na festa de premiação de Kadu. Doeu, eu chorei, mais resolvi viver, como Marina e Lorraine me aconselharam, marquei hoje com Gabriel aqui no complexo para o nosso jantar e não! Não falei com o Lyon ainda, mais isso é fácil de se resolver.
Me arrumo e resolvo ir na “boca” atrás dele, coloco um short jeans claro, blusa preta e chinelo, passo um perfume, solto meu cabelo e saio de casa trancando a porta. Assim que chego em frente a boca vejo Camila saindo do local toda sorridente, ela me encara com deboche e sai andado, se ela soubesse como é feio a fama que ela tem, coitada!
— E aí Juarez! Cumprimento um dos meninos que estão de vigia hoje. — Tem como avisar o Lyon que estou aqui fora querendo falar com ele?
— Claro Majú, marca um dez aí. Ele entra na sala e não demora muito ele volta. — Patrão mandou você entrar.
A sala de Lyon é basicamente uma mesa grande cheia de papéis em cima, uma mesa do outro lado cheio de drogas, acho que é onde eles embalam, uma porta na lateral, acho eu que é um banheiro... Fico observando o local e me atento ao cheiro ruim que ali tem, droga misturado com urgia, lembro que vi Camila saindo daqui e tenho certeza que esse cheiro é de sexo, faço cara de nojo só de imaginar a cena, sou tirada de meus pensamentos quando Lyon chama minha atenção.
— Queria falar comigo? Era a primeira vez que via ele e o trouxa do meu coração estava acelerado.
— Sim... Vou ter um encontro hoje e como não posso sair da comunidade queria que você autorizasse a entrada dele. Ele fica um tempo me encarando e mesmo com muita vontade de desviar eu permaneço firme olhando para ele, não queria passar fraqueza no meu olhar.
— Um encontro? Tipo casal de namorados?
— Lyon, você autoriza ou não? Vamos facilitar nossa conversa.
— Então são um casal! Ele pergunta já afirmando.
— Ok, deixa pra lá! Foi idiotice minha vir aqui. Viro as costas e me preparo para sair da sala dele.
— Quem é ele? Viro de volta para encara-lo.
— Gabriel o nome dele, seu irmão conhece ele.
— Sei quem é também! O pela saco que estava quase te comendo no seu aniversário. Respiro fundo e abstraio o seu comentário.
— Ele mesmo! Você autoriza?
— Você não me respondeu, vocês estão namorando?
— Isso faz alguma diferença Lyon?
— Pra mim faz! Até dois dias atrás você se entregava a mim, confiava algo valioso pra qualquer mulher a mim e hoje está de encontro marcado com outro cara?
— Confiei e confio em você Lyon, não me arrependo nem por um segundo, mas você sempre deixou claro que seria só sexo e mesmo sendo foda eu acordar no outro dia e ser deixada em sua cama como uma puta qualquer, eu entendi que você foi sincero comigo e eu não tenho o direito de ter raiva de você por isso. Quero que você seja feliz e se essa vida que você leva te traz felicidade, eu fico feliz por você, mas eu vou seguir minha vida.
— Eu te deixei como puta? Eu nunca levei ninguém pra minha casa, você foi a única e eu só te deixei lá por quê não quis te acordar, o bope ia subir, recebi ligação dos garotos...
— Tanto faz Lyon, já superei isso.
— Majú... Ele coça a cabeça como se tivesse tomando coragem de dizer alguma coisa e juro pra vocês que se ele me pedir para ficar com ele e aceito na hora. — Ok... Eu autorizo!
— Obrigado. Foi só o que saiu de minha garganta, a vontade de chora incontrolável estava presente, mas me segurando firme sai da sala dele.
— Tah chorando Majú. Bato de frente com Fael que me segura firme pra eu não cair.
— Tem como me tirar daqui? Meu rosto já está molhado por não conseguir segurar as lágrimas.
— Claro pequena, minha moto está alí.
Sigo Fael e assim que ele sai com a moto vejo Lyon parado na porta da boca me encarando, viro meu rosto para tentar esconder minhas lágrimas. Fael me levou para o alto do morro, entramos em um prédio e no último andar acessamos uma porta que nos levou a laje do prédio. De lá dava pra vê a comunidade inteira, o silêncio, o vento batendo no meu rosto, a paz que eu precisava estava ali, pegamos uns tijolos, acho que deveria ser de algum olheiro e sentamos, depois de um tempo em silêncio Fael começa.
— O que Lyon fez dessa vez?
— O que ele não fez é o problema! Respondo olhando o céu.
— Majú posso te dá um conselho? Assinto esperando ele falar. — Lyon é gente boa mas é meio durão, talvez pelo que passou com os pais, por ter que assumir o morro novo, assumir os cuidados com o irmão... Ele para de falar como se tivesse medindo as palavras. — Eu sei que tú gosta dele mas nossa vida não é fácil, você vai sofrer, não se envolve enquanto há tempo.
— Tarde demais para o conselho amigo, eu já estou envolvida sentimentalmente com ele... Mas eu vou lutar com todas as minhas forças para arrancar isso do meu peito, nem que eu tenha que sair daqui.
— Não fala besteira Majú, teu tio só tah esperando um vacilo seu pra poder te pegar.
— Eu sei, mas vou resolver isso, já pensei em um jeito de me ver livre dele.
— Cara, deixa isso com a gente, não surta não! Nós vamos resolver esse b.o .
— O b.o é meu Fael, não posso colocar a vida de vocês em risco.
— Nossa vida já é um risco princesa, então quem não deve se preocupar é você.
Achei melhor mudar de assunto, eu já estava decidida! Eu vou resolver meu b.o com Ricardo e me vê livre dele de uma vez.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Complexo de Israel ( Morro)
RomanceMaria Júlia García é uma menina de 17 anos que está terminando seu ensino médio, menina tão inteligente que já foi aprovada em duas faculdades para cursar medicina, mas não se enganem achando que a vida dela é fácil, nada na vida de Majú é fácil. De...