Capítulo 11.

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Quando Carolina se levanta, com a mão na barriga, sinto a reprimida outra vez. Irá embora. Por vinte dias, quem sabe? Quarenta? Não consigo dar mais.

Victor chamou um motorista para levá-la, e acompanhá-la até sua casa. Bárbara irá junto. Estamos na entrada.

- Tudo bem, amiga? Você ficou estranha de repente. Na verdade, todo mundo ficou estranho de repente. - ouço-a sussurrando para Bárbara. Ela suspira.

- Não é nada. Na verdade, é, mas depois te explico melhor. Victor tem mania de se afastar quando as coisas estão perigosas, achando que é o melhor a se fazer, quando o que eu preciso mesmo é que ele fique mais próximo. - ela devolve em outro sussurro. Carolina apenas toca seu ombro. Parece do tipo de amiga que a aconselhará melhor, depois. Quero pedir seu conselho. Saber se seria melhor que ficasse onde estou, ou retirasse a manchinha de molho em seus lábios com a língua.

A primeira opção, certamente.

- Já chamei Jonas. Ele vai levar Carolina primeiro e deixá-la em casa. Depois vai te deixar na sua. - Victor se dirige às duas.

- Tá. - Bárbara responde. Um carro preto estaciona em frente à entrada. É então que me lembro.

- Espere. - ordeno. Vou até o quarto, recolhendo o livro que não percebeu que era para ela. Volto à entrada.

Estendo seu livro. Mas sua reação não é algo com que me preparei.

Imaginei que sorriria, me agradeceria. Mas ela começa a ficar ofegante, sua respiração expandindo o peito. Seus lábios se entreabrem, e ela... chega perto demais. Mais do que qualquer outra vez. O ar some entre nossos corpos. Suas curvas apertam meu corpo, quentes e macias. Seus braços envolvem minha cintura, e não sinto meu corpo só como meu. Vira um só.

Sinto calor demais. Pulsações demais vibrando meu corpo.

Um abraço. Ela minha abraça. Teve a coragem de... seu rosto é a única parte que se afasta, apenas para ela... beijo. Não consigo processar o momento em que alcança minha bochecha, que afunda os lábios nela. Apenas o barulho. Baixinho, molhado. A maciez dos lábios selando minha pele. Tão simples quanto... desastroso. Disastro. Afflizione. Ela me desordena, me aflinge.

Minha mandíbula está formigando, descendo para o pescoço. Um ruído fica preso em minha garganta. Sinto-me incapaz de puxar ar.

- Muito obrigada. Você fez de uma noite péssima minha uma das melhores. Obrigada por me dar o livro, me deixar dormir no seu sofá e por me fazer ficar para comer. - ela sussurra, mas não estou sã. Meu batimento cardíaco está em descontrole. Minhas células, agitadas, em um pane desconhecido à procura de alívio. Minha pele, zunindo, como a vibração de uma onda de calor vinda... dela. - Prometo que posso devolver limpinho e lisinho, se você quiser. Parece um pecado ficar com essa edição.

Parece um pecado querer abrir seus lábios e sentir seu gosto.

- Não quero que me devolva.

- Pera, então vai me dar mesmo? De verdade?

- Vou.

Ela sorri. Observo os traços de perto. Perto demais. Traços que desencadeei. Que fui o responsável por trazê-los. A curvatura de seus lábios, o gesto espontâneo... fui eu quem fez aparecer. Seus braços ainda estão enrolados em meu tronco quando me abraça outra vez. Seu cheiro e calor me cercando.

Sou o primeiro a me afastar. Ela parece desnorteada.

- Pronto? Vamos logo antes que fique tarde demais. - Bárbara a puxa para dentro do carro. Carolina entra, fecha a porta e olha em meus olhos uma última vez. Mas suas íris passam de gratas a depravadas. Ela desliza o olhar até um ponto logo abaixo, então leva o dedo à boca para mordiscar, entre tímida e pensativa, os olhos brilhando. Fica corada quando percebe que estou observando sua reação. Olho para baixo e vejo a barraca armada.

O carro sai lentamente pela entrada, e eu e Victor permanecemos parados. A brisa gelada dissipa qualquer resto de calor dela.

- Nem pense. - Victor murmura. - Ela não merece seus problemas. É boa demais. Provavelmente não quer nada com você.

É um fato. Provavelmente, não. Não sabe quem sou. Tratou-se apenas de um agradecimento. Uma demonstração de afeto inesperada, da qual não pude repudiar de imediato. Ela não sabe a podridão que carrego. Tampouco o que há por dentro de mim, e eu não deveria estar cogitando retirar suas roupas. Pedaços de pano inúteis para sentir sua pele na minha, tirar-lhe a bondade, apreciar a sinfonia de seus gritos. Nunca.

É por isso que não deve ficar fora por vinte, ou quarenta dias.

Simplesmente não deve voltar.

Medicine | Volsher.Onde histórias criam vida. Descubra agora