Capítulo 58

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Isabella Bacelar

Caleb estava estranho desde que chegou, aéreo. Eu perguntava as coisas, falava e ele não respondia. Marina fez duas perguntas e ele não respondeu nada. Eu insisti que ele viesse porque ele estava falando em namoro, filhos. Eu achei que estava tudo bem conhecer a casa do meu pai. Mas acho que foi demais.

Ele está frio e distante. Perdido na verdade. Eu tentei concertar levando ele para o meu quarto. Achei que a gente iria demorar mais. Que ele tentaria alguma coisa. Mas ele só ficou parado olhando tudo.
Eu provavelmente forcei a barra. Ele não queria tudo isso. Deve ter falado tudo da boca pra fora. Eu devo estar apressando as coisas e forçando ele. Vou acabar perdendo ele por idiotice. Então é melhor pisar no freio.

Faço o check in e fico enrolando, esperando Marina acabar o dela. Não queria voltar lá e falar algo errado ou fazer algo errado.

- Pode ficar com o Caleb. Eu já vou terminar aqui. – Ela fala olhando os documentos.

- Vou te esperar. – Falo e ela me olha.

- O que aconteceu? Brigaram ? – Ela fica me analisando.

- Acho que forcei a barra sabe? Ele está estranho... Eu não sei o que fiz... Ele ficou distante. Caleb não queria vir e eu insisti. Acho que foi isso. Acho que ele não estava pronto para conhecer vocês. – Falo nervosa.

- Quer cancelar a viagem? – Ela não tira os olhos de mim.

- Não. Precisamos relaxar. E acho que ele precisa de tempo. Ficar aqui não vai ajudar em nada. – Falo e ela entrega os documentos.

Marina termina de fazer o check in. Voltamos lentamente para nossas malas. Os dois estavam conversando, mas mudaram de assunto quando nos chegamos. Eu me sento em silêncio ao lado de Caleb. Segundo depois meu pai faz Marina ir a uma loja comprar presentes.

Era um vício do meu pai. Toda vez que ele vinha ao aeroporto ele precisava comprar algo.  Marina se levanta sem vontade. O silêncio entre nós dois era angustiante. Eu sentia que precisava falar algo. Mas não queria falar a coisa errada. Caleb estava ao meu lado extremamente incomodado, estava claro.

- Isabella... Eu queria... Te pedir desculpas... – Não deixo ele terminar.

- Não. Eu que não tinha que ter te forçado a vir. Me desculpa. – Falo e ele fica me olhando.

- O que? Não.. – Caleb é interrompido.

- Isabella.... Bellaaaaa. – Meu pai vem gritando. – Eu consegui. O último globo de neve da coleção. A menina disse que ia separar. E separou. Disse que estava a quatro meses aqui me esperando. – Ele fala animado me mostrando.

Globo de neve era a nova coleção dele. Meu pai adorava colecionar coisas inúteis. Depois de um tempo Marina fazia ele se desfazer. Então ele vendia por um preços qualquer na internet para colecionadores como ele. Essa coleção estava durando bastante tempo. Marina estava sendo bem paciente dessa vez.

Acho que no fundo ela tinha cansado de brigar com ele. Meu pai é assim. Eu não sei porque ela se apaixonou por ele. Mas sei que ela cuidava muito bem dele, mesmo dando muito trabalho, muito mesmo
Escuto chamarem o nosso vôo. Marina me olha avisando que era o momento. Eu estava envergonhada e chateada. Eu me levanto, respiro fundo. Meu pai da um beijo apaixonado em Marina como de costume. Caleb fica me olhando perdido.

- Bem. Assim que chegar avisa. – Ele fala de forma automática.

- Tudo bem. – Falo e pego minha mala.

Eles vêm nos acompanhando até o portão de embarque. Nos despedimos de longe e seguimos. Marina fica o tempo inteiro me olhando mas não fala nada. Entramos no avião, encontramos nossos lugares e sentamos. Dou uma última olhada no telefone e nenhuma mensagem. Coloco em modo avião e fecho os olhos.

André estava atrasado mas chega antes de fechar a porta. Ele senta próximo. Passo a viagem inteira remoendo tentando entender aonde eu errei. O que eu fiz, se forcei demais. E fico sem entender. Me culpo e o sentimento era angustiante. Ele que começou, eu conheci a irmã dele, porque eu não poderia apresentar meu pai e Marina ? Eu fui até a casa dele e ele foi a casa do meu pai. Não fazia sentido. Mas eu errei, forcei, não devia ter feito. Aperto minhas mãos sem perceber.

- O que eu fiz errado? – Falo baixo.

- Em relação a que? – Marina fica me olhando.

- Caleb. Acho que forcei a situação. Ele não está pronto. – Falo olhando para a janela.

- Eu não sei. Tenta relaxar. Da esse tempo do vôo pra ele. Quando chegar, avisa que chegou como ele pediu e vê se vocês conseguem se resolver. – Ela fala de maneira simples.

- Verdade. – Fico pensativa.

- Isabella. – Olho pra ela. – Só não fica remoendo... Se culpando. Não sofra antecipadamente nem em silêncio. Espera para conversar com ele. Escuta o que o Caleb tem a dizer e qualquer coisa me chama... Sei que... Não sou a sua mãe. Mas eu estou aqui se precisar conversar. – Ela fala e segura minha mão.

- Obrigada - Eu seguro a mão dela e sorrio.

...

Como minha semana foi corrida. Minutos depois do avião levantar vôo eu dormi. Acordei com Marina me chamando. Achando que já tínhamos pousado. Abro os olhos sonolenta ainda e vejo as pessoas se organizando para sair do avião. Levanto da cadeira que era extremamente confortável e pego minhas bolsas. Vou seguindo Marina para fora do avião. Descemos e André foi nos guiando até um restaurante. Entramos para tomar um café e André foi buscar o carro.

- Já é de madrugada. Precisamos tirar a sexta de folga nos dias de viagem. Toda vez chegamos de madrugada e falamos que não vamos mais fazer isso. – Falo sonolenta.

- Senhoritas o carro já está nos esperando. – André fala sério como sempre.

- Toma André. Precisa de alimentar. – Marina fala enquanto entrega pão de queijo, um salgado e um café para André.

- Não precisava se preocupar senhora Bacelar. – Ele fala imóvel.

- André come se não eu vou comer. – Falo com sono.

- Pode comer. Não se preocupe. – Ele fala me olhando.

- Me da isso Marina. Vou enfiar na garganta dele. – Falo fingindo estar seria.

Ele da um leve sorriso e pega o lanche. Eu faço um sinal e ele senta para comer. Terminamos nossa ceia e vamos para o carro. André vai dirigindo rápido mas com cuidado para o hotel. Assim que chegamos ele vai a recepção, faz o check in. Sem dúvidas ele estava muito mais acordado do que eu. Os dois me deixam no meu quarto e se despedem. Eu deixo minhas malas no chão. Vejo a mensagem de Bomani me perguntando se eu tinha trancado a porta e tranco. Digo a ela que tranquei e dou boa noite como de costume. Deito na cama e abro a conversa com Caleb, nenhuma mensagem. Fecho os olhos com o celular ligado.


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