Capítulo 29

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No domingo, Lídice foi transferida para um quarto particular. A notícia se espalhara e o horário de visitas mais se parecia a uma romaria. Leandra se plantara no quarto e as pessoas precisavam se revezar de uma em uma para visitar a querida idosa.

Luiza, enfermeira que conhecia as Duarte há muitos anos, controlava o fluxo de pessoas ,ameaçando interromper as visitas se o barulho no andar não diminuísse.

Marcos desceu do elevador e encontrou Luiza praticamente expulsando o pastor Domingues do quarto.

- Tem que dar a vez para outra pessoa, pastor.

- Você sabe que não sou exatamente uma visita, não, enfermeira? Tenho livre acesso aos pacientes.

- Não neste quarto. Agora o senhor vai descer e deixar outra pessoa subir.

- Mas...

A mulher virou o rosto e viu Marcos.

- E a próxima visita já chegou. Pode descer, pastor.

O homem ergueu as sobrancelhas, mas obedeceu. Olhou para Marcos com o olhar ofendido.

- Boa tarde, Marcos.

- Boa tarde, pastor.

- Tenho sentido sua falta.

- Alguns plantões têm caído aos domingos.

- Apareça quando puder.

- Pode deixar.

O pastor Domingues caminhou para o elevador e Marcos olhou para Luiza.

- Eu venho em paz.

Ela sorriu e fez sinal para ele entrar.

Marcos viu Leandra ao lado da cama de Lídice e prendeu um suspiro. Leandra não fazia o mínimo esforço de ser simpática a ele.

- Boa tarde. - cumprimentou as duas.

Lídice sorriu para ele.

- Olá, Marcos. Que bom vê-lo. - falou com a voz muito enfraquecida.

- Também fico feliz em ver a senhora. - Leandra não o cumprimentou. - Como está se sentindo?

- Feliz em ter saído da UTI.

Ele se aproximou da cama e Lídice estendeu a mão.

- A senhora me deu um susto. - Marcos segurou a mão dela.

- Ah, filho, é a idade...

- Nada de idade. A senhora ainda é muito forte.

Lídice sorriu para ele.

- E como você está?

- Eu? - Marcos parou um instante para refletir. Como se sentia? - Estou muito bem. - desejou completar com agora.

- Pensei muito em você nesses dias.

- Pensou?

- Sim. E você tem pensado em você?

- Muito.

Ela sorriu para ele. Marcos teve a impressão que ela sabia algo do que acontecera nos últimos dias.

- É preciso pensar mesmo. A vida é curta, Marcos.

- Eu sei.

- Há situações que são essenciais para a nossa felicidade.

- Sim, senhora.

Leandra estalou a língua e se virou para ele.

- E seu filho, como vai?

Lembranças de uma paixão  ( concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora