Capítulo 1

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Isabella Bacelar

Me pego pensando mais uma vez no mesmo assunto. A mesma coisa que volta e repete na minha cabeça a semanas, “O amor realmente existe? E se existe, porque não pode ser para todos? Será que existe mesmo essa questão de alma gêmea? Será que existe alguém que foi feito pra mim? Será que eu já conheci essa pessoa e perdi ou ainda não conheci... Ou pior, será que nunca vou conhecer?” Nesses últimos dias eu me questionei muito sobre esse assunto e será que essa questão de destino pode realmente existir?

Tudo isso fica rodando na minha cabeça por causa do caos que estou vivendo, segundo a minha terapeuta. Eu me separei a alguns meses, um ano e alguns meses na verdade. O motivo da separação é ridículo para não dizer patético. Meu ex marido pediu o divórcio porque estava me traindo. E ele tinha uma boa explicação para isso e eu nem precisei questionar nada.

Levi era engenheiro como meu pai, mas deveria ser advogado. Ele tinha argumentos pra tudo, uma lábia incrível. Poderia fazer qualquer um parecer inocente, mesmo que fosse assassino pego na cena de crime com a arma na mão, ele sempre conseguia mudar o jogo. No fim do relacionamento toda essa argumentação era ridícula e cansativa.

E porque eu estava com ele? Levi sempre foi atraente, como eu disse, tinha uma ótima lábia, muito inteligente chegando até mesmo ser fascinante. Entendia de todos os assuntos, mesmo que tivesse acabado de acontecer. Mas por trás dessa perfeição existia um homem irritado, grosso e controlador que eu só fui conhecer depois de um tempo.

Nosso relacionamento foi maravilhoso e rápido. Levi trabalhava com meu pai a um tempo e o velho Raul , como Levi o chamava, já era fã número um. Com isso, nos casamos em seis meses. Eu não queria fazer uma festa e Levi não fazia questão. Então casamos no civil e decidimos morar na casa dele, mais tarde entendi que ele tinha decidido isso por nós.

Levi trabalhava muito, ele tinha uma empresa que terceirizada trabalho para as obras do meu pai. E na verdade Levi gostava de trabalhar, ser o provedor da casa. Ele não gostava da ideia de me ter trabalhando, só aceitava por que eu estava na empresa do meu pai e na cabeça dele eu ia pra lá ficar sentada na minha sala e assinando papéis quando meu pai não estava na empresa, dentro desse pensamento, eu não trabalhava, ficava o dia inteiro batendo papo e fazendo compras no meu intervalo.

Quando na verdade eu já assumia algumas obras, fazia quase todas as reuniões e negociações , porque meu pai achava chato demais. E cuidava dos funcionários da empresa. Tentei explicar diversas vezes. Mas isso nunca entrou na cabeça de Levi. A mãe dele era uma mulher submissa e extremamente dependente do marido e dos filhos. Levi tinha só um irmão, e ele tratava a mulher da mesma forma que a mãe foi tratada. E no nosso casamento, Levi não fez diferente.

Depois de seis meses de casamento meu papel como mulher casada foi cobrado. Eu precisava dar um filho a Levi. Para ser sincera, eu não queria. Não naquela época. O casamento estava muito recente, a empresa estava ganhando novos investidores, eu tinha acabado de conseguir um projeto enorme e totalmente diferente do que a gente já teria feito, era uma experiência única e nova. Eu queria aproveitar isso, me dedicar 100%. Essa seria a oportunidade para levar a nossa empresa para outro nível era um compromisso que eu tinha que ter, meu pai era apenas o rosto da empresa, não levava nada a serio. Essa era a oportunidade que eu como profissional estava precisando. Mas Levi não quis saber. Eu era mulher, tinha que dar a família que ele tento queria. Meu foco não era trabalhar.
Então começamos a tentar, nos quatro primeiros meses eu ficava feliz quando dava negativo. Mas no quinto teste negativo eu comecei a me sentir estranha,  uma pequena parte de mim estava começando a desejar ser mãe. Eu nesse momento eu já não sabia totalmente se queria ser mãe de um filho de Levi, mas a vontade da maternidade estava começando a bater na minha porta. Por outro lado, com essa quantidade de testes negativos Levi começou a suspeitar que eu tinha algum problema, que eu tinha o útero defeituoso como ele falou uma vez durante uma briga.

Então decidimos buscar ajuda. Um médico que foi indicado pelo irmão de Levi. Eles também tiverem problema para engravidar, a esposa tinha um problema no útero, fizeram um tratamento e no mês seguinte o positivo veio.

Começamos o tratamento e Levi estava ansioso. Ele estava certo que no mês seguinte eu estaria grávida. O que ele não sabia é que as coisas não funcionavam no tempo dele. Começamos os exames, Levi queria que fizesse tudo de uma vez, em uma semana, queria apressar tudo. Eu corri contra o tempo como pude. Mas só de tratamento levou três meses. As brigas aconteciam o tempo todo, Levi achava que eu não engravidava porque eu não queria engravidar, como se eu tivesse controle disso. Ele dizia que meu cérebro tinha travado meu útero. Em um ponto do tratamento ele parou de falar, o médico começou a suspeitar que ele poderia ser o problema, mas logo depois essa suspeita caiu por terra e essa página do tratamento foi esquecida.

Depois de um ano tentando engravidar, fazendo tratamentos milagrosos que não tinham efeito , nosso casamento estava acabando. Levi entrava e saia de casa sem falar comigo. E quando falava era o básico, necessário e estava sempre olhado para a tela do celular ou assinando um documento. Nosso relacionamento se tornou frio e automático. A culpa de não conseguir engravidar me consumia a cada dia, e eu questionava a Deus porque eu estava sendo castigada daquela forma, o que eu tinha feito para não conseguir engravidar? Foi porque eu não desejei no início? Mas eu tinha mudado, queria mais que tudo.

Com um ano e meio de tratamento e tentativas o dia fatídico chegou. Essa memoria ficou gravada na minha mente, eu faço de tudo, mas não consigo esquecer, toda vez que eu tento conhecer alguém, a cena volta e se repete, como uma marca e por esse motivo procurei terapia.
Era quinta feira, uma e trinta e duas da manhã. Eu estava preocupada porque Levi não tinha chego em casa, ele sempre chegava nove horas. Eu já tinha deixado várias mensagens, já tinha ligado diversas vezes e o telefone estava desligado. Minha cabeça viajava e eu pensava nas piores coisas, “ será que ele sofreu um acidente? Será que foi assaltado? Sequestrado?”

 Minha cabeça viajava e eu pensava nas piores coisas, “ será que ele sofreu um acidente? Será que foi assaltado? Sequestrado?”

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