Vengeance: Uma história Novas Espécies 1

Capítulo 8

 Estela sentia suas lágrimas escorrendo pelo rosto. O desespero acabara com toda a sua coragem. Não adiantou gritar, não adiantou lutar, não adiantou falar. Aquele homem não a soltaria. Ele a reivindicara? Como assim?

- Senhor... não pode me reivindicar... não pode.

- Eu fiz.

- Virão me procurar.

- Eu a esconderei na minha cabana.

- Me esconder? Estamos no Estados Unidos, não pode simplesmente me esconder!

Ele acariciou seu rosto.

- Está melhor?

- Não, claro que não!

O enorme Nova Espécie se ergueu e estendeu a mão para ela.

- Venha.

- Não.

Ele se abaixou, segurou-a pelos ombros e a levantou.

- Estamos quase chegando. - passou o braço por suas pernas e pegou-a no colo.

- Por que me sequestrou?

- Porque a quero como minha companheira.

- Como assim?

- Estou sozinho há muito tempo...

- Mas nem me conhece!

- Vou conhecer.

- E acha que eu quero te conhecer?!

Ele fez um som estranho e ela  o olhou. Era uma risada?

- Conhecer é melhor.

- Eu não quero!

- Qual é o seu nome?

Estela sentiu-se presa a um diálogo surreal. Era como se um vilão quisesse trocar amenidades.

- Fui contratada pela ONE para dar aulas. Devem estar me procurando agora.

- Devem estar.

- Virão atrás de você.

- Talvez.

- Será preso!

- Não serei preso. - ele franziu a testa. - Talvez Justice queira me apagar.

Ela pensou se entendeu direto.

- Apagar ?

- Tiger me disse que se eu continuasse incomodando diria para Justice me matar.

- Você... Você está falando sério?

Dessa vez ela reconheceu uma risada de verdade.

- Sou instável. Preocupo a ONE.

- Você é louco?

Ele a olhou, o rosto divertido.

- Para um humano? Sim. Para um espécie? Bom, como eu disse, sou instável.

- Você é um malfeitor?

- Malfeitores espécies não vivem.

Estela sentiu a cabeça girar. Sabia que os Novas Espécies viviam por suas próprias leis, mas não imaginou que poderiam aplicar a pena capital.

- Não tem medo do senhor North?

- Justice? Ele cuida de nós.

- Mas pode te matar!

- Não. Ele mandará o médico me colocar para dormir.

Ela estremeceu. Que loucura!

- Senhor Vengeance, por favor, seja sensato. Deixe-me ir... Eu não o entregarei.

- Qual o seu nome? - repetiu

- Por favor!

- O nome. - ele falou com a voz gutural. Estela sentiu novamente um tremor. E se ele se enfurecesse com ela, o que faria?

- Meu nome é Estela.

- Estela... O que significa?

- Estrela.

Ele a olhou um instante.

- É muito bonito.

Ela notou o olhar triste. Para dizer a verdade, observou seu rosto pela primeira vez. Os ossos da face eram bem marcados, os lábios eram cheios e o queixo tinha uma covinha que lhe dava um ar juvenil, entretanto eram os olhos que chamavam atenção. Eram lindos, mas gélidos. Estela se encolheu, pensando no que aquele homem seria capaz de fazer com ela.

Vengeance subia o terreno sem muito esforço, os passos ritmados. Ela sentiu-se esgotada. Nem mesmo a dor que sentia no corpo a impediu de deitar a face contra o ombro forte e fechar os olhos. Ele deu um grunhido quando ela reclinou sobre seu ombro, mas não fez comentários.

Estela  já não sentia o peso do corpo, apenas o calor que vinha dele, o balançar dos seus passos, os músculos poderosos ondulando contra seu corpo, as batidas fortes do coração dele. Era como se estivesse num casulo.

Sem saber quanto tempo havia passado, uma brisa soprou em seu rosto e a despertou. O que viu a fez arregalar os olhos. Vengeance estava parado à beira de um precipício. Abaixo a paisagem se descortinava em uma extensa floresta e, à uma distância muito grande, via os prédios da reserva. A pequena cidade, que era a mais  próxima da reserva dos Novas Espécies, parecia de brinquedo vista dali de cima.

Estela ergueu os olhos para ele. Vengeance abaixou o rosto devagar e a encarou.

- Não é bonito?

- Estamos muito longe da reserva!

- Sim.

- Preciso voltar!

- Precisa se acalmar.

- Como ficar calma? Você me raptou!

Ele franziu as sobrancelhas e ela se calou.

- Queria te mostrar a paisagem. - ele rosnou, parecendo decepcionado.

Estela não teve tempo de responder, pois ele se virou e voltou a caminhar. Olhou por cima do seu ombro e deu uma última olhada nos prédios tão longe. Estava, irremediavelmente, perdida.