Capítulo 38.

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Todos vamos para o corredor. Victor passa no banheiro, onde uma Bárbara assustada se escondia. Vou na frente com Carolina. Não faço questão de soltar nossas mãos.

Quando estamos quase na saída, alguém me atinge na lateral da cabeça.

Estou prestes a reagir, quando vejo um sapato voando. Carolina atinge o homem com a ponta do salto, segurando o vestido com a outra mão. Vou interrompê-la, mas a cena é...

Bom, é uma delícia. Ela o acerta mais três vezes, até o homem cair contra a parede.

- Calma, Caro...

- Eu já estava cansada de andar com esse salto! - ela interrompe Bárbara. - Agora que vi a oportunidade de usá-lo na sua cara, mais ainda! - ela afunda um chute entre as pernas dele.

Um normal já o afetaria. Com salto agulha, só posso lhe desejar que não perca uma das bolas. Ela volta a entrelaçar nossas mãos, e meu corpo amolece. Os dedos estão tremulando de leve. Como se ela houvesse tido medo de algo.

Voltamos a andar para a saída. Está chovendo forte quando saímos.

Carolina observa a rua, com os saltos nas mãos e os pés descalças. Ajo rápido, pegando-a no colo e seus saltos nas mãos. Ela envolve meu pescoço com as mãos, seus olhos nos meus. Não digo nada a ela. No entanto, espero lhe agradecer com os olhos.

Por não me deixar ficar nervoso. Perder o controle. Por mais que seja um erro. Não deveria criar dependência em algo para me manter controlado. Preciso fazer isso por mim mesmo. Assim que as duas estão lá dentro, volto a olhar para fora.

Mob estaciona a van do lado.

- Vamos para casa? - ele questiona.

- Não. - respiro fundo.

Aflição sobe por meu corpo. Mal consigo suportar precisar ir até lá. Não consigo parar de sentir desgosto. Não com alguém se passando pela IB. Assinando algo repulsivo.

- Vamos para o Galpão. - ninguém pronuncia mais nada. Silêncio recai sob noite chuvosa. O peso da seriedade do assunto torna o ambiente sombrio. Victor está me encarando com intensidade. Mob está de olhos arregalados. GS está de cenho franzido.

- Para o quê? - Victor sussurra. - O que vamos fazer naquela desgraça?

- Ver quem anda se passando por mim.

- Como assim? - GS franze o cenho. - Nós não... - ele balança a cabeça. -... nós não pisamos naquele lugar, Crusher.

Explico-lhes tudo em italiano. Não quero que Carolina escute. Não sei quem está assinando o contrato. No entanto, tomou cuidado o suficiente para que ninguém percebesse. Prendo a respiração. Algo me embala em uma sensação ruim. A invasão em meu quarto. Alguém assinando algo pela IB.

Por algum motivo, os dois ocorridos parecem se interligar. Paramos de discutir quando chegamos a um consenso.

Entro no carro. Mob dá partida à vã. Carolina está com o rosto virado na minha direção.

- O que aconteceu?

Há mais de um mês, era eu julgando Victor por contar tudo a sua namorada. Um mês depois, não hesito ao dizer para Carolina. Não depois de hoje mais cedo. A maneira com que pegou minha insegurança, sorriu e a transformou em algo suportável.

A fez desaparecer. Sumir do meu peito.

- Há alguém assinando um contrato pela Italian Blood. Ele permite que todos os anos, nós lucremos com um tráfico de prostituição. - ela tenta processar. - Não é como em boates, onde elas geralmente trabalham livremente e por conta própria. Eles... eles sequestram. De outros países. Geralmente, são dopadas. Violentadas, ameaçadas e colocadas em uma vã. Contra sua vontade. Atravessam o país e vão para o Galpão. É como chamamos o ponto de encontro onde essas vans vão e vem. Depois de virem para cá, as mulheres geralmente são leiloadas. Virgens valem mais, assim como as mais curvilíneas. É um negócio que lucra bilhões por ano.

Ela olha para o encosto do banco da frente, seu olhar coberto por preocupação.

- Meu Deus, Crusher...

- Como não fazemos esse tipo de negócio... vamos atrás de saber quem fez. Não é algo que minha família costumava apoiar, mas...

- Mas seu pai apoiava? - fico em silêncio diante da maneira com que acertou. Tudo o que era ruim, ele apoiava. Tudo o que era como ele; um tumor estragando órgãos. Não preciso lhe responder. Ela sabe. Seu rosto se recosta ao meu ombro, e sinto algo agitado no peito. A ajeito ao meu lado, querendo sentir mais o calor dela. Mais perto de mim.

Quero pressionar seu corpo no meu, no entanto, me contento com sua bochecha em meu ombro.

Quando o carro pega a pista, as janelas mergulham na escuridão da madrugada. Mob está atrás, a van com a luz iluminando a pista. A bochecha de Carol se move. A respiração quentinha em meu pescoço me desconcentra.

- Você vai querer que eu vá embora amanhã? - ela sussurra.

Meu interior se contrai em negação. E quem falou em ir embora, porra? Tento me controlar.

- Jonas pode levar suas coisas para o apartamento. Você quer ir embora amanhã?

- Só se você quiser.

- Mas você quer?

- Só se você...

- Carolina.

Ela ri baixinho, sua risadinha em meu ouvido fazendo algo quente inquietar em mim.

- Já entendi. Eu... - ela me olha. Diz mais com os olhos do que com os lábios. -... vou ficar mais um pouco com o Turmalina.

- Pode ficar com ele, se quiser.

- Não, eu... não vou ter muito tempo de dar atenção pra ele, por causa dos estudos, e... você me deu o apartamento, mas não as coisas com que eu vou me sustentar, e eu quero ser capaz de comprar elas. Mas provavelmente não vou conseguir comprar ração para ele. - vou lhe dizer para parar de graça. Para me deixar comprar suas coisas, também, mas decido não fazer isto.

Medicine | Volsher.Onde histórias criam vida. Descubra agora