6) A CARTA

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Noelly narra...

Acordei com o sol batendo no meu rosto, eu ainda estava naquela floresta, pisquei os olhos inchados, sentindo as lágrimas de novo ao lembrar da morte de Lucas, olhei para baixo, porém o corpo de Lucas havia desaparecido.
Me levantei com tudo e quase caí por ter ficado a noite toda sentada.

— O que houve? Lucas... - Falei olhando em volta

— Noelly! - escutei uma voz feminina

— Sophie - digo

Ela chegou correndo de uma trilha que eu não havia visto na noite anterior. Eu não estava no clima para ver ou falar com um Wharton, mas ao meu tempo, eu precisava de alguém para me ajudar.

— Sophie! Ele... ele... ele matou meu Lucas, ele matou a única pessoa que eu tinha, Sophie... - Falei abraçando ela com força, deixando as lágrimas rolarem de novo, eu estava completamente desidratada.

— Eu sei, eu não acreditei quando soube

— Eu nunca mais vou olhar na cara daquele desgraçado, Sophie, me liberta desse casamento, por favor, me liberta de tudo

— Noelly - ela diz me segurando pelos ombros, olhando nos meus olhos — Você não tem culpa de nada que aconteceu, o que o Dylan fez não tem perdão, mas você não pode desistir de tudo, o Lucas não iria querer isso, você precisa viver, precisa fazer valer a pena tudo o que tiveram até hoje, honre as memórias de vocês.

Naquele momento as palavras de Lucas me vieram a mente, as lágrimas não paravam de escorrer, mas ainda assim eu consegui parar um pouco de tremer

— Onde..? O que aconteceu com...

— Assim que cheguei aqui, eu liguei para um número que estava no celular dele, acho que era o avô - ela disse — Liguei e logo chegaram para levar, tentei te acordar mas você começou a se debater sem querer sair daqui, então fiquei por aqui para evitar ladrões ou bichos.

Não digo nada.

— Eles tiveram que levá-lo antes que mais pessoas vissem e sabe se lá o que aconteceria depois.

Assenti devagar

— Pra onde...? - digo baixo

— O avô dele disse que enterrariam perto daquele Salgueiro no antigo rio "Magic and Love", uma autora conhecida da região tem umas histórias daquele rio

— O Lucas adorava esses livros - falei rindo de leve

— Eu achei isso aqui também, acredito que é seu - Sophie diz me estendendo um pedaço de papel.

Era uma carta dobrada várias vezes.
Reconheci o papel que Lucas me estendeu na noite anterior e meus olhos se encheram de lágrimas.

— Eu... Vou te dar privacidade para ler, quando estiver mais calma, voltamos para a mansão - ela diz

— Tem a opção de não voltar para lá?

— Infelizmente não

— Droga

Depois disso, Sophie caminhou por entre a mesma trilha e saiu do meu campo de visão por causa das árvores.
Pensei seriamente em fugir pela direção oposta, mas claramente Dylan não me deixaria fugir assim, e mais pessoas acabariam morrendo por causa de um maldito contrato.

— Por que, pai? - murmurei

Suspirei

— Porra, era pra eu estar festejando e curtindo a vida como qualquer adolescente, não passando por todas essas merdas - digo me sentando.

Lentamente tirei o papel de dentro da carta amassada e vi a letra de Lucas.

" Emmy, se está lendo isso, é por que algo realmente aconteceu comigo e eu morri... Escrevi isso antes de te buscar na mansão Wharton, estava com uma sensação ruim... Saiba que eu te amo muito, você foi a pessoa que mudou minha vida, que deu sentido a ela... No entanto eu tive segredos terríveis nessa vida, segredos da qual me orgulho e arrependo, Emmy, eu te amo muito, mas não quero que se prenda a arrependimentos como eu fiz, tivemos uma história que talvez seja egoísta da minha parte pedir pra você nunca esquecer, mas agora você terá que seguir rumo a sua história sozinha, eu sempre estarei com você, mas não se prenda a mim... Emmy, é o fim pra mim... Mas não para você, não se prenda aos que morreram, encontre seu caminho, você é especial demais para viver como uma pessoa comum. Você vai encontrar alguém que vai amar com toda a vida, alguém que vai te entender e cuidar de você. O que houve no passado, fica no passado, tenha esperança no seu futuro... Um dia ainda nos reencontraremos."
Ass.: Lucas W.

Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto e pingou na folha, abracei a folha com força

— Eu te amo Lu... - digo

Reencostei a cabeça na árvore, relembrando alguns momentos que tive com o Lucas. Nunca tive uma memória boa para lembranças, por algum motivo, eu esquecia muito fácil, para mim felicidade era algo REALMENTE momentâneo, e eu odiava isso, quando eu precisava de algo bom para repôr os momentos ruins, eu não tinha nada.
Não sei por quanto tempo eu fiquei ali repensando sobre a vida, mas em algum momento, quando mal restava lágrimas, me levantei, tirei a sujeira, respirei fundo.
Comecei a cantarolar On my own, a música favorita de Lucas, fiz uma pausa sorrindo tristemente ao lembrar dele cantando, voltei a terminar a música, dobrei a carta e lentamente caminhei pela trilha.

— Noelly?! - Sophie falou ao me ver

Matt estava com ela, havia uma limusine estacionada a poucos metros.
Andei até eles e parei diante deles

— Estou pronta para irmos - falei

— Tem certeza que tá tudo certo, princesa? - Matt diz

— Certo? Nada - falei — Mas chorar não trás ninguém de volta, não é? Vou ter que aceitar que nunca mais serei Noelly Emmily Crane.

Sophie me olhou com compreensão e Matt assentiu abrindo a porta do carro pra mim logo em seguida.
Entrei e olhei pela janela, olhando pela última vez a floresta.
Eu teria que aprender a conviver como Wharton, já que não tinha escolha, até surgir a melhor oportunidade, onde iria fugir e encontrar uma maneira de seguir no mundo, NUNCA que eu ficaria com eles.
Sem contar que tem muito que eu ainda precisava entender... Uma delas era o motivo de Lucas ter assinado a carta como "Lucas W." ao invés de "Lucas N." de Norton, que era seu sobrenome...

PROMETIDA A UM VAMPIRO (Versão Atualizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora