Capítulo 30

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Alexandra chegou à São Paulo no final da manhã. Dirigira sem parar, na intenção de almoçar com Rodrigo. Tinha tanto a falar com ele e tão pouca certeza de que ele a perdoaria. Estacionou o carro no prédio onde ficava o escritório da empresa. Descansou a cabeça no volante, procurando se sentir mais corajosa.
O seu telefone celular tocou. Era Rodrigo. Atendeu-o rapidamente.
- Oi?
- Oi, amor. Já chegou?
- Já. Estou chegando na empresa.
- Não conseguirei almoçar com você. Tenho que conversar com um autor novo.
Alexandra sentiu a notícia desanimá-la.
- Vim cedo para conversarmos.
- Algum problema, sua avó piorou?
- Não, ela está se recuperando. Rodrigo, passei a semana tentando falar com você!
- Eu sei, meu amor, mas minha agenda estava lotada. Ainda está, na verdade.
Ela respirou fundo. Não podia descontar sua frustração nele.
- A que horas termina o seu compromisso?
- Eu não sei... Mas não poderei sair hoje à tarde. - ele fez uma pequena pausa. - Você não vem para a empresa?
- Hoje, não. Eu... - o que diria a ele? - Só preciso falar com você.
- Está certo. Passo no seu apartamento quando eu sair daqui.
- Tudo bem.
- Tchau, amor.
- Tchau.
Ele desligou e ela ficou olhando para o nada. Nunca se incomodara pelo namorado ser tão ocupado, mas queria falar com ele o quanto antes. Foi para casa, sentindo o estômago doendo de ansiedade.
Aproveitou para colocar a lavagem de roupas em dia e depois arrumou seu guarda-roupas e gavetas. Procurou o que fazer pela casa para fazer o tempo passar mais rápido.
Já eram mais de dezoito horas quando Rodrigo tocou o interfone. Ela liberou o portão e ficou em pé na sala, esperando-o subir, mas quando ele bateu à porta tomou um pequeno susto.
- Só um instante - ele falou para o telefone celular. - Oi, amor. - deu-lhe um beijo rápido e entrou no apartamento. - Posso ver isso para você. Não, não será problema nenhum. - Rodrigo colocou a pasta no sofá e Alexandra aguardou que ele terminasse. - Falo com você amanhã. Bye, bye. - ele desligou o aparelho e jogou-o sobre o sofá. - Enfim! - Rodrigo a abraçou apertado. - Que saudades, moça! - Alexandra o abraçou também. Encostou a cabeça no seu peito, procurando forças para o que teria que fazer. - Fez boa viagem?
- Foi tranquila.
- Eu tentei te ligar ontem à noite, mas acabei dormindo cedo.
- Tudo bem.
Ele segurou seu rosto.
- Você está bem? Está com o rostinho preocupado. Pensei que sua avó tinha melhorado.
- Ela melhorou, sim.
- Então, o que é?
Alexandra engoliu em seco. Segurou as mãos dele.
- Precisamos conversar.
- Opa, essa frase nunca é um bom presságio. Está chateada porque eu não fui te encontrar?
- Não, Rodrigo. - ela se afastou dele. - Vamos sentar.
- Tudo bem.
Rodrigo sentou no sofá e bateu ao lado para ela se sentar. Alexandra sentou e ele a puxou para si.
- Eu estava com muita saudade mesmo.
Ela segurou a mão dele e respirou fundo. Encarou-o.
- Aconteceram muitas coisas...
- Anham.
- Eu... preciso te explicar antes... Eu nunca te contei que já tive um noivo.
- Um noivo?
- Sim. Fui noiva antes de me mudar para São Paulo.
- Hum?
- Eu... eu encontrei esse homem... - Rodrigo a olhou com interesse. - Eu não o via há muitos anos. Nosso término foi muito traumático.
- Sei. Mas por que está me contando isso?
Alexandra sentia a boca muito seca, suas pernas tremiam.
- Então... Nós nos reencontramos...- Rodrigo franziu as sobrancelhas e ela se viu sem saber como dizer. - Eu achava que já tinha superado tudo... Não estava preparada para reencontrar o Marcos...
- O que você quer me dizer?
Ela respirou fundo novamente.
- Aconteceu algo...
- Algo o quê?
- Nós... Não foi planejado, Rodrigo!
Ele recuou no sofá e a encarou.
- Fale, Alexandra.
- Ai, meu Deus...
- Você beijou esse cara?
- Sim. - ele arregalou os olhos e piscou várias vezes, como se procurasse entender. - Foi... foi mais do que isso.
Os olhos de Rodrigo saltaram e ele empalideceu.
- Como é que é?
- Me perdoa, por favor! Eu não quis...
- Você transou com ele?
- Não sei o que aconteceu , só...
- Transou com ele?
- Me perdoa!
Rodrigo se levantou de um salto. Ficou de pé à sua frente, muito espantado.
- Você está brincando comigo, não está? - Alexandra negou com a cabeça, lágrimas escorrendo por seu rosto. - Não... não pode ser. Você não fez isso!
- Não foi planejado! Foi um acidente!
- Você deu para um homem e foi acidente?
- Rodrigo, por favor!
Ela se levantou e tentou tocá-lo, mas ele se afastou.
- Não acredito nisso, não acredito!
Ele começou a andar de um lado para o outro, as mãos na cabeça mostrando seu desespero.
- Me perdoe...
Rodrigo parou e a encarou.
- Você nunca me falou desse cara!
Alexandra passou as mãos no rosto.
- Não.
- Por quê?
- Porque foi muito ruim... como nós terminamos.
- Foi muito ruim e você faz sexo com ele?
- Eu não sei... Eu não sei o que aconteceu...
- Você transou com um sujeito que não via há anos, foi isso que aconteceu!
- Eu era muito nova e ele me traiu...
Ele lhe deu um olhar severo.
- Como você fez comigo. - ela cobriu o rosto com as mãos. Seu ato era indesculpável. Ela traíra seu namorado covardemente. - Eu achei que me amava!
- Eu... eu amo!
- Como? Trepando pelas minhas costas?
- Não fale assim!
- Mas foi o que você fez!
Alexandra o segurou.
- Eu só posso te pedir perdão, Rodrigo!
Rodrigo a olhou com a boca franzida, como se estivesse nauseado.
- Me solte, Alexandra. É melhor ficar longe de mim agora.
Mas ela não o soltou, pelo contrário, abraçou-o com força. Ela nunca se sentira tão mal consigo mesma. Nunca se sentira a vilã numa história.
- Eu não sei explicar o que aconteceu... Eu... eu só...
Rodrigo segurou seus braços e a afastou.
- Você gosta desse cara ainda. - afirmou.
Ela o olhou, tão confusa...
- Eu amo você.
- Jeito estranho de demonstrar.
- Você é meu tudo, Rodrigo. Meu amigo, meu parceiro...
- Isso não foi o bastante.
Ela sabia que não tinha sido. Sabia que seu amor por ele deveria tê-la impedido de fazer amor com Marcos. Estremeceu com o termo; não deveria chamar aquilo de amor. Ela se sentira... sentira... Totalmente enlouquecida. Eu enlouqueci nos braços de Marcos...
- Eu só queria que você... Não quis te magoar. Em momento nenhum pensei em te magoar.
Ele apertou os lábios com força e ela percebeu o quanto estava se controlando. Rodrigo nunca se exasperava, dificilmente deixava que um acontecimento tirasse seu bom humor.
Admirou-o. Era um homem lindo; alto, a pele morena , os olhos escuros... Ela costumava se orgulhar dele ser seu.
Como pude traí-lo? - pensou, se recusando a aceitar a verdade incômoda que se forçava em seu coração. Mesmo naquele momento a imagem de Marcos não saía de sua mente. Ouvia a voz dele em sua cabeça dizendo o quanto a amava. Sentia as mãos dele em sua pele, o gosto da sua boca, seu cheiro... Estou ficando louca!
Rodrigo se inclinou e pegou a pasta.
- Por favor, não vá!
- Por que, Alexandra?
Ela ficou calada. Não tinha um mínimo de direito de pedir para ele ficar.
- Vamos... Vamos conversar.
- Não temos nada para conversar.
- Eu não quis te ferir, juro!
Rodrigo respirou fundo.
- Eu acredito que não quis. Mas agora estou me sentindo um idiota. Um corno patético.
- Não, por favor.
- É melhor eu ir.
Alexandra sentiu novamente as lágrimas escorrendo por seu rosto.
- Rodrigo... Será que... Podemos conversar depois?
- Você não gostaria de nada que eu tenha para te dizer.
- Mas eu escutarei... Eu mereço.
Ele balançou a cabeça.
- Não. Pelo tempo que passamos juntos, não te direi o que quero...
- Diga!
Rodrigo balançou novamente a cabeça e virou as costas. Abriu a porta e saiu sem olhá-la.
Alexandra se deixou cair no sofá, o peito doendo horrivelmente. Ela magoara e ofendera um homem que só lhe fizera bem. Sentiu-se suja, marcada pela traição que cometera. Não tinha nenhuma desculpa, nada que diminuísse a sua culpa. Se entregara a Marcos sem pensar em Rodrigo.
Deitou no sofá, o choro não aliviando sua tristeza, confusa, perdida.

Lembranças de uma paixão  ( concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora