A rotina na editora era uma loucura na maioria dos dias. Por ser uma editora grande publicavam muitos títulos estrangeiros e muitos nacionais. Alexandra eta responsável por receber e ler títulos nacionais. Nos últimos anos ela conseguira emplacar no mercado três autoras e indicara diversas com um público mais modesto. Ela amava o que fazia e dedicava a maior parte do seu dia ao trabalho. Até reencontrar Marcos.
Pensava nele da hora que acordava até a hora de dormir. Se deliciava com as mensagens que chegavam durante o dia e esperava com ansiedade as ligações telefônicas noturnas. Gostava quando conversavam por vídeos, pois amava ver o amor que brilhava nos olhos dele.
Faziam três semanas desde que voltara para São Paulo; Marcos a visitara dois sábados atrás, mas o final de semana fora pouco e ela fora a Bastos no último fim de semana.
Tivera a oportunidade de ver Marcos interagindo com o filho e, mesmo vendo a semelhança do menino com a mãe, não conseguiu deixar de se apaixonar por ele. Pedro era engraçado, curioso e muito esperto para uma criança de cinco anos. Quando se despediram no domingo ele a abraçou e convidou-a para voltar. Marcos assistira a tudo com um sorriso orgulhoso no rosto.
Agora, enviava para seu leitor digital dois trabalhos originais. Um de um homem que escrevera um romance com uma pegada dramática, uma história sem final feliz. O outro era um romance de comédia romântica e ela estava ansiosa para ler. Sentia-se num final feliz e queria cercar-se de risos e felicidade.
Colocou os dois romances numa pasta especial e desligou o leitor. Só começaria a ler os originais mais tarde.
A porta da sua minúscula sala se abriu e ela ergueu os olhos para ver sua chefe direta, Anelise.
- Oi. Não te vi hoje.
A morena bonita sorriu para ela e sentou-se.
- Estava numa reunião com a diretoria.
Alexandra apenas assentiu com a cabeça. Há dias a equipe com que trabalhava levantava hipóteses para as seguidas reuniões da diretoria. Especulavam desde o corte de servidores até uma possível fusão com outra grande editora.
- Alexandra, vim te fazer uma proposta.
- Proposta? - sentou-se mais rigidamente. - Vai me demitir?
- O quê? Claro que não! - Anelise ajeitou a franja estilosa. - Você é nossa melhor descobridora de novos talentos.
- Ai, que susto. - colocou a mão no peito.
- Mas haverá cortes de pessoal...
- Nossa.
- E passaremos por uma grande restruturação. - Alexandra prestou bastante atenção. Aquilo tinha a ver com ela. - No seu setor, por exemplo, manteremos apenas você e outro que você selecionará da sua equipe.
- Terei que escolher entre os três?- perguntou alarmada.
- Infelizmente, sim.
- Não sei, não, Anelise...
- Terá que ser assim. Nós vamos nos mudar.
- Para onde?
- Para salas num condomínio novo. Te confesso que precisamos cortar custos.
- Iremos para um lugar menor ?
- Sim. E você não terá mais uma sala.
- O quê?
Alexandra sentiu o coração acelerar. Se não seria despedida, então...
- Haverá uma sala comunal, onde os chefes de setores se reunirão quinzenalmente.
- Quinzenalmente?
- Esta é a proposta que tenho a te fazer. - ela se inclinou na cadeira. - Você trabalharia remotamente e nos daria um feedback quinzenal.
- Eu só precisaria estar na empresa de quinze em quinze dias?
- Sim. E você resolveria a dinâmica de trabalho com o seu assessor.
Pela cabeça de Alexandra passaram diversas ideias, porém a que se destacou brilhando fortemente foi a de que poderia trabalhar de qualquer lugar. Poderia trabalhar de Bastos!
Perdeu grande parte do que sua chefe dizia, porque só conseguia pensar em estar com Marcos.
- ... uma boa opção? - ouviu Anelise dizer.
- Ah, desculpe... Pode repetir?
A mulher sorriu.
- Você anda muito distraída mesmo.
- Desculpe, estou mesmo.
- Tem a ver com aquele adônis louro com quem te vi semana passada?
Alexandra ficou surpresa.
- Você me viu?
- Vi, entrando num táxi no Ibirapuera.- Alexandra ficou constrangida, pois comentara com a chefe sobre seu término com Rodrigo, mas não falara sobre Marcos. - Alto, forte, bonito...
- Você sabe quem ele é.
- Eu sei?
- Meu antigo noivo.
Anelise ergueu as sobrancelhas e alisou mais uma vez a franja.
- Qual? Aquele da sua cidade?
- Ele mesmo.
- Uau... Um amor do passado? Que reviravolta!
Alexandra se mexeu, incomodada.
- Eu estou tentando ser discreta... Por causa do Rodrigo.
- Você tem razão. Rodrigo merece a consideração.- Anelise bateu as mãos. - E, então? Aceita o trabalho?
- Claro, Anelise. A editora faz parte da minha vida. Pensou que eu não aceitaria?
- Pelo contrário. Disse aos outros diretores que você não abandonaria os seus projetos.
- Obrigada pela confiança.
Anelise se levantou.
- Obrigada você por ter aceitado nossa reestruturação.
Dando um aceno de mão, a mulher saiu de sua sala.
Alexandra ficou ponderando em como a vida podia mudar de uma hora para outra. Decidiu mandar uma mensagem para Marcos.
Oi.
A resposta veio rapidamente.
Oi, amor. Está tudo bem?
Ela sorriu para o aparelho.
Tudo ótimo. Hoje à noite tenho uma novidade para te contar.
Os pontinhos de escrevendo pularam pelo visor.
Conta agora.
Depois, meu amor.
Agora, vai!
Sorrindo, Alexandra digitou para ele.
A editora passará por uma restruturação. Trabalharei em home office e só precisarei aparecer de quinze em quinze dias.
A nova mensagem veio rápido.
Como assim? Trabalhará de casa?
Ela respirou profundamente sabendo como Marcos reagiria.
Trabalharei de casa seja lá onde ela for.
Por um longo momento ela não viu os pontinhos aparecerem. Pensou no que estaria se passando pela cabeça dele. Então os pontinhos voltaram.
Você poderia trabalhar aqui?
Posso.
Aqui em Bastos?
Sim, amor.
Os pontinhos saltaram e saltaram na tela. Ela deu um sorriso de nervoso, desejando ver o rosto de Marcos.
Alexandra, por favor não me faça perguntar.
Ela jogou a cabeça para trás, sorrindo de pura felicidade.
Eu me mudarei para Bastos. - respondeu, sentindo que não havia dúvidas em sua mente.
O telefone tocou , assustando-a. Era Marcos numa ligação de vídeo. O rosto dele apareceu, os olhos muito atentos.
- Está falando sério?
- Estou. - ela riu da expressão que ele fez.
- Eu... Você virá mesmo?
-Sim. Preciso ficar perto da vovó; ela está muito fraquinha.
-Ah... - a decepção no rosto dele foi clara e ela se apressou em dizer.
- E eu quero estar com você, Marcos.
Um sorriso enorme transformou o rosto dele.
- Virá pra mim?
- Já sou sua, amor.
Ela viu o pomo de Adão dele subir e descer e uma vermelhidão surgir ao redor do rosto de Marcos.
- Eu te amo, Alexandra.
- Eu também te amo, Marcos.
- Nunca mais vou te perder?
- Não, meu amor.
Ela ouviu barulho de batidas e Marcos virou o rosto.
- Já falo contigo, Patrícia. - falou para alguém.
Alexandra não viu a pessoa, mas ouviu a voz.
- Tudo bem, Marcos.
Ele tornou a olhá-la e fez uma cara de frustração.
- Tenho que desligar.
- Tudo bem; nos falamos à noite.
- Eu queria ir aí.
- Eu também queria que você viesse.
- Te verei no sábado, está bem?
Ela sorriu, sentindo um arrepio ao pensar nele em seu apartamento.
- Estou contando os dias.
Ele sorriu novamente.
- Tá, meu amor. Te amo.
- Te amo, Marcos. - ela lançou um beijinho para a tela e encerrou a ligação.
Alexandra suspirou. Quando voltara a Bastos não imaginara que também voltaria para os braços de Marcos. Sentiu um calor nos seios quando recordou como fizeram amor no meio de uma estrada, um amor desesperado que tirou sua razão. Agora se perguntava como conseguira ficar tanto tempo sem Marcos. A necessidade que tinha dele chegava a doer.
Fechou os olhos por um instante e pensou no que a vida reservava para eles. E o que viu foi muito bom.E estamos chegando ao final de "Lembranças de uma paixão.", a seguir.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Lembranças de uma paixão ( concluída)
RomanceEle era fruto da escória da cidade, ela fora criada para ser uma princesa. Juntos, mostraram a todos que o amor sempre constrói. Até ele a trair... Mas a mágoa e o tempo seriam capazes de apagar uma paixão ardente?