27) CONVERSAS NA CALADA DA NOITE

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Senti o vento bater com força contra meu rosto por uns segundos, mas de repente tudo parou. Quando vi, estava pendurada, Dylan me segurava pelo braço direito, aquela cena típica de quando um personagem cai de um prédio ou precipício e o outro o segura pelo braço.
E aquilo doía pra CARAMBA.

Não conseguia dizer nada, apenas olhar para o rosto de Dylan, minha vida estava literalmente nas mãos dele, se ele quisesse se livrar de mim e dizer que havia sido acidente, o momento era perfeito.
Ele olhou nos meu olhos e me puxou rapidamente de volta para o telhado.
Me deitei recuperando o fôlego e acalmando a adrenalina.

— O QUE ESTAVA PENSANDO? IA SE JOGAR DE NOVO, PORRA? – ele gritou

— EU NÃO IA PULAR, VOCÊ QUE ME ASSUSTOU SEU FILHO DA PUTA – gritei de volta, me sentando para encará-lo melhor e demonstrar minha raiva.

— SEI, DEPOIS DE UM QUASE SUICÍDIO HÁ POUCOS DIAS, VOCÊ QUER QUE EU ACREDITE NISSO?

— O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI PRA COMEÇO DE C...

— CALEM A BOCA, ESTOU TENTANDO DORMIR!!! – uma terceira voz berrou vinda de dentro da mansão

Na hora, Dylan e eu nos calamos.

— Isso foi a Sophie? – digo

— Não, ela teria vindo aqui ao invés de gritar, deve ter sido a cozinheira – Dylan diz

— Ela tem coragem – murmurei

Afinal, Dylan não era o "Lorde Wharton"? O chefão de tudo ali?

— Ela trabalha aqui desde que eu era criança, então a entendo — ele explicou

Olho para o céu, as estrelas já brilhavam incessantemente, a vista era até bonita... Em seguida dou uma olhada em volta, as luzes do jardim estavam acesas, causando um ar ainda mais bonito à noite, o vento soprava silenciosamente.
Ficamos uns minutos em silêncio, mas foi tempo o suficiente para eu quase esquecer que o assassino do Lucas estava sentado a poucos centímetros de distância de mim.
Depois de um tempinho olho para Dylan e vejo que ele também estava olhando para as estrelas, seu rosto tinha uma expressão calma e séria. Parece que o berro da cozinheira havia desanimado o ar de briga e a vontade de me estrangular que ele estava há alguns minutos.

— Pode ir embora, não vou mais chegar perto da beirada – falei me levantando

— Não confio em você.

— Eu só queria um tempo sozinha, queria me sentir em paz e... – digo andando pelo telhado, no entanto me calei. Ao perceber que quase ia revelar sobre meus poderes

Olho para Dylan mais uma vez e nossos olhares se encontram, desvio para a vista do jardim e suspiro.

— Nada – murmurei

— Falei com a Sophie mais cedo.

Toquei meu braço que havia sido curado e congelei, me virei devagar.

— Sobre...?

— Vou te dar seu espaço para que viva pelo menos confortável aqui, sem me envolver em mais nada seu, não vou questionar mais sobre isso – ele falou e apontou para meu braço curado e em seguida apontou para a beirada do telhado – Ou isso...

Arregalei os olhos.

— Vou até mesmo evitar de me encontrar com você nos corredores – Dylan continuou sem me olhar

Não digo nada e ele prosseguiu:

— Mas em troca, peço que por favor, mesmo que isso seja impossível, me escute dessa vez e fique dentro desta mansão. Você não imagina os perigos que existem ou  as pessoas que virão atrás de você.

— Eu sei me cuidar.

— Você soube se cuidar quando aquele cara da balada tentou te sequestrar? – questionou

Fiquei em silêncio.

— Você é forte, Noelly, não posso negar, tem uma personalidade determinada e uma beleza deslumbrante...

Olhei para ele. Dylan, o mesmo Dylan arrogante que me odeia, estava me elogiando?

— ... No entanto, isso não vai ser o suficiente para te salvar de gente que caça pessoas como você, todos os dias.

Me virei olhando para o céu novamente, escuto som de alguém se levantando e em seguida passos se aproximando, uns segundos de silêncio se passaram, até que sinto Dylan atrás de mim.

— Se acha que isso vai te salvar – ele falou se colocando à minha frente e segurando meu braço curado – Então se tranque no seu quarto e só saia de lá quando puder me afirmar que tem certeza de que isso vai te salvar.

Arregalei os olhos de novo, recuei um passo e puxei meu braço.

— Então você sabe...

— Eu sei de muitas coisas, coisas que você ainda é muito ingênua para entender – diz sem desviar o olhar dessa vez

— Por que decidiu conversar ao invés de me xingar e dar ordens?

— Porque era a única forma de você escutar pelo menos um terço, do que eu quero que escute – Dylan falou — E da próxima vez que tentar tirar a própria vida, pense na Sophie, na Chloe e no Matt, acha que eles ficariam felizes em saber disso? Acha que seu amado morto ficaria feliz em saber disso? Seu pai? Não foi ele quem pediu para você viver?

Quando eu ia dizer algo, Dylan tampou minha boca.

— Chega de falar, garota estúpida. – disse — Você sabe que eu tenho razão, agora, pegue seus motivos e se fortaleça, se seu plano é me matar, vai precisar de mais que só palavras.

Não sabia o que dizer, estava frustada porque ele tinha realmente razão.
Dylan tirou a mão da minha boca e se afastou.

— Ótimo, estamos conversados então – disse se virando e caminhando até uma beirada do telhado, que se não me engano, havia uma varanda logo embaixo que dava pro escritório dele.

Fiquei que nem idiota sem falar nada, apenas ficava bugando e olhando para ele.

— Até mais, minha esposa – falou e se pendurou na beirada, dando impulso para chegar na sacada de baixo, me deixando sozinha no telhado.

— Ele me chamou de esposa? – consegui dizer para mim mesma.

Me sentei de novo no telhado, ainda processando tudo o que Dylan havia dito. Ele realmente sabia usar bem as palavras quando queria.

— Aquele desgraçado – murmurei olhando para o céu — Posso me arrepender disso depois, mas dessa vez, só dessa vez, vou seguir o que ele disse.

Ergui um braço, concentrando a energia e memorizando meus poderes, um fio dourado se formou no ar, comecei a usar a mão e os dedos para fazer o fio se movimentar e multiplicar, erguia a outra mão e fiz o mesmo processo, porém, os fios que surgiram dessa vez eram prateados, fiquei surpresa, mas não parei. Comecei a movimentar as duas mãos, fazendo os fios dançarem no ar, se misturarem e afastarem. Por fim uni as duas mãos e os fios se envolveram, formando uma pequena bola da energia que se distorceu algumas vezes e sumiu.

Fiquei uns segundos olhando minhas mãos vazias.

— Eu vou libertar esses poderes sem me machucar e vou mostrar para aquele idiota que eu posso sim, enfrentar seja lá o que esteja atrás de mim – falei, abrindo, depois de muito tempo, um sorriso de determinação.
Assim que amanhecesse, eu começaria meu treinamento.

PROMETIDA A UM VAMPIRO (Versão Atualizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora