Marcos estava muito atarefado naquele dia. Uma investigação que estava parada sofrera uma reviravolta e ele e sua equipe estavam envolvidos desde a manhã. Era mais jovem do que todos na delegacia e, às vezes, sentia-se inseguro quanto à sua autoridade, porém nunca tivera problemas com isso. Na verdade, seu único problema com a equipe era que todos se mostravam muito interessados em sua vida pessoal. Eram fofoqueiros, como toda a cidade de Bastos.
Já eram seis horas da tarde quando ele e Patricia conseguiram voltar para a delegacia. Não pudera ver o filho naquele dia e não se animava a visitá-lo. Tivera muito de Maria Eduarda por aquela semana.
Chegou na delegacia e sentou em sua mesa, envolvendo-se com a papelada daquele dia. Sabia que trabalhava muito mais horas do que devia, mas preferia estar na delegacia do que à toa em casa. Seu lazer se limitava às idas na academia algumas noites por semana, domingos na igreja quando não estava de plantão e os sábados alternados que ficava com Pedro. Quando ficava em casa gostava de ler romances policiais e de suspense para relaxar. Essa era sua vida até Alexandra retornar...
Agora se via cumprindo sua rotina sempre com a atenção dividida. Pensava em Alexandra o tempo todo, revia os momentos que passaram juntos nos últimos dias e suspirava de tanta ansiedade. Olhava o celular repetidamente, esperando ver alguma mensagem ou ligação perdida dela.
O cabo Ramos apareceu à porta.
- Adivinhe quem acabou de ligar para cá! -o coração de Marcos acelerou. - Com uma queixa.
Marcos sossegou; não era Alexandra.
- Se não for a dona Martinha...
- É a dona Martinha.
- O que foi dessa vez?
- Disse que você não resolveu a invasão do galpão dela.
Marcos levou a mão à cabeça.
- Eu esqueci de dar um retorno! - respirou fundo. - Quando eu sair, darei um pulo na casa dela.
- E o que vai dizer?
Marcos balançou a cabeça.
- Direi que após extensas investigações nenhuma indício de invasão foi encontrado. É o máximo que posso dizer.
- Sei que os filhos querem tirá-la daquela casa...
- Eles vão acabar tendo que fazer isso mesmo.- o telefone de Marcos vibrou e seu coração deu um salto quando ele viu de quem era a mensagem. Alexandra! Pigarreou e olhou para Ramos. - Obrigado pelo aviso.
- Melhor esse tipo de aviso do que algo pior.
- É, sim.
O cabo voltou para o salão e Marcos pegou o telefone celular e leu a mensagem.
Estou em Bastos.
Ele respondeu rapidamente.
Posso ir até sua casa?
Ele viu os sinais de digitação.
Ainda não, por favor.
Marcos tentou se controlar. Ela usara o ainda.
Quero muito te ver.
Ele esperou.
Estou muito confusa, Marcos.
Ele respirou fundo.
Por que me avisou que chegou? Perguntou diretamente.
A próxima mensagem chegou rápido.
Eu não sei.
Deixa eu te ver hoje, Alexandra.
Marcos ficou esperando os pontinhos de escrevendo aparecerem. Quando já estava desistindo, viu o movimento de digitação. Aguardou um instante e outro, até que a mensagem apareceu.
Não sei como agir sobre nós.
Ele se mexeu na cadeira.
Não precisa saber. Vamos só nos encontrar.
As mensagens começaram a ser trocadas quase imediatamente.
Eu sei que você espera mais.
Eu espero, sim. Mas será tudo no seu ritmo.
Marcos, não estou dizendo que acredito num recomeço.
Do seu jeito. No seu ritmo.
Eu não sei.
Só quero te ver.
A resposta demorou um pouco mais. Ele mordeu o lábio inferior, ansioso.
Sim.
Marcos ergueu o punho, comemorando.
Chego aí em meia hora.
Está bem. - ela respondeu.
Ele ficou um instante perdido apenas olhando para o telefone. Veria Alexandra! Riu sozinho e voltou à papelada com mais ânimo, sem nem mesmo se importar que não era seu horário de trabalho naquele dia.
A meia hora passou rapidamente. Guardou os relatórios, fechou sua sala e despediu-se da equipe da noite. Entrou no carro com uma gostosa sensação de antecipação. Dizia a si mesmo que deveria ir devagar, não esperar por nada em especial, mas não conseguia controlar sua felicidade. Depois de tantos anos tinha Alexandra tão próxima dele!
Chegou à casa de dona Lídice com os faróis baixos, sem querer chamar a atenção dos vizinhos. Sabia que se um deles o visse ali, no dia seguinte boa parte da cidade saberia. Ele não se importava, porém não queria que Alexandra se sentisse alvo das atenções de seus conterrâneos.
Desligou o automóvel e ficou na dúvida se deveria deixar sua arma ali. Franzindo os lábios, optou por levá-la; Bastos era uma cidade bastante tranquila, entretanto não queria arriscar a deixar a arma no carro.
Desceu do carro e entrou no quintal florido, aspirando o aroma das damas-da-noite.
Bateu na porta repetindo mentalmente que devia se comportar, dando espaço para Alexandra dirigir aquele momento como quisesse. Com certeza, ela estava sensível pelo encontro com o tal de Rodrigo e ele deveria controlar seus impulsos. Tudo o que queria era agarrá-la, levá-la para a cama e fazer amor até que ela aceitasse que deveriam voltar a ficarem juntos.
Parou à porta e respirou fundo. Não era um homem das cavernas! Podia se sentar e conversar amigavelmente, não podia? Daria a ela todo o espaço e todo o tempo que precisasse. Esfregou as mãos nas pernas das calças, reconhecendo que estavam suadas por pura ansiedade.
Calma, Marcos! Calma, Marcos! - repetiu mentalmente, como num mantra.
Bateria na porta, a cumprimentaria educadamente e trataria de manter as mãos longe dela. Estava ali apenas para ouvi-la.
Sentindo-se um perfeito cavalheiro, ergueu a mão para bater, porém a porta se abriu antes.
Alexandra estava vestida com um vestido leve e usava chinelos; o cabelo crespo estava solto, formando uma moldura encaracolada para o rosto que ele amava tanto.
- Oi. - ele cumprimentou, encantado por vê-la novamente.
Alexandra não respondeu, mas franziu as sobrancelhas como se estivesse vendo algo de que não gostou. Marcos apalpou a arma, contudo ela estava bem disfarçada pela blusa solta. Seu coração acelerou, pensando no que a estava incomodando.
- Tudo bem?
Alexandra piscou e ele viu lágrimas surgindo em seus olhos.
- O que foi? Querida?
Marcos estendeu as mãos, preocupado, entretanto ela o tocou primeiro. Alexandra passou os braços por seu pescoço e se apoiou contra ele. Num reflexo, Marcos a abraçou. O corpo dela tremia e ele acariciou suas costas.
- Alexandra, o que foi? - ela respondeu com um soluço e escondeu o rosto em seu pescoço.
Marcos sentiu a respiração agitada na sua pele. Ele temeu que o pior houvesse acontecido com dona Lídice. Ou Rodrigo fizera algo contra ela?
Segurou-a pelos quadris e começou a afastá-la. Não esperava o gesto que veio a seguir. Alexandra ergueu o rosto e colou a boca na sua. Surpreso, Marcos não reagiu imediatamente.
Ela apertou-se mais contra ele e abriu os lábios, tocando-o com a língua.
Então, ele não resistiu. Abriu os lábios e correspondeu ao beijo dela.
Não foi um carinho tranquilo, pelo contrário, Alexandra beijava-o com ardor. Mergulhava a língua em sua boca com pressa, enroscando-a na dele, sugando seus lábios com vontade.
Marcos a apertou e correspondeu ao beijo com o mesmo ardor que ela.
Todas as suas preocupações e cuidados desapareceram durante aquele beijo. Ele a queria e não fugiria do carinho dela, fosse lá o motivo que a movia./////////
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Lembranças de uma paixão ( concluída)
RomanceEle era fruto da escória da cidade, ela fora criada para ser uma princesa. Juntos, mostraram a todos que o amor sempre constrói. Até ele a trair... Mas a mágoa e o tempo seriam capazes de apagar uma paixão ardente?