Capítulo 33.

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Cinco horas depois.

Disfarçar é uma arte. Ocultar a verdade. Encobrir intenções. Colocar suas táticas abaixo da máscara da inocência. Escondê-la tão fundo que dificilmente irá tirá-la. Armas, soldados, comunicação constante... três aspectos em segundo plano. O primeiro é praticar a arte da enganação. Não sou nato neste quesito. Posso não demonstrar emoções. No entanto, não sei fingir simpatia. Naturalidade. Habitualidade. Meu reflexo, no espelho da sala, ressalta a afirmação. Observo Victor e GS, descendo, em seus ternos passados.

Augusto deixa duas batidas em meu ombro direito.

- Está bom. - ele olha para baixo. - O que fode são estes tênis... não acho que terno combine com um air max 90 preto.

- Ainda bem. - murmuro.

- Ainda bem o quê?

- Que não pedi tua opinione.

Ele vai dizer algo, quando um barulho na escadaria o interrompe. Augusto fica boquiaberto. É então que movo o olhar na direção. Talvez devesse ter olhado devagar. Certamente, não faria-me quase cambalear.

Carolina está descendo as escadas. Seu cabelo está solto, fios moldando seu rosto delicado. Algo cintilando seus lábios, fazendo-os parecer um doce. Comestível. Está tão deliciosa que quero beijar cada parte dela.

Um vestido longo gruda em seu corpo, cor bege clarinho. Não há alças, deixando sua clavícula a mostra. Fixa em sua cintura e desce pelas pernas, uma fenda em um dos lados mostrando sua perna. Longa, deliciosa. A tortura acaba no salto em seus pés. Fininho, quase cegando-me em desejo. Ela é um anjo. Um pecado, projetado para fazer-me pecar. Ela termina de descer as escadas.

Se aproxima de mim. Estou paralisado. Duro. Desconcertado. Algo quente borbulhando em minha barriga.

- Acertei no vestido? - ela passa os dedos pelo tecido, coladinho na cintura. - Espero que não seja inapropriado, escolhi o mais simples que consegui encontrar em uma loja de luxo e se quiser culpar alguém, pode culpar a Babi. Ela se recusou a ir comigo em um lugar onde o preço mínimo dos vestidos não era cem mil. Peço desculpas pelos gastos. - tento mover a cabeça. Pronunciar algo. No entanto, meu corpo está em pane. Tudo o que sai é um ofego. - O quê? Eu devia ter exagerado mais? Está simples, não está? - ela começa a ficar agitada. - É que... sabe, eu achei que esse estava bom porque como sou um palito não achei que os espalhafatosos combinavam, mas talvez a estética não tenha combinado tanto para...

- Sei bellissima, Carolina.

Ela para. Olha em meus olhos, sorrindo e abaixando a cabeça de leve.

- Obrigada. Você também está... - ela suspira. - Bom, receio que a verdadeira definição seja extremamente inadequada, mas... - ela ri. - Você está igualmente... bellissimo.

- Acha que o tênis dele combinou? - Victor sai de sua melação. Carolina olha para baixo.

- Acho, por que? Ficou muito mais estiloso do que um sapato social.

Augusto e eu nos entreolhamos.

- Só pode ter sido combinado. - ele resmunga.

- Vamos? Já são quase dez horas. Vou chamar o carro. - GS aparece na sala.

- Vamos. - Victor e Bárbara saem andando.

Carolina também, mas olha para trás. E para quando me vê ficar.

- Tudo bem?

Assinto. Deveria ficar calado. Manter-me em silêncio. Não se revela inseguranças internas. No entanto, ela fica ali parada. Linda. Apoiada no sofá, pelo reflexo do espelho. Esperando. Não vai embora. Encaro meus próprios olhos. Não gosto de como são escuros. Não porque assustam, ou intimidam. Porque me lembra dele. Engulo seco.

- Não sou bom em agir... naturalmente.

Ela franze o cenho de leve. Mas não é preciso que eu explique. Sua expressão relaxa.

- Ah... você sabe agir naturalmente. Talvez sua natureza não seja como a das pessoas, mas não tem nenhum problema nisso. - ela vem até mim, na frente do espelho. - É que, sabe... - suas bochechas coram de leve. - Você é intimidante por natureza, então talvez não vá causar uma imagem simpática, a princípio... mas isso não quer dizer que não possa estar à vontade. Por exemplo, você não está forçando nada agora. Só está com a guarda levantada. Por mais que ninguém preste atenção nisso, inconscientemente talvez saibam que você está suspeito, como se esperasse que algo aconteça para entrar em defesa. Talvez pela sua linguagem corporal. Os ombros tensos, por exemplo.

Ela toca meus ombros, o que os faz cair lentamente.

- E o visual também pode ajudar, como... - ela desliza os dedos até meu pulso. Sua proximidade faz meu corpo esquentar. Querer ficar mais perto dela. Ela começa a dobrar as mangas, até o meio dos braços. -... isso aqui. - Seus dedos roçam de leve em minha pele. É o bastante para levar uma onda de arrepios por meu corpo. Ela faz o mesmo do outro lado. E então leva as mãos para meu peito, lentamente. Seus dedos tremulam de leve. O calor dela faz meu corpo ferver. Ela começa a desabotoar um botão. - E... aqui também. - sua voz se torna ofegante. Ela desabotoa outro botão, deixando dois sem serem abotoados. Seus olhos se fixam em mim. - Porque... você fica mais despojado. Elegante, mas despojado ao mesmo tempo.

Não consigo parar de olhar para ela, por longos segundos.

- Grazie.

Ela sorri tímida, seus olhos presos nos meus.

- O que é grazie?

- Obrigada.

- Ah, não precisa agradecer. - ela mexe em seus próprios dedos. - Comparado ao que você já fez por mim isso aqui não é nada.

O que eu fiz por ela... Carolina não sabe o que eu poderia fazer por ela. Vou lhe dizer algo, quando ouvimos uma buzina.

Medicine | Volsher.Onde histórias criam vida. Descubra agora