Capítulo 5

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Isabella Bacelar

Projeto pessoal era o nosso código. Todo ano a gente guardava dinheiro o ano inteiro e arrecadava através de doações de outras empresas parceiras nossa, depois de reunir um montante eu e meu pai decidíamos qual lugar iríamos fazer um projeto para ajudar. Nossos parceiros já estavam acostumados. Em um ano que o preto foi grande fizemos até um jantar para ajudar.

Esse ano ele optou pela África, um pequeno vilarejo onde abrigam muitas mulheres com crianças. O lugar precisava de tudo um pouco. Mas a pior parte era a falta de água potável. Esse problema atrapalha tudo, alimentação, saúde...

Eu queria muito conhecer o lugar, mas no fundo eu já sentia que conhecia o lugar e as pessoas, era como se eu já tivesse pisado la. Eu que desenhei o projeto usando as fotos que o chefe Jafari tinha enviado. Eu estava conversando com ele a alguns meses entendo as necessidades do bairro e qual seria o melhor projeto.

Jafari era o chefe o vilarejo, como se fosse um prefeito. Era um homem de setenta e poucos anos, tinha nascido na cidade e morado a vida inteira lá. Conhecia cada integrante do vilarejo e fazia questão de visitar cada criança que nascia. Durante esses meses de conversa Jafari me apresentou através de fotos e vídeos a alguns integrantes da comunidade, me mostrou eventos que as crianças participavam. As vezes eu sentia que já conhecia tudo e todos.

Ele era um homem de muita fé. Mas dizia que o povo não acreditava que esse projeto iria acontecer. O povo sempre  perguntava o que eles teriam que dar em troca. Eu entendo a desconfiança deles, mas eu não queria nada. Eu tive muita sorte de conseguir tudo o que eu tenho hoje e meu pai também. Tivemos muito esforço mas muita ajuda divina também, sinto que estou em débito de alguma forma.

Mas a África era muito longe. Já fizemos muitos projetos nacionais e começamos a pouco tempo projetos internacionais, sempre em países que a gente já tinha visitado. Mas eu nunca fui para a África. Eu estava negociando todo o projeto a meses, mas estava certo do meu pai ir, ele se preparou pra isso. Eu não. Não aprendi o idioma por completo. Não aprendi sobre a cultura e costumes. Não estava totalmente segura.

- Não quer ir? – Ele me pergunta me analisando.

- Não é isso... Eu vou... Eu que negociei o projeto e eu que entendo das plantas. Só me passa o relatório do material, eu não estava lá no dia...  Vai dar tudo certo. – Falo sorrindo.

- Vai gostar da viagem. E precisa disso, sair um pouco do escritório. Precisa conhecer novas pessoas. Vai ser bom ... – Meu pai fala enquanto dirige.

- Pai... – Ele não me deixa terminar.

-  Sei do quanto foi traumático o Levi. Eu vi como você ficou. E não quero que isso aconteça nunca mais. Me culpei por meses achando que eu deveria ter feito algo. Que devia ter evitado de alguma forma. Mas eu não pude...  Sabe filha... Não quero que fique sozinha. Nossa família é pequena. Todos moram longe demais... – Meu pai fala preocupado.

- Não vou ficar sozinha pai. Eu só não encontrei ninguém ainda... – Falo tentando acalma-lo.

- Nem está procurando... Está fugindo. Quero que você seja feliz filha. Que encontre o amor que eu encontrei. – Ele fala com os olhos brilhando.

- Eu sei pai. Mas não sei se quero mais. Quero ter filhos, mas não quero casar. Não vou mais dividir uma casa. Me unir a alguém. Não consigo. Vou viver todos os dias com medo quando meu marido se atrasar depois do trabalho, sempre vou achar que ele vai entrar bêbado em casa me dizendo que engravidou a amante e que está me expulsando de casa.... – Falo com lágrimas nos olhos.

- Você vai encontrar um homem bom filha. – Meu pai fala e para o carro em frente ao meu prédio.

- Mesmo que eu encontre. Quem vai querer ficar com uma mulher que não pode ter filhos? – Falo desanimada.

- Não fala isso filha. – Meu pai fala triste.

- Sabe que é a verdade. – Falo e saio do carro.

Meu pai fica me olhando de forma triste. Eu me despeço com um aceno de mão e entro no meu prédio. Passo pela portaria em silêncio e vejo meu pai sair com o carro. Sorrio para o porteiro mesmo sem vontade e ele me devolve um sorriso simpático. Entro no elevador sozinha e mais uma vez sinto o peso da solidão.

O elevador para no meu andar, vou me arrastando até a minha porta. Abro a porta, entro e tranco. Me sento no sofá e escuto o silêncio pesado que  o meu apartamento tinha. Nenhum barulho. Ninguém para me receber em casa, ninguém para ouvir como foi meu dia, ninguém para eu contar que em breve eu viajaria para África.

Me levanto, vou direto para o banheiro e tomo meu banho. Minutos depois saio nua secando meu cabelo. Coloco o primeiro pijama que vejo e me sento na cama com o notebook. Fico estudando sobre os materiais e revendo as fotos do vilarejo. Sem me dar conta durmo na frente do computador.

A semana passou e eu fiquei despontada, a mulher responsável pela adoção me ligou dando uma desculpa qualquer e remarcando minha visita para dois meses

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A semana passou e eu fiquei despontada, a mulher responsável pela adoção me ligou dando uma desculpa qualquer e remarcando minha visita para dois meses. Era muito tempo . E eu estava ansiosa aguardando. As semanas foram passando e eu estava na correria. Não queria chegar no vilarejo sem falar o dialeto para facilitar a comunicação, eles falavam uma língua siJár ao português, era como o espanhol que tem o sotaque, algumas palavras são diferentes mas no geral dá pra entender. O que já me ajudava, e como eu estava a meses conversando com Jafari eu já estava me acostumando com o sotaque carregado.

O vilarejo era fascinante. Os tecidos era sempre cheios de cores e formas geométricas. As músicas sempre muito animadas que deixam os eventos sempre com um ar de extrema felicidade e harmonia. Eles pareciam ser muito unidos, como uma comunidade familiar. As mulheres eram unidas em tudo, na maneira de criar seus filhos, de cozinhar, cuidar da casa e da comunidade. As crianças cresciam juntas e todo mundo se ajudava.

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