Marcos estacionou a viatura em frente à casa de Lídice, sem se preocupar com os vizinhos enxeridos. Por um momento pensou se Alexandra se importaria, porém se ela aceitou que ele fosse até lá, então não deveria estar muito preocupada com o interesse dos seus vizinhos.
Desceu e abriu o portão, pensando se aquela tarde seria feliz como na noite anterior. Não acreditava muito, pois toda vez que Maria Eduarda tocava em sua vida, algo de ruim acontecia. Ela ligara para ele logo depois de Alexandra e ele preferiu não atender.
Atravessou o jardim, sentindo o aroma das flores de dona Lídice. Lembrou-se do quintal entulhado de lixo onde passara mais da metade da sua vida. Agora sua mãe possuía um minúsculo quintal, mas muito florido.
Bateu à porta, sentindo um cansaço profundo. O momento de amor que tivera com Alexandra teria sido apenas isso, um momento? Fez uma curta oração pedindo a Deus que pudesse amar e ser amado, como sonhara todos aqueles anos.
Bateu à porta e esperou, ouvindo o canto das cigarras. O dia seguinte seria de sol e provavelmente seria lindo.
Quero viver esse dia com Alexandra. - pensou, tentando não ser pessimista.
Ela abriu a porta e ele notou o semblante muito sério.
- Oi.
- Oi. - ela respondeu, dando um passo para o lado.
Marcos entrou na casa e esperou que ela fechasse a porta. Marcos sentiu seu coração acelerar. Ela o expulsaria de sua vida de novo?
Segurou seus ombros e os sentiu tensos; acariciou-os lentamente.
- Você está bem?
- Você e Maria Eduarda tiveram algo antes de... - hesitou. - Ela disse que vocês se paqueravam.
- Não.
- Ela não dava em cima de você?
- Sim, mas... Eu nunca dei em cima dela. - Alexandra franziu as sobrancelhas. - Eu confesso que ficava envaidecido, mas era só isso mesmo.
- Por que ela mentiria?
Marcos respirou fundo.
- Pra você se sentir como está se sentindo agora.
- Por quê? Eu nunca fiz nada de mal para ela.
- Olha, se eu te disser que conheço a Maria Eduarda, estarei mentindo, mas sei do que ela é capaz. - Alexandra abaixou a cabeça e ele a abraçou. - Não fique assim.
Alexandra espalmou as mãos em seu peito e o afastou.
- Eu ainda não sei lidar com essa história, Marcos.
- Só espero que você me perdoe.
- Eu não entendo como você pôde me trair.
Marcos sentiu que a conversa se tornou pesada.
- Foram muitas coisas, mas não tenho uma desculpa real. Eu errei.
Alexandra mordeu o lábio inferior.- E se eu nunca conseguir te perdoar?
Ele sentiu um frio no estômago; aquele era seu maior medo.
- Vamos dar tempo ao tempo, tudo bem?
Ela respirou fundo.
- Marcos, um relacionamento entre nós agora será muito difícil.
- Como está sendo agora? - ele deu um sorriso e Alexandra piscou os olhos, surpreendida . - Está tudo maravilhoso. Para mim, pelo menos.
- Para mim também.
- Então, meu amor... - ele encostou a testa na dela. - Eu estou tão feliz.
- Eu também, Marcos, mas...
- Vamos deixar o mas para depois.
- E quando eu voltar para São Paulo.
- Eu vou te visitar, você vem me visitar.
- Até quando?
Marcos percebeu que Alexandra procurava por dificuldades. Beijou a testa dela e roçou os lábios.
- Até quando nós aguentarmos, pode ser? - ela pareceu pensar. - Por favor, eu sei que teremos dificuldades, mas... Só precisamos de uma chance.
Ela ergueu o rosto e o beijou rapidamente.
- Não me sinto segura para fazer promessas para você, Marcos.
- Não faça.
- E você não fará cobranças.
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Lembranças de uma paixão ( concluída)
RomanceEle era fruto da escória da cidade, ela fora criada para ser uma princesa. Juntos, mostraram a todos que o amor sempre constrói. Até ele a trair... Mas a mágoa e o tempo seriam capazes de apagar uma paixão ardente?