Capítulo 28

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Alexandra sentia a sinceridade de Marcos. Ele não tentava se justificar, mas explicar como acontecera a loucura que fizera e suas consequências. Ela sofrera demais com a traição e evitara pensar se ele sofria também.
Na primeira vez que revira Marcos ficara impactada pelo que vira no olhar dele: uma surpresa encantada, saudades, amor... Ela construíra uma nova vida, encontrara um novo amor. Fora natural imaginar que o mesmo aconteceria com ele.
Mas saber que ele ainda a amava, que ainda estava apaixonado por ela, estava provocando instabilidade nas suas emoções. E a perda total do senso. Só assim conseguia aceitar que se entregara completamente a Marcos, ou pior, que buscara o que acontecera.
Não podia negar que seu corpo reagia a ele exatamente como era antigamente. Sua respiração acelerava apenas em vê-lo, sua pele esquentava quando ele chegava perto e, sem pudor nenhum, se excitava quando ele a tocava.
Mas perdoá-lo...
Analisou seus sentimentos. Ainda sentia raiva ao pensar na traíção, ainda sentia mágoa.
- Eu não posso.
Ele arriou os ombros, mas não soltou sua mão.
- Você... Você ainda me ama?
- Eu tenho o Rodrigo.
- Perguntei se ainda me ama.
- Eu amo o Rodrigo. - declarou, tentando ser minimamente leal ao namorado.
- E a mim, Alexandra?
- Não posso amar duas pessoas ao mesmo tempo.
Ele a olhou fixamente.
- Não, não pode.
Alexandra correspondeu ao seu olhar, sentindo o medo tomar conta de si. Uma dorzinha fina começou na cabeça. Olhou para suas mãos unidas; seus dedos estavam entrelaçados. Puxou a mão e Marcos não resistiu.
- Marcos, é melhor você ir...
- Você não me respondeu.
Como responder? Estava confusa, abalada por aquela manhã e apavorada pelo que estava sentindo.
- Por favor, vá embora.
Ele se inclinou para ela devagar, passando o braço por trás das suas costas. Alexandra sentiu suas narinas dilatarem ao sentir o cheiro dele, um cheiro que conhecia muito bem.
Começou a repetir em sua mente o nome do namorado como um mantra, esperando que ao pensar nele seu coração acalmaria. Seus olhos, porém acompanharam o desenho do rosto dele, as rugas na testa que o deixavam com um ar emburrado e a boca... Quantas vezes beijara aquela boca, quantas vezes aqueles lábios não percorreram seu rosto, seu pescoço queimando-a de paixão.
De repente, não conseguia mais repetir o nome de Rodrigo.

O rosto de Marcos se aproximou do seu e ela fechou os olhos. Sentiu uma mão segurando sua nuca e deixou que ele a puxasse para si. A boca cobriu a sua e ela abriu os lábios recebendo a língua ansiosa. Deixou que sua língua deslizasse na dele, se enroscasse, chupasse. Não apenas se entregou ao beijo, mas queria dar a Marcos aquele prazer. Mergulhou os dedos nos cabelos dele da mesma forma que fazia no passado. Deixou os fios dourados deslizarem gostosamente entre seus dedos, arranhou o couro cabeludo, puxou mechas fazendo-o gemer.

Era como se aqueles anos não houvessem passado. Ela tocava Marcos, ele a tocava e se davam prazer.

O beijo profundo estava lhe tirando o fôlego, porém ela não reclamou. Queria mais.

Ficaram um longo momento apenas se beijando, acarinhando. Tal como fora de manhã, Alexandra sentiu vontade de chorar... Sentira tanta saudade...
Marcos se afastou, a respiração ofegante.
- Você ainda... me ama?
Alexandra respirava pela boca, o peito arfante pelo momento sensual.
- Eu não sei... - respondeu com a voz trêmula.
Marcos segurou seu rosto com ambas as mãos.
- Eu te sinto, meu amor.
Ela fechou os olhos. Também o sentia. Marcos demonstrava nos gestos a emoção que transbordava dos seus olhos.
- Marcos, eu falei à sério. Meu noivado já está marcado.
- Eu sei que falou à sério, mas também sei que está nos meus braços agora.
Alexandra sentiu vergonha. Como poderia ter Rodrigo e estar com Marcos? Recuou o corpo, porém ele a segurou com firmeza.
- Não, linda, não se afaste. - Marcos encostou a testa na sua. - Se está nos meus braços é porque quer estar. Não negue isso, por favor.
- Você precisa me entender, Marcos.
- Eu te entendo.
- Entende que errei hoje?
- Entendo que me quer...
- Eu não posso.
- Mas quer.
Como negar aquilo? Seu corpo declarava o que sua mente não conseguia assumir.
- Nossa história acabou há cinco anos.
- De jeito nenhum.
Alexandra segurou as mãos dele e as tirou de seu rosto.
- O que aconteceu hoje foi um erro.
- E a gente continua errando?
Ela se levantou e se afastou do sofá.
- Mas não pode acontecer novamente.
Marcos se levantou também.
- Você pensou sobre hoje? Pensou que me quis tanto quanto eu te quis?
Confusa. - pensou. - Eu estou tão confusa.
- Eu não pensei em nada. - colocou as mãos nos quadris.- E não quero pensar.
- Vai fingir que nada aconteceu?
Ela queria. Admirou-o. Estava tão bonito, tão sério... Custava a acreditar que o delegado sisudo era o mesmo homem que derretera junto com ela há poucos instantes. Sua perna enfraqueceu ao perceber que queria voltar para os braços dele.
- Eu vou resolver isso.
- Como?
- Nunca mais... - ele arqueou uma sobrancelha. - Não vai mais acontecer.
- Só isso? Vai deitar na sua cama hoje, fechar os olhos e não pensar em nós dois?
Uma raiva encheu sua mente. Por que Marcos tinha que ser tão difícil?
- Não sou como você, Marcos. Trair não é meu hábito!

Ele  franziu as sobrancelhas.

- Você nunca vai esquecer isso, não é?

- Porque aconteceu.

- Espera o mesmo tratamento do seu namorado? - ela entreabriu os lábios. - Ou pretende esconder dele?

Alexandra sentiu a hipocrisia em suas ações. Acusava Marcos de algo que ela mesma fizera.

- Eu contarei para ele.

- Por quê?

- Porque preciso ser honesta.

- E não tem medo da reação dele?  Acha que irá te perdoar?

- Eu... eu tenho que contar.

Marcos inclinou a cabeça para o lado e fixou o olhar nela. Parecia estar refletindo.

- Você está certa. - deu um passo na direção dela. - Conte pra ele.

Ela o encarou.

- Você quer que eu conte?

- Quero.

- Por quê?

Marcos se aproximou dela.

- Porque será mais fácil pra você.

- Mais fácil, Marcos?

- Para você aceitar que deve ficar comigo.

- Por que... - ela balançou a cabeça. - Como você tem tanta certeza?

Ele deu mais um passo. Agora estavam muito próximos.

- Se você me amava tanto quanto eu te amava esse amor ainda existe.

Alexandra sentiu seus ombros caírem, desanimada. Quanto mais conversava com Marcos, mais se sentia confusa.

- Marcos, isso tudo... - fez um gesto de um para o outro. - É muito para mim agora.

- E quando não será?

- Não sei.

Marcos a alcançou e segurou seus ombros. Puxou-a mais para ele.

- Eu te amo, Alexandra, sempre te amei. Eu errei com você e passei esses anos num deserto, desejando você, sonhando com a sua volta. - desceu as mãos e a abraçou. - Desde que  chegou eu mal consigo trabalhar, penso em você o tempo todo. - apertou-a em seus braços e escondeu o rosto em seu pescoço. - Te quero tanto e quero agora...

Alexandra se deixou abraçar. Podia tentar negar o que sentia por Marcos, mas seu corpo era atraído de uma maneira tão gostosa que não conseguia resistir. Onde estivera todo aquele sentimento por Marcos que explodira entre eles? Abraçou-o também, sentindo-se muito fraca.

- Eu preciso pensar... O que aconteceu hoje... agora... Preciso pensar.

Marcos suspirou e ergueu a cabeça.

- Promete pensar?

- Eu prometo.

Ele a encarou, os olhos mostrando dúvida. Levantou a mão e acariciou seu rosto.

- Eu te amo. Se eu tivesse o poder de tirar a mágoa que você ainda sente, eu faria. Mas não posso. Só tenho a te oferecer esse amor que nunca me deixou. - ele beijou levemente seus lábios e a largou. - Eu te amo.

Alexandra observou-o se afastar. Marcos abriu a porta e apenas a olhou. Quando a porta se fechou, ela se jogou no sofá. Tinha muito, muito em que pensar.










Lembranças de uma paixão  ( concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora