Capítulo 31.

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Quando as duas finalizam, resolvem ir visitar o jardim da lateral da casa. Carolina passa a me observar por alguns segundos, um sorriso pintando seus lábios. Encará-la por muito tempo já é difícil. Uma tentação. Sinto-me preso em suas íris, como se fossem ímãs, puxando-me para ela. Sorrindo? Se torna mais difícil ainda. Os lábios cheinhos inclinados, os olhos sorrindo junto. Minha respiração falha. Tão linda. Quero um quadro dela em meu quarto.

- Por que não me disse que tinha um jardim aqui?! Eu adoro jardins. - ela sorri mais. - Posso levar o Turmalina com a gente?

Demoro a sair de seu encanto.

- Claro. Tormalina!

- Argh, o bicho preto. - Mob resmunga. - Ainda não entendi por que do nada você me aparece com essa bola de pelo. Ficou por uma semana o ensinando a fazer xixi no lugar certo e obedecer quando lhe chamasse, sem contar do playground que agora toma conta do teto da sala. Estamos assistindo TV e do nada um vulto preto começa a pular por aquelas coisas... - ele para de falar. Porque estou o encarando. Não quero que dê estas informações a Carolina. No entanto, agora já foi. Ela está mais animada ainda, seu corpo completamente virado em minha direção.

- Ai meu Deus! Você comprou um playground pra ele?

Turmalina pula em seus joelhos. Bárbara solta um gritinho.

- Esse é o Turmalina?! É um gatinho! Eu achei que fosse uma pessoa! Por que um gato está aqui?

- Boa pergunta. - murmura Victor. - Apareceu depois da noite em que ele sumiu outra vez, e não deixou que Jonas me dissesse onde ele havia ido.

- Vai ver adotou o gato. Qual o problema? Gostei dele. - GS questiona.

- Mas eu não. Minha avó dizia que eles são do diabo. - Marcos ergue o queixo. - Principalmente dessa cor.

- Ei! - Carolina aponta para Mob e abraça Turmalina. - Olha bem como você fala com meu filhinho. O Tumalina num é o diabo, é, Tumalina? Num é! Num é! 'Num sô o diabo não mamãe, ele tá mentindo pá vochê! - ela imita uma voz engraçada. Carolina é uma graça. - Vamos, Turmalina. Turmalina e Babi. - ela o coloca no chão. Os três saem andando, quando lembro-me de algo.

- Mio dolce. - as palavras escapam. Percebo o erro assim que saem. Três pares de olhos me sondando. Os dela brilhando, um sorriso querendo brotar em seus lábios. Lembro-me de sua voz dizendo o quanto adora, quando a chamo assim. - Apenas... cuidado. - falo. - Ele já subiu no topo de uma das árvores. E por algum motivo gosta de comer as camélias de Luci. - ela sorri.

- Jura? - dá risada. - Que arteiro. Pode deixar, vou manter ele bem longe das camélias da Luci. Vai, seu safadinho. Seu pai mandou eu ficar de olho em você, em.

Eles saem. Ficamos apenas nós na mesa, um silêncio instalado entre cada um. Continuo a comer. No entanto, minha visão periférica permite que eu perceba Victor me encarando. Fixamente, como um interessado em ler mentes. E ele sabe que sei que está me olhando. Todos sabem que sei que cada um está encarando. Apostando para ver o corajoso a perguntar. E o maior deles, como sempre, é Augusto. Augusto e sua façura por me perturbar.

- Acho que tem algo acontecendo... que não estou muito ciente. - diz.

- Não está.

- Ah, acho que está sim. A começar pela conexão estranha que estabeleceram com um gato, como se os dois soubessem dele antes mesmo de ele misteriosamente, aparecer aqui, após uma noite em que você não disse onde havia ido. Agora, meu doce? Isso foi de foder. - Victor ri, nervoso. - Porque todos sabemos que nem apelido você institui a uma mulher. E outra. Por que não disse nada a respeito da Carolina ir ao cassino hoje à noite? Quando lhe disse sobre Bárbara, dois dias depois foi me dar uma lição de moral sobre não me prender a amores passageiros. E agora simplesmente ignora o fato do seu doce estar prestes a dar a cara num local com milhares de criminosos que poderiam pegar uma perpétua na cadeia, se fossem julgados.

Fico em silêncio. Não porque quero. Mas porque Victor está sendo invasivo demais. Forço palavras falsas a saírem de minha boca. Sei que não são verdadeiras. Pela entonação da minha voz. Pela forma com que soam vagas.

- Porque não me importo com Carolina.

Belas mentiras. Lindas. Das maiores e mais falsas. A verdade é que sei que, se alguém se aproximar dela... se sequer se aproximarem dela, o que será impossível... o que não acontecerá... Carolina não vai machucar um centímetro de pele. Nem que tenha que levar todos os arranhões por ela. E isso me assusta. Me assusta mais que pesadelos. Mais que as marcas de alguém que invadira meu quarto. Mais que ela, fazendo-me dormir sem alucinar.

É um rasgo. Um rasgo em um dos princípios mais importantes da Italian Blood. Nunca defender ninguém além de si mesmo.

Medicine | Volsher.Onde histórias criam vida. Descubra agora