Capítulo 63

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Estela trabalhara toda a manhã com as costas doendo. Há uma semana que elas doíam, mas a doutora Trisha explicara que era normal no final da gestação. Incomodada, decidira fazer o intervalo um pouco mais cedo e descansar. Parara à frente dos alunos e começara a falar, mas o som que saira de sua boca parecia mais um grunhido selvagem. Levara as mãos às costas, perdendo o fôlego com a dor que sentira.

Em segundos, o grande salão se tornara um pandemônio. Os Novas Espécies começaram a falar ao mesmo tempo e vários a cercaram.

- Professora? Professora, está bem? - perguntara uma fêmea.

- Precisa de algo professora?

- Coloquem uma cadeira para ela!

Gemeu alto e se dobrou quando a dor lancinante pressionara suas costas e sua barriga endurecera.

-Eu sei, eu sei o que está acontecendo! - uma voz animada gritou. - É o bebê!

Uma voz cavernosa surgiu acima das outras.

- Silêncio, vocês! - uma pessoa enorme parara à sua frente. - Afastem-se todos!

A pessoa agachara-se e tocara seu joelho. Era Jericho.

- Senhora, Estela, é o bebê?

- Sim. Ele está vindo. - gemera.

- Para trás, gente! - ele abaixara a voz para falar com ela. - Posso pegá-la, senhora?

- O quê?

- Vou levá-la para o Centro Médico.

- Sim, pode. - respondeu, gemendo.

Jericho a pegara no colo e atravessara todo o auditório. Gritara para alguém ligar o jipe e saíra do prédio.

Estela dera um longo e doloroso gemido e sentira o líquido que saira de sua vagina.

- Oh, meu Deus, a bolsa estourou!

O espécie Jericho parecera não se importar com o líquido que vazara para sua roupa. Entrando no jipe, gritara para alguém que sentara ao volante.

- Rápido! Essa criança está com pressa de chegar.

Embora o Centro Médico fosse muito próximo ao auditório, a cada movimento do jipe, Estela sentira as contrações aumentando. Contorcera-se toda, sentindo sua pélvis doendo terrivelmente. Chegaram e Jericho a levara no colo direto para o elevador.

Nos minutos seguintes fora recebida pelos enfermeiros e levada para uma das salas de cirurgia. Estela já conhecia a sala, pois cada instalação lhe fora mostrada enquanto se preparava para dar à luz. Sabia que várias crianças Novas Espécies haviam nascido ali e todas estavam muito bem.

Os enfermeiros a despiram e colocaram uma bata cirúrgica, depois a acomodaram na cama de parto. Ela discutira com os doutores Trisha e Harrys sobre o parto e preferira seguir a orientação deles pelo parto natural. Preparara-se de todas as maneiras possíveis, contudo nada a deixaria pronta para as contrações do parto.

Percebera que Jericho entrara na sala, vestido com roupas cirúrgicas. Olhara para ele e notara que os olhos estavam ainda mais vermelhos, lhe dando uma aparência assustadora. Mas ele a socorrera e estava muito grata por isso.

Agora, ouvia as instruções da doutora Trisha, enquanto sentia mais uma contração dolorosa e Harrys a acoompanhava.

- Está quase, Estela. Esse garotinho está prontinho para nascer.

Uma das portas se abriu e ela viu Vengeance entrando na sala.

- Ven! - ele estava com uma aparência terrível. Mostrava as presas e rosnava, mas ela não sabia para quem.  - Ven!

Vengeance encostou-se ao seu lado e ela agarrou sua mão.

- Estou aqui. - ele avisou, com a voz muito rouca.

Soltou outro grito e ele arregalou os olhos.

- Ela está sentindo dor!

Trisha olhou para o doutor Harrys.

- Mais um.

- Sim, eles são todos iguais.

Estela sentiu vontade de rir. Trisha lhe contara que todos os pais Novas Espécies, sem exceção, deram trabalho na sala de parto. Dissera que Fury, inclusive, precisara ser sedado e Smiley desatara num pranto desvairado; nos dois partos de Vanny.

- Ven, fique calmo. - pediu a ele.

- Você está sentindo dor!

- Ah, meu amor... - puxou a mão dele e a beijou, chorando. - É o nosso bebê.

-Pronto, Estela, o bebê está saindo. Já vejo a cabecinha e vou logo dizendo que é cabeludo. Agora preciso que faça força, ok?

Estela assentiu. Uma pressão enorme apertou dos seus quadris para a pélvis e ela se sentiu abrindo espaço para Peace passar. Apertou os lábios e fez força. Sentiu seu filho saindo de dentro dela e , abrindo bem os olhos, deu um forte e doloroso gemido.

- Aqui está ele! - Trisha anunciou. - Peace chegou!

Estela deixou seu corpo cair contra a cama. Nunca sentira tanta dor e tanto cansaço. Vengeance olhava dela para o bebê que Trisha levantara.

Viu o corpinho molhado brilhar à luz da sala. Era grande como esperavam.  Enquanto Trisha segurava o bebê, Harrys pinçou o cortão umbilical e o cortou. Trisha passou o bebê para Harrys que o levou até uma mesa.

Estela percebeu que ele aspirou a boca do bebê que começou a chorar. Do seu lado, Vengeance soluçou e segurou sua mão com mais força. O choro do bebê encheu a sala, enquanto Harrys o examinava rapidamente.

Depois, um enfermeiro envolveu Peace num campo cirúrgico e  o colocou sobre seu colo.

- Aqui está, mamãe.

Estela ainda sentia cólicas, pois a placenta ainda não saíra, mas não se importou. Pegou seu filho no colo e beijou a cabecinha grudenta.

- Peace...

- Peace... - repetiu Vengeance.

- É nosso, Ven.

Vengeance arquejou e tocou a cabeça delicadamente. Seu coração batia tão forte que Estela viu a pulsação em seu pescoço.

- Pegue ele.

- Não. É muito pequeno.

- Pegue, Ven.

Ele pegou o bebê com muito cuidado e o ergueu como uma pluma. Então, ela admirou o homem enorme e assustador olhando para o filho recém nascido. Ven tivera a única pessoa que amara arrancada dele enquanto era um prisioneiro. Agora, a vida lhe dava duas almas para amar, duas almas que o amariam de volta e ele nunca mais, nunca mais se sentiria só.

Ela olhou para o lado e viu Jericho com os lábios franzidos, os ombros enormes encolhidos. mostrando emoção nos olhos estranhos. Estela entendeu que Peace não era um presente apenas para seus pais, mas representava a esperança de todo o seu povo.
Tranquila, estendeu a mão e segurou o braço de Vengeance. Sim, havia esperança, havia amor. Seriam felizes.

Querida leitora, gosto muito de comentários e sugestões.
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Vengeance: Uma história Novas Espécies 1Onde histórias criam vida. Descubra agora