Complexo de Israel ( Morro)

capítulo 12

Ligar para Fael estava fora de questão nesse momento, então só me restou esperar. Fui pra cozinha comer alguma coisa mas só consegui mesmo tomar um pouco de suco, minha mão suava e eu não conseguia entender o por quê de eu estar assim, nem quando o morro é invadido eu fico com essa ansiedade toda.

Michele aparece na cozinha e vem me abraçar por trás, beija meu pescoço e vai direto ao ponto.

— Quem é a menina no telefone?

— Que menina? Dou um de desentendido.

— A tal que te deixou sem graça quando te chamei de amor na frente dela.

— Em dizer nisso... Qual é a sua? Emocionou? Virou Camila agora? Você sabe que não gosto dessas paradas de grude de romance.

— Você não respondeu minha pergunta. Ela insiste e fica me analisando com aqueles olhos castanhos claros.

— Ela não é ninguém! É só uma amiga do Kadu.

— Bom, observei uma equipe sua lá no evento e tudo indica que para protegê-la... Quem tá comendo, você ou Kadu?

— Michele, arruma suas coisas e mete o pé!

— Qual foi Lyon, tah me dispensando por conta de uma puta mirim?

Na mesma hora minha mão grudou no pescoço dela e sem conseguir enxergar nada em minha frente fui levando ela escada a cima, sem tirar os meus olhos dos olhos dela um minuto se quer.

Meus dedos apertavam em sua jugular enquanto suas mãos tentavam sem êxito se soltar.

— Você está me sufocando. Sua voz saia em um sussurro.

— A-rru-ma as suas coisas e mete o pé! Não estou com paciência para puta emocionada hoje.

Soltei seu pescoço a jogando em cima da cama, Michele tosse enquanto passa a mão no local. Seus olhos estão repletos de lágrimas, ela se levanta e começa arrumas suas coisas, sem dar uma palavra ela se retira da minha casa.

Ligo para Lorena para tentar saber de alguma coisa mas ela não me atende, me sento na poltrona que tem em meu quarto e fico encarando o rádio que está em cima do móvel que tem ali, esperando ansioso para que ele toque. Passam horas ou minutos? Sinceramente eu não sei, para mim parece que foram séculos até que meu rádio toca.

— Diz que ela está bem?! É a primeira coisa que eu digo.

Majú...

Depois que Lyon foi embora resolvi começar ajeitar as coisas para mais tarde, fui no salão fazer minha unha e aproveitei e fiz meu cabelo. Já cheguei em casa em cima da hora para me arrumar, Lorena já estava uma pilha de nervos mais tudo deu certo.

Chegamos no local da formatura com antecedência e lá estava ele lindo, quando nos viu abriu um sorriso que se eu pudesse emoldurar com certeza faria.

— O que fazem aqui? Ele pergunta já nos abraçando forte.

— Acho que viemos vê um certo gatinho ser premiado. Digo ainda nos braços dele.

— Você não era para está aqui, você sabe que é perigoso neh? Ele diz sério e olhando para os lados.

— Não vai acontecer nada e vamos mudar de assunto que hoje é dia de festejar. Abraço ele novamente.

— vem, vou apresentar vocês aos meu colegas. Ele sai nos puxando.

— Pera aí, tem alguém aqui que também quer acompanhar tudo. Digo e ligo para Lyon mas o mesmo não atende.

Droga, cadê esse idiota? Tento umas 8 vezes e nada dele atender, acabo desistindo.

— Vem, daqui a pouco ele retorna a ligação. Kadu sai puxando eu e Lorena.

Depois de nos apresentar aos seus colegas e de nos colocar sentadas em uma cadeira ele se junta a sua turma, o evento está atrasado. Eu e Lorena estamos conversando quando o telefone toca, quando olho na tele vejo que é Lyon, que vontade de matar ele!

Depois de quase arrancar o fígado dele eu começo a filmar tudo para ele, quero que ele veja cada detalhe, afinal é um dia muito importante para ele e Kadu.

Mas tudo muda quando escuto uma voz de mulher do outro lado da tela, observo que não é Camila, essa me parece ser mais de “classe” não parece ser uma das meninas do morro. Vê ela abraçando ele por trás, demonstrando uma intimidade absurda, coisa que me faz reparar sua vestimenta, ela estava só de lingerie e um nó se apossa da minha garganta, mas a facada final foi quando ouço ela chamando ele de amor... Nossa! Aquilo me pegou de jeito, lá no morro sempre ouvi dizer que o todo poderoso não se apegava a ninguém, que não gostava desse tipo de intimidade, várias vezes já vi ele humilhando a Camila por ela o chamar assim mais com essa não, com essa ele ficou quieto, não brigou, não questionou, então o caso deles é sério mesmo.

Não aguentando aquela situação resolvo pedir a Lorena para filmar tudo, dei uma desculpa e simplesmente saí de perto. Fui ao banheiro, molhei um pouco minha nuca , respirei fundo e me proibi de chorar!

De volta para o salão não peguei mais o telefone, deixei Lorena mostrando tudo ao Lyon e não falei mais nada com ele.

A festa chega ao fim e tudo foi perfeito, Kadu vem até mim e me abraça.

— Gostou? Ele me perguntou e na hora que vou responder vejo Ricardo no meio da multidão.

Meu sorriso some na hora, minha mão fica gelada e trêmula e ele percebe, dando uma leve olhada para trás, Kadu vê Ricardo se aproximar.

— Fica calma que não vou deixar nada acontecer com você. É o que ele diz antes que Ricardo se aproxime.

— Custei mais te encontrei! Ele diz com um sorriso no rosto.

— O que faz aqui, você não é foragido da polícia? Pergunta Kadu.

— Esqueceu que aqui é Brasil, moleque! Vê pelo seu caso, recebendo um prêmio de uma faculdade bancada pelo dinheiro do tráfico. Nem eu e nem Kadu falamos nada. — Quero que os dois saiam daqui, com calma!

Ricardo levanta a blusa sutilmente mostrando a arma em sua cintura, minhas pernas bambeiam e se não fosse por Kadu ali me segurando com certeza eu daria de cara no chão.

Começamos a nos mover lentamente para fora do local quando de repente ouço um tiro, não dá nem tempo de pensar em nada quando vou olhar para o Kadu já sinto mãos me agarrando, assustada olho para a pessoa e vejo Fael.

— Vem comigo rápido!

— Kadu? Pergunto já que no meio daquela confusão toda perdi ele de vista.

— Não se preocupa que FM já está com ele.

— Meu Deus Fael! A Lorena? Tenho que voltar... Tento me soltar de seus braços.

— Calma Majú, Lorena já está em um dos carros de apoia, entra aí!

— O que está acontecendo? Como...

Sou interrompida por Kadu entrando no carro, ele me abraça e beija minha bochecha.

— Mete o pé daqui logo diguin. Fala Fael.