Capitulo 13

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Alexandra chegou ao hospital com uma grande notícia; sua avó acordara. Sua tia fora a primeira a ver a avó e voltara muito animada da visita. Agora era a vez de Alexandra entrar na UTI.
A avó ainda estava ligada a fios dos monitores, mas respirava livremente.
Se aproximou da cama com ansiedade, torcendo para vê-la acordada.
A avó estava descorada e sua pele parecia mais macilenta do que o normal, porém quando segurou sua mão, ela abriu os olhos.
— Oi, vó. – a idosa senhora deu um sorriso fraco. — Estou aqui, vozinha.
— Deus te abençoe, filha. – sussurrou.
Alexandra beijou sua face.
— Estava esperando tanto que a senhora acordasse!
— Eu estou aqui.
— Como está se sentindo?
— Tonta. – deu um sorriso apagado.
Alexandra deu outro beijo nela. A avó apertou sua mão.
— Você está bem, filha?
— Vó, eu que tenho que perguntar.
— Mas, está?
— Estou, estou sim.
A senhora percorreu seu rosto com os olhos, como se procurasse ver algo. Fechou os olhos.
— Estou muito cansada.
— Então, descanse.
Ela ficou um tempo em silêncio e Alexandra imaginou que tinha dormido. Acariciou a mão enrugada, o coração cheio de apreensão ao constatar como a avó parecia fragilizada.
— Você viu o Marcos? – a pergunta repentina a surpreendeu, fazendo seu rosto esquentar.
— O quê?
A avó abriu os olhos.
— Já encontrou o Marcos?
— Eu... já.
— Que bom...
Lídice fechou os olhos novamente. Alexandra aguardou que ela falasse mais, entretanto depois de vários minutos percebeu que estava dormindo.
Ficou pensativa. Por que a avó perguntou por Marcos? Não falara sobre ele nos últimos anos!
Esperou que terminasse o horário da visita e saiu da enfermaria. Desceu pelo elevador, pensativa. Quando chegou no saguão encontrou a tia  e a prima esperando.
— Ela acordou? – perguntou Leandra.
— Por pouco tempo.
— Conseguiu falar com ela?
—  Consegui.
— Vou subir. – disse Sophia.
— Se quiser, posso levar sua mãe para casa.
— E depois eu te encontro na vó?
— Está ótimo.
Sophia foi para o elevador e Alexandra saiu com a tia. Entraram no carro e ela viu que Leandra estava com lágrimas nos olhos.
—  Vai ficar tudo bem, tia.
Leandra fungou.
— Eu não sei. Ela está tão fraquinha...
— Mas pelo menos acordou e conversou um pouco.
Alexandra pôs o carro em movimento, preocupada. Sua tia tirou um lencinho da bolsa.
— Sabe o que ela me perguntou? Se eu ia parar de perturbar a Sophia.
Alexandra riu.
— Foi?
— Disse que eu tenho que cuidar mais do meu marido e deixar minha filha dirigir a vida dela.
— Nossa...
Leandra assoou o nariz.
Falou para eu fazer uma viagem com o Sérgio.
— E a senhora vai?
— O quê? Não. Eu cuido da minha neta, esqueceu?
— Pensei que a Letícia  estivesse numa creche de manhã.
— Mas quem  fica com ela nas outras horas sou eu.
Alexandra ficou em silêncio. A tia era muito controladora com Sophia, e mãe e filha se estranhavam ocasionalmente.
— Mamãe te falou alguma coisa?
— Ah... – mexeu-se no banco. — Nada demais.
— Pobre mamãe...
Alexandra completou a viagem até a casa da tia ouvindo-a falar sobre como Sophia trabalhava demais. Sabia que a tia não gostava do trabalho da filha numa cooperativa de leite local; achava que ela deveria deixar o sustento da família por conta do marido.
Leandra tagarelou bastante e Alexandra deixou a mente vagar. Pensou no que a avó havia dito. Por que citar Marcos agora?
Suspirou. Sua avó não tinha culpa, era claro, porém ela não deveria ter voltado para Bastos.
Deixou a tia em casa e foi para a casa. Precisava fazer umas ligações para a editora.
Logo que chegou dispensou Fernanda. Poderia fazer o jantar ela mesma mais tarde.
Sentou-se na sala e fez suas ligações, parando somente com a chegada da prima.
Sophia pegou suco para as duas e se jogou no sofá.
— Esse calor vai acabar comigo!
— Você ainda voltará para a cooperativa?
— Vou só para  encerrar o turno. – tomou um gole do suco. - Miquéias pegará Letícia na escola hoje.
— É uma boa trabalharem no mesmo lugar?
— Nem sempre. Às vezes ficamos os dois presos no trabalho e eu sou forçada a pedir ajuda para minha mãe. – Alexandra lembrou da conversa com a tia mais cedo. — Estou querendo contratar uma cuidadora para ficar com Letícia à tarde até nós chegarmos, mas mamãe está fazendo um drama disso. A vovó me disse para tomar uma atitude com ela.
— A vovó disse?
— Foi. Falou que minha mãe precisa tomar conta da própria vida.
Alexandra riu e contou sua conversa com a tia. Sophia riu com ela.
—  Acho que a vovó quer arrumar a casa.
— Acho que sim.
— E para você, o que ela disse?
Abraçando uma almofada, Alexandra comentou.
— Perguntou se eu já tinha me encontrado com o Marcos.
— Sério? Você falou que já o viu duas vezes?
— Três. – confessou num sussurro.
— Como três?
Alexandra apertou a almofada contra o peito.
—Eu fui correr na beira do ribeirão. Ele me encontrou.
— De novo?
— Foi casual, eu acho. Ele estava vindo dos lados da lagoa.
— E te encontrou na estrada? É muita coincidência.
— Pois, é. – Alexandra abaixou os olhos, envergonhada com as lembranças daquela manhã.
— O que aconteceu?
Muito. Tudo. Nada. – pensou.
— Ele queria conversar... pedir perdão...
-— E você?
Alexandra ergueu os olhos.
— Não reagi muito bem.
— Como assim?
— Ele veio querer explicar o que aconteceu... com a Maria Eduarda... Acho que quis me culpar.
Sophia ergueu as sobrancelhas.
— Ele disse que você é culpada?
— Não assim... Insinuou que estava confuso, porque eu queria ficar em São Paulo.
— Entendi. Ele se sentiu abandonado.
—  Não é desculpa para o que fez.
—  Não é mesmo. – a prima apertou os lábios. — Mas naquela época ele estava bem pra baixo mesmo...
— Você o está desculpando?
— Claro que não. Só estou comentando... Lembra, a mãe dele tentou se matar na praça. E ele bombou na faculdade.
—  Aí para desestressar ele me traiu?
— Olha, só ele sabe o que estava pensando naquela hora.
— Estava bêbado! Ele nunca tinha bebido. Marcos queria uma desculpa para me trair.
— Ele te disse que só aconteceu uma vez?
Alexandra jogou a almofada de lado.
—  Uma, duas, mil, tanto faz! Ele me traiu!
Sophia ficou em silêncio. Alexandra sentiu o corpo tremer; a emoção sempre a tomava quando falava de Marcos. — Hoje na estrada... Eu perdi a cabeça, Sophia. Ele me segurou e eu... surtei!Bati nele, machuquei com minhas unhas!
— Você? Não acredito!
— Eu estava com tanta raiva!
— Machucou?
— Tirei sangue.
— Alexandra!
— Eu não queria conversar, eu disse ele.
— E a conversa terminou muito mal. É inacreditável você e ele num momento assim.
Alexandra cobriu o rosto com as mãos. Nunca se imaginou ferindo alguém. A prima estendeu a mão e esfregou seu braço.
— Eu só espero não vê-lo mais. – Alexandra falou, agradecida pelo apoio da prima.
— Por quê?
— Por que o quê?
— O que irá acontecer se você encontrá-lo de novo?
— Como assim?
Sophia a encarou.
— Alexandra, você queria evitar o Marcos. Por quê?
— Porque ele me traiu, é óbvio.
— Bastava ter agido com indiferença.
—  O que quer dizer?
— Prima, eu acho que Marcos ainda é muito importante na tua história.
— Claro que não!
— Por que sente tanta raiva dele?
— Porque ele me traiu! – repetiu.
— Entretanto, você tem outra vida agora. Está apaixonada, vai se casar... Não deveria se alterar tanto.
Um sobressalto tomou Alexandra. Rodrigo! Ela sequer pensara em Rodrigo nas últimas horas.
— Eu quero te dar todo apoio, Alexandra, mas preciso te perguntar: Você esqueceu mesmo o Marcos?

Lembranças de uma paixão  ( concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora