Marcos sentiu o calor da pele de Alexandra subir por suas mãos, despertando o desejo de abraçá-la. Quis tanto que, por um instante, se perdeu do que diria. Ah, sim, ela o odiava.
— Você me odeia mesmo?
— Me solte. – mesmo sem querer, ele a soltou. Alexandra se afastou dele. — Eu não quero odiar você, não quero odiar ninguém.
— Mas me odeia.
— Você sabe o que fez.
— Eu sei. – Marcos admirou o olhar firme, mesmo sabendo que ela o estava detestando naquele momento. — Mas ainda assim eu espero o seu perdão.
Ela estalou a língua.
— Quer o meu perdão para se sentir em paz?
— Sim.
Ela apertou os lábios.
— Ouça, Marcos. Vim para Bastos ver minha avó. Não vim para discutir um assunto antigo.
— Antigo como, se ainda te faz me odiar?
— Você se arrependeu?
— Sabe que sim.
Ela apertou novamente os lábios e olhou em frente. Marcos queria ser capaz de entrar em sua mente. Quando Alexandra ergueu a mão e mexeu nos cabelos, ele acompanhou com os olhos, desejando fazer o mesmo.
— Eu não quero, mas ainda sinto muita mágoa, Marcos... Você não pode esperar que eu esqueça tudo simplesmente.
— Eu esperei esses anos todos pra te pedir perdão. Eu teria ido atrás de você, mas sua família não permitiu.
— Eu não permiti.
— Você, então. – ele respirou fundo. — Só tente me perdoar, Alexandra.
As emoções dela mostravam-se claras em seu rosto; estava confusa. Olhava para baixo, depois para frente e tornava a abaixar os olhos. Alexandra ficou em silêncio por um longo tempo, contudo ele resolveu esperar. Suas mãos coçavam para tocá-la, sentir sua pele de novo. Sentia-se novamente como aquele rapaz que não tolerava ficar um dia sem vê-la. Como podia ter passado tanto tempo e ainda amá-la tanto?
Então, ela ergueu o rosto vagarosamente.
— Você me magoou muito.
— Eu sei.
— Nós tínhamos planos e você pisou neles.
— Eu sei. – repetiu.
Alexandra franziu fortemente a testa.
— Entende como é difícil o que está me pedindo?
— Eu entendo.
Ela o encarou.
— Eu prossegui minha vida... Sou feliz... E quero deixar tudo isso para trás.
— Fico feliz por você. Sempre pedi a Deus pra te fazer feliz... Mas eu pedi também pra você voltar para mim.
— Marcos, por favor, vamos deixar isso para trás.
— Eu não posso.
— Mas precisa. Você tem seu filho, sua carreira...
— Mas não tenho o que quero.
— É passado, Marcos.
Não, não era passado. – ele declarou em sua mente.
— Você não vê como passado. Ainda está magoada.
— Mas isso tudo passará. Vou me casar, ter meus filhos...
— Como? - ele se sobressaltou.
Ela inclinou a cabeça.
— Vou me casar.
Marcos perdeu a fala. Era claro que ela reconstruiria sua vida!
— Quando?
— Não marcamos a data ainda.
Ele a imaginou vestida de noiva caminhando para os braços de outro homem e odiou aquele desconhecido.
— Certo. – pigarreou. — Certo.
Observou o rosto de Alexandra, devorando as feições que sabia ainda amar. O ciúme quase o sufocou. Forçou-se a falar.
— Eu... Quero que seja feliz.
— Obrigada.
— Você merece.
Marcos reviu os pensamentos loucos que há três dias enchiam sua mente, pensamentos nos quais ela o perdoava e permitia que entrasse de volta em sua vida. Num impulso segurou sua mão; Alexandra entreabriu os lábios, surpresa.
— Eu estou mentindo. – ele confessou.
— O quê?
—Estou mentindo sobre o que eu disse.
O olhar dela foi de espanto.
— Não quer que eu seja feliz?
— Eu quero, quero, sim. – ela tentou puxar a mão, porém ele entrelaçou os dedos nos dela. — Mas não quero você com outra pessoa.
— Marcos...
— Eu ainda te amo.
— Não... – ela sussurrou.
Ele estendeu a outra mão e segurou seu rosto. Alexandra recuou o rosto, entretanto ele não a soltou.
— Deus queira que eu não esteja errado, mas não acredito que você me esqueceu.
— Eu te esqueci, Marcos.
— Esqueceu que me amava?
Ela balançou a cabeça, tentando se afastar dele. Marcos notou sua respiração acelerada e ficou satisfeito com aquilo.
— Você me fez esquecer!
— Eu não quis. Fui um canalha, eu sei, mas não queria perder o seu amor.
— Mas perdeu! – ela quase gritou.
Marcos a puxou contra ele.
— Eu não acredito.
— Solte-me agora!
— Não quero.
— Você não tem que querer!
Ela puxou a mão com força, mas apenas fez com que seu corpo colidisse com o dele. Marcos se lembrou de quando brincavam e ele a agarrava dizendo que não a soltaria nunca mais. Alexandra ria e lutava, tentando se soltar, mas no final se aconchegava nele, feliz. Entretanto, ela não estava feliz agora, parecia angustiada. Marcos a soltou.
— Se lembre da gente, Alexandra.
Ela segurou suas mãos e as afastou.
— Pare com isso, por favor! Eu... eu amo o Rodrigo.
— É o nome dele?
— Sim, meu futuro marido.
— E esqueceu tudo o que vivemos?
— Já disse: é passado! Passado!
Ele deixou que ela se afastasse, tentando se controlar, o amor que ainda sentia arrebentando o seu peito. Desejava muito segurá-la, prendê-la ao seu peito, contudo não queria que ela o odiasse mais. Alexandra se levantou e falou com a voz trêmula.
— Se você quer mesmo que eu seja feliz, Marcos, só deixe tudo no passado.
Marcos se levantou também.
— Você deixou?
Ela engoliu em seco e ergueu o queixo, lhe dando um olhar desafiador.
— Se eu não deixei é só pela mágoa. Mas você está me mostrando que eu não devo me prender nem por isso.
Marcos a admirou. Sempre a achara bonita, porém os anos a fizeram linda.
— Você fugiu de Bastos. – ela ficou calada. — Nunca mais voltou. E foi por minha causa.
— Pare, Marcos.
— Mas foi.
— E de que adianta isso?
— Você não voltou para cá, porque ainda sente algo por mim.
— Está sendo arrogante.
Ele se aproximou dela. Alexandra engoliu em seco.
— Você me odeia, eu acredito. – cruzou os braços. — Mas também acredito que ainda sinta algo por mim.
— Depois de seis anos?
— Eu sinto, não importa quanto tempo passou . – de boca aberta, Alexandra balançou a cabeça, todo o seu corpo mostrando a tensão que sentia. Ele estendeu as mãos num pedido de calma. — Talvez seja uma segunda chance para nós.
— Não existe nós... – sussurrou.
Marcos deu um passo para ela. Sentia-se febril, a emoção transbordando pelos seus poros. Estava sozinho há tanto tempo!
— Nós podemos fazer devagar... no seu tempo... – o rosto de Alexandra estava contorcido, como se estivesse assustada, seu peito se movendo com a respiração acelerada. Marcos deu mais um passo, ela não recuou e ficaram muito próximos. — Tente, Alexandra...
Ela o encarou longamente. Marcos sentia seu coração batendo tão forte que ouvia seu som. Estendeu a mão e, muito devagar, segurou a mão dela. Alexandra estremeceu e ele ergueu a outra mão, subindo vagarosamente por seu braço. Ele sentia o cheiro dela, era diferente do que ele se lembrava, e sentiu vontade de encostar o nariz em seu pescoço e aspirá-lo. A boca de Alexandra tremia e ele sabia que estava tocada pelo momento. Inclinou a cabeça e ela permaneceu com os olhos fixos nos dele. Ele iria beijá-la.
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Lembranças de uma paixão ( concluída)
RomanceEle era fruto da escória da cidade, ela fora criada para ser uma princesa. Juntos, mostraram a todos que o amor sempre constrói. Até ele a trair... Mas a mágoa e o tempo seriam capazes de apagar uma paixão ardente?