Capítulo 26

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Isabella Bacelar

Vejo Caleb entrar na tenda com dois homens armados. O que ele está fazendo aqui? Era pra ele estar arrumando as coisas dele em casa para a viagem. Estar  longe daqui. Fico irritada com a situação. Penso em algo para tirá-lo da tenda.

- Porque ele está aqui? Ele não serve pra nada. Quem tem o dinheiro sou eu. Ele é um pião como os outros. – Eu falo um pouco desesperada com o líder

Os homens se comunicam entre eles e o chefe fica me olhando. Entendo algumas palavras como homem, mulher, tenda e sair. Mas no final nada faz sentido. Mas sei que eles estavam considerando tirar Caleb da tenda.

- Eu tenho dinheiro também. Não é só ela é dona de empresa eu também sou. Não tinha dinheiro como ela. Mas eu tenho. – Ele fala irritado no pior momento.

- Eles não estão falando de cinquenta mil em uma conta. Eles querem milhões. Você não tem esse dinheiro. – Falo de forma soberba.

Caleb fica me olhando entender. Qual é o problema dele? Ele quer morrer ? Ele não entendeu a situação?

-Não tenho dinheiro como você Isabella. Mas tenho dinheiro. Eu tenho uma empresa. Eu que forneci todo o material da obra. Todo esse material aqui é meu. – Ele fala irritado olhando nos meus olhos.

- Então fica também. – O líder fala de maneira calma. – Jafari, como vamos fazer? Quero o meu dinheiro.

- Eu vou te pagar. Eu juro. Só preciso de um pouco mais de tempo. Com essa obra vamos pode receber turistas. Vou conseguir te pagar. – Jafari fala nervoso.

- Se tem dinheiro para obra tem dinheiro para me pagar. – O líder fala em um tom mecânico e controlado.

- Eu estou financiado a obra. Eles não estão pagando nada. Quanto ele está te devendo ? – Falo tentando parecer firme.

- 322.345,65  Rand. Quero apenas meu dinheiro. Nada além disso. – O líder mantém o tom.

- Quanto é isso em reais? – Falo nervosa querendo pegar meu telefone mas apontam as armas.

- Não sei. Esse é um problema seu. – Um homem aparece, fala algo e líder sorri. – Já  peguei minhas garantias.

O líder sorri e nos leva para o lado de fora da tenda. Ao lado dos carros deles tinham dois caminhões com grades. Dentro deles várias mulheres e crianças desesperadas chorando. A cena me embrulha o estômago.

- Eu vou te pagar. Eu juro. – Falo nervosa.
O líder faz um sinal e fala algo. Dois homens vem na minha direção. Eles seguram meu braço com força e me machucam. Vão me arrastando para o caminhão. Caleb vem na minha direção mais dois homens vão na direção dele, jogam ele no chão rápido, um deles pisa nas costas de Caleb e o outro aponta a arma pra ele.

Eu entro em Pânico. Sinto meu coração acelerar. Tentava respirar e não conseguia. As mulheres gritavam por socorro e as crianças choravam. Eles abriram a porta e as mulheres tentaram sair, um homem começou a atirar e todas se jogaram no chão da caminhão. Eu tentava respirar e não conseguia. O homem me jogou no chão do caminhão. A porta se fechou atrás de mim com um barulho muito alto. As mulheres ainda estavam no chão protegendo suas crianças.

Os homens entraram no caminhão. Eu tentava puxar o ar mas não vinha. Meu pulmão estava doendo. Eu olhava para as mulheres em pânico, as crianças chorando e tremendo. Algumas estavam fazendo um tipo de oração com os braços para o alto. Consegui ouvir no meio da gritaria Caleb chamando meu nome.

Ele estava deitado no chão, cheio de barro no corpo. Um homem com o pé nas costas dele e o outro com o cano da arma empurrando a cabeça dele para baixo. Jafari estava chorando em silêncio com uma arma apontada para a cabeça. Olho para Caleb de novo e ele estava gritando.

- Isabella... Vai ficar tudo bem. Eu vou te tirar daí. – Ele gritava desesperado.

Os homens entram no caminhão e dão uma arrancada. Algumas mulheres e crianças caem no chão. Eu caio e bato com a cabeça no chão. Olho para Caleb desesperado enquanto o caminhão sai em alta velocidade. Os homens que estavam com eles entram no carro aí da apontando as armas mesmo de longe e vem na nossa direção na mesma velocidade.

Depois de alguns minutos chegamos em um lugar muito bem protegido. O lugar era tipo uma área militar. Tinham homens armados na porta. Assim que o portão abriu eu pude ver homens circulando armados e carros e caminhões como o que estavam com a gente. Tudo era muito precário. Mas ainda sim dava medo. Depois de recuperar um pouco do ar consigo tento falar.

- Aonde estamos? – Falo com dificuldade.

- Cartel Makori. – Uma mulher abraçada ao filho me responde baixo.

- Porque estamos aqui? – Falo com um pouco menos de dificuldade.

- Jafari está devendo dinheiro. – Ela continua.

- Ele pegou emprestado pra que ? – Pergunto nervosa.

- Ele não pegou. É o tratado de Makori. – Ela continua.

Os homens fazem um sinal e abrem a porta. Nós descemos morrendo de medo. Uma mulher estava com duas crianças. Gêmeos que pareciam ter dois anos. Ela pegou a menina no colo e o menino ficou parado assustado. Eu me aproximei, tentei sorrir e peguei ele no colo. O menino estava assustado, mas veio. Fizemos uma fila e uns cinco homens armados nos acompanharam.

Ficamos trancadas em uma espécie de prisão onde deveriam caber dez pessoas, tinham quinze Quase não tinha lugar para sentar, o menino ficou sentado no meu colo, de lado olhando para a mãe e com a cabeça encostada no meu peito. Eu estava abraçando ele para de sentir seguro.

- O que é tratado de Makori? – Pergunto a mãe do menino.

- Eles oferecem proteção, nos deixam ter comercio e garantem segurança ao turista o que ajuda com o turismo no vilarejo por um preço. – Ela explica.

- Jafari se enrolou. Não estamos recebendo turistas como antes por causa da crise. Ele podia ter nos contado. O vilarejo poderia ajudar. – Outra mulher fala.

- Um Rand equivale a quantos reais, vocês sabem? – Elas negam com a cabeça. – Ao dólar? – Elas negam novamente- Euro. – Tenho a mesma resposta.

Eu pesquisei sobre isso no início do projeto, e lembro que a nossa moeda valia mais. Só que dinheiro não era uma preocupação e eu não tinha a intenção de fazer compras aqui. Olho em volta algumas crianças chorando. Algumas mulheres machucadas. E então eu me dou conta de que eu também me machuquei. Olho meu joelhos e mãos arranhados provavelmente do impacto na hora que eu caí. Minha cabeça estava doendo.

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