Capítulo 26

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Alexandra chegou ao leito da avó com o coração cheio de esperança; o médico dissera que a avó iria para o quarto no dia seguinte. Sorriu para ela.
- Vó! A senhora está tão bem!
- Eu me sinto muito melhor.
Inclinando-se, Alexandra beijou a avó . A idosa a olhou fixamente.
- Você está muito bonita.
- Nem me maquiei.
- Não precisa. - sorriu para a neta . - Você está radiante.
- Estou?
Alexandra abaixou os olhos. Ela não estava radiante, estava apavorada. A avó segurou sua mão.
- Você viu Marcos? - perguntou, de repente.
- O quê? - sentiu um sobressalto e seu rosto queimou ao olhar a avó.
- Pensei que tivesse visto o Marcos.
- Bem... - desviou o olhar. - Eu o vi.
- Hoje?
Alexandra piscou, alarmada, como se a avó pudesse descobrir o que acontecera.
- Eu o encontrei de manhã.
- E conversaram?
Ah, ela fizera mais do que conversar, mas a avó nunca poderia saber.
-Conversamos.
A avó acariciou sua mão.
- Eu e Marcos sempre nos vemos.
- É?
- Sabe que ele é delegado da polícia?
- Sophia me contou .
- É um rapaz muito esforçado . Sempre foi , não é?
Alexandra não queria falar de Marcos. Só em pensar nele suas pernas fraquejavam.
-E a senhora, como se sente?
- Melhor ao te ver aqui. Que bom que veio.
- É claro que eu viria.
Viu sua avó fechar os olhos e se preocupou em a estar cansando.
- A senhora quer descansar ?
A avó abriu os olhos.
- Você é feliz?
- Eu... Eu sou. Sou muito feliz.
- Então, está tudo bem com você?
- Está. - Alexandra lambeu os lábios. - Tenho um bom emprego, moro num lugar ótimo...
- E o amor? - Lídice a olhava agudamente.
- Estou muito feliz.
Ela o olhou com ar de incredulidade.
- Está mesmo?
- Estou, vó. Rodrigo é um homem maravilhoso.
- Que bom... Não há nada melhor do que estarmos com o homem que amamos.
- É, sim.
- E passar a vida toda com ele.
- É.
- O que eu mais gostava era quando eu e seu avô ficávamos sozinhos. Tínhamos tanto para falar...
- Unhum.
- E ele me amava do jeito que eu era.
Alexandra ficou em silêncio. Nunca falara do seu amor por Rodrigo para sua avó. Ela sabia apenas que ela e Rodrigo namoravam e ficariam noivos no próximo mês. A avó ainda não sabia o quanto ele a fazia sentir segura e a valorizava profissionalmente.
Mas eu o traí com Marcos. - pensou, sentindo-se mal. Fora um ato tão louco que ela mal conseguia acreditar!
- A vida do casal tem suas dificuldades, mas quando há amor sincero, tudo se torna mais fácil.
- Minha vida com Marcos será muito boa. - um choque a percorreu quando percebeu que usou o nome errado. - Rodrigo! Com Rodrigo!
Lídice a olhou com os olhos muito abertos e com um meio sorriso na boca. Alexandra balançou a cabeça como se pudesse expulsar Marcos de seus pensamentos.
- Você ainda pensa em Marcos. - afirmou.
- Não! Marcos é passado, vó!
- E ontem?
- O que tem? - perguntou, porém supondo que sua tia contara que os vira juntos .
- Leandra disse que estavam conversando.
- Estávamos.
- E hoje de manhã? - os lábios de Alexandra se entreabriram e ela aspirou o ar, desconcertada. A avó notou seu embaraço.
- O que foi?
- Nada .
- Nada? O que aconteceu?
- Nada, vó. - respondeu, mas sua voz mostrava incerteza.
- Vocês se encontraram aonde?
Alexandra se remexeu.
-Na beira do rio.
-Na beira do rio?
- Eu estava correndo.
-Ah, esqueci que você corre. - fez uma pequena pausa. - Vocês conversaram?
- Ahãm. - ela sentiu seu rosto pegando fogo. O rosto de Marcos, tenso à espera do clímax, surgiu em sua mente.
- Alexandra... - a avó apertou sua mão.
- Vó, eu vou me casar com Rodrigo. - declarou, ansiosamente.
- Mas o que aconteceu hoje?
Sua avó era a pessoa que mais a conhecia. Ela a criara com a liberdade de expor suas opiniões  e fazer perguntas, descobrira logo no início seu amor por Marcos e sempre fora aberta para Alexandra desabafar. Engolindo em seco, Alexandra imaginou como conseguiria esconder  da avó algo tão importante. Soltou um suspiro.
- Marcos me levou na lagoa.
-Ah... - encarou-a firmemente.- E?
- Aconteceu o que não era para acontecer.
- Vocês se beijaram?
E como!
- Sim. - suspirou. -E mais outras coisas...
- Ah, minha filha...
- Mas eu me arrependi!Rodrigo não merece isso!
- Você ficou feliz ?
- Como?
- Quando você estava com o Marcos... Ficou feliz?
Alexandra pensou em todas as emoções que sentira naquela manhã. Raiva , medo, desejo... Se sentira feliz? Lembrou da boca de Marcos grudada à sua, a pele quente roçando na sua, a sensação de satisfação depois do sexo. Como se sentira? Sentira como se tivesse voltado para casa, como se seu corpo estivesse adormecido e só acordara completamente depois que Marcos a tocara.
- Eu não sei...
- Ficou triste?
- Não.
- Sentiu raiva dele?
-Não... Me senti culpada por causa de Rodrigo.
- Entendo.
A avó respirou profundamente; estava cansada.
- Quer descansar, vó?
- Já vou. - apertou a mão da neta.- Mas quero te dizer mais uma coisa. - Alexandra se inclinou para ouvir. - Dê uma chance ao Marcos. Dê uma chance para vocês dois.
- Mas o Rodrigo...
- Você vai saber resolver.
- Não posso voltar para o Marcos. Não depois que ele...
- Só perdoe, minha neta. Ele só precisa do seu perdão .
- Mas eu não consigo perdoa-lo.
- Já tentou?
- Não.
Lídice fechou novamente os olhos.
- Pense, Alexandra. Pense no que você tem agora e no que pode ter. A vida, meu amor, passa muito rápido.
Alexandra permaneceu em silêncio. Não esperava aquela conversa com sua avó. Não esperava se sentir como sentia.
Esperou que ela falasse mais, entretanto a avó não abriu os olhos. A mão que segurava a sua afrouxou e se deu conta que a avó adormecera.
Ficou mais um minuto apenas a admirando e depois soltou sua mão.
Saiu da enfermaria sentindo um grande peso sobre os ombros. A avó a fizera demonstrar toda sua confusão e medo, mas também a fizera perceber que precisava fazer algo à respeito do que vinha acontecendo naqueles dias. Como contaria o que acontecera a Rodrigo? Como seu namorado reagiria a uma traição com um homem do qual ele nunca ouvira falar?
Desceu para o saguão e encontrou a tia. Levou-a para casa, ouvindo a tia lhe dar várias indiretas sobre Marcos.
Quando retornou para casa se sentia muito cansada. Dispensou Fernanda e subiu para o quarto. Deitou-se na cama necessitando dormir. Talvez o sono ajudasse a acalmar seu coração e a concatenar as ideias.
Fechou os olhos e descansou.

Lembranças de uma paixão  ( concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora