Capítulo 6

102 8 0
                                    

Caleb Nolasco

Era mais um dia de comemoração na empresa. Conseguimos fechar o contrato com uma empresa grande, o dono era Raul e parecia ser um cara legal. Não pediu desconto, entendia dos materiais. Hoje seria o dia de entregar. Essa era a nossa primeira grande entrega. Ele disse que se gostasse do material fecharia com a gente para futuras obras. E eu preciso disso.

Minha empresa está no inicio. Estamos ganhando nome no mercado agora. E esse contrato vai me ajudar a crescer mais ainda. Sou honesto, trabalho muito. Mas comecei do zero, sem nada, tive mais chance em outros estados do que aqui. Mas tudo está mudando, melhorando.

Trabalhei em dois empregos para consegui juntar dinheiro e montar a minha empresa. Estudei muito, conheci muitas pessoas para chegar aonde estou hoje. Não foi fácil.
Minha mãe, Dona Lavinia, é uma mulher forte. Criou eu e minha irmã trabalhando muito. Nós temos 5 anos de diferença.  Catarina sempre foi um amor, era extremamente carinhosa, parecia a Felicia do desenho da nossa infância. Me lembro dos abraços apertados e longos, das vezes que chorava quando eu ia dormir na casa de um primo, das brigas porque eu não queria levar ela para as festas ou jogos de futebol comigo. E na adolescência dela brigando com toda garota que se aproximava. Catarina , ou CaTáh , como eu chama as vezes , era extremamente ciumenta, as vezes eu até me irritava.

Todo esse ciúme só diminuiu quando ela entrou o homem da vida dela, Jonathan, eu tinha muita pena dele. Mas depois com o tempo o que tinha que ter pena de Catarina. Eles estão casados a 10 anos, têm dois filhos  Rael de 8 anos  e Caê de 4 anos,  apelido de Caetano.

Catarina ainda sente ciúme. Mas depois de encontrar Jonathan se tornou uma “testemunha do amor “ Ela sempre diz isso no bom sentido e eu digo sem sarcasmos. Ela vive me perguntando quando vou parar com uma mulher e que vou dar primos aos filhos dela, porque as crianças precisam de primos e mil outras coisas que ela fala e paro de ouvir.

Não sou contra casamento. Mas todo mundo sabe que o casamento não é fácil. Meus pais são a prova viva disso, Catarina também. Me lembro de crescer vendo meus pais brigando. Meu pai sempre gostou de beber, mas quando eu completei 6 anos. As coisas começaram a ficar difíceis em casa, Catarina era um bebê ainda e por sorte não viveu nada disso.

Me lembro do meu pai chegando bêbado em casa, coisa que ele não fazia antes. Minha mãe sempre foi muito calada, ela apenas observava e sabia a hora certa de falar. Meu pai sempre trabalhou muito, mas não tinha sorte, duas empresas foram a falência, outra o patrão explorava ele. Hoje eu vejo que não era fácil. Mas eu nunca teria desistido como ele desistiu. Meu pai foi fraco.

Minha mãe vendia quentinha, quando a crise veio, passou a vender salgadinhos para festa também. Me lembro de ver minha mãe virando a noite trabalhando, quando eu completei 8 anos comecei a ajudar, minha mãe me dava tarefas pequenas de início, mas eu sempre pedia mais. Queria tirar o peso das costas da minha mãe.

Com nove anos quis arrumar um emprego e descobri que com a minha idade eu não podia fazer muita coisa. Então cuidava de Catarina, passei a levar e buscar ela do colégio. E em casa ajudava a minha mãe em tudo. Nossa casa era pequena mas tinha tudo o que a gente precisava. Nunca passamos fome. E eu e Catarina não pedimos nada aos nossos pais, nem presente, nem festas de aniversário a gente sabia o quanto era difícil e o assunto dinheiro era sempre motivo de briga em casa.

Os anos se passaram e o alcoolismo do meu pai estava causando problemas maiores  Com onze anos eu presenciei a primeira vez que ele foi agressivo verbalmente com a minha mãe. Eu nunca tinha visto meu pai falar daquela maneira. Catarina estava brincando na casa de uma vizinha e não viu nada, fiquei aliviado por isso. Depois desse episódio tudo ficou diferente. Meus pais se afastaram e tudo era motivo para confusões desse nível.

Me lembro de estar com quinze anos. Estar voltando do colégio com Catarina. Eu sempre segurava a mochila dela e a mão. Catarina estava com dez anos e falava por quatro pessoas. Me lembro de abrir o portão e ver minha mãe chorando pela janela da cozinha. Ela fez um sinal para eu não entrar. Olhei em volta e não vi nenhuma vizinha que pudesse ficar com Catarina naquele momento.

- CaTáh, hoje você vai almoçar com a Joana ok ? – Falo fingindo estar animado.

- Mamãe deixou? – Ela pergunta feliz.

- Não. Mas eu converso com ela. Vamos logo. – Falo e vou andando na direção da casa de Joana.

A mãe da Joana, Dona Maria , era amiga da minha mãe. Ela sabia de muitas coisas que aconteciam. Então as vezes, Catarina ficava na casa dela. Fui andando o mais rápido que pude, mas sem que Catarina percebesse que tinha algo diferente. Assim que cheguei na casa de Dona Maria, CaTáh foi entrando correndo pra ver Joana. Expliquei o que tinha visto e disse que voltaria para buscá-la daqui a pouco.

Voltei correndo pra casa, abri o portão o mais rápido que pude, abri a porta de uma vez só e vi meu pai quebrando o vaso preferido da minha mãe. Eu fiquei um choque com a cena. Minha mãe estava machucada, meu pai bêbado de uma forma que eu nunca tinha visto, a casa estava desarrumada e eu sentia raiva. Eu não sei como tudo aconteceu, eu só sei que quando me dei conta eu estava empurrando meu pai contra a parede. Ele se assustou e se levantou com dificuldade.

- Sai daqui e não volta mais. – Eu falei com raiva.

- Está maluco garoto. Essa casa é minha. Sai daqui você. – Meu pai brigava comigo.

- Pega suas coisas e sai. – Falo e vou para o quarto.

Quando eu percebi, estava no quarto dos meus pais. Jogando tudo o que era dele dentro de mochilas. Meu pai entrou no quarto com dificuldade e me empurrou pra longe das bolsas. Eu caí no chão e bati com as costas em algo que me cortou, provavelmente algo que ele quebrou.

- Eu não vou sair da minha casa. Mas você vai garoto abusado. – Meu pai gritava e vinha na minha direção.

Foi tudo muro rápido. Meu pai estava em cima de minha me dando socos e eu tentava me defender. Depois de um tempo os vizinhos apareceram e tiraram meu pai se cima de mim. Me lembro de estar tonto e ver minha mãe assustada na porta do quarto. Assim que tiraram meu pai, ela me aproximou e me abraçou.

- Porque fez isso? Eu que tinha que te defender menino. – Ela falava e passava a mão no meu rosto.

- Ele nunca mais vai te machucar mãe. – Eu falo e desmaio.

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Destinada ao Amor Onde histórias criam vida. Descubra agora