Quase um mês se passa, em completo silêncio. Não somente meu.
Estamos no fim de setembro. Está frio, e a casa se afundou em silêncio eterno. Como um inferno pessoal. Um pesadelo real - não aqueles que voltaram a me visitar à noite. Aqueles que agora me assombram, mesmo acordado.
Não mentirei. Não sei se quero descobrir quem esteve mantendo o tráfico por anos; por todo este tempo. Preciso. No entanto, há uma parte em mim. Ínfima. Que teme quem possa ser. Quem soube exatamente reproduzir a assinatura. Esconder tão assiduamente que esteve assinando.
Victor está na casa de Bárbara. Ele alega não querer trazê-la mais aqui. As circunstâncias se tornaram perigosas. Embora tenhamos nos dado um tempo, ele não pode ser para sempre. Não apenas interrompemos um carregamento de mulheres traficadas. Provocamos alguém.
- Não vai tomar café? Já é o quinto dia que você não come nada, senhorito. - Luci aparece atrás de mim. Estou fumando, na varanda. Sem fome. Como me era de costume.
O que não era de costume? Não querer levantar. Não querer andar. Não querer fazer esforço para nada. Não querer abrir os olhos de um sonho com ela. Não querer parar de pensar no gosto dela. Seu gosto, e os barulhos que fez, e o quão mais eu poderia ter feito...
Nego com a cabeça. Não estou com fome. Luci suspira.
- Tudo bem. Mas ao menos vai falar ou fazer algum barulho? Já é a terceira semana que você não pronuncia uma palavra sequer com alguém, e eu já convivo tempo o suficiente com você para saber que tem algo errado. - diz ela.
Acabo lembrando dela. Como gostava de desvendar minhas expressões. O jeitinho curioso. Semanas para mim equivalem a anos.
Fecho os olhos, contendo a dor lasciva no peito.
- Não estou com fome. - pronuncio.
Luci faz que sim. Não fica satisfeita, mas sai andando. O próximo a vir se entranha em meus pés. Turmalina se esgueira entre eles, mostrando-me que chegou. Jonas deve ter ido buscá-lo. Está com uma roupinha de frio em formato de peixe. Apago o cigarro. O pego nas mãos, afagando seu pescoço.
Ele ronrona. Cheiro seu pelo.
- Mamãe te deu banho, hum? Está cheiroso. - saber que Carolina está cuidando dele me tranquiliza.
Me tranquiliza e atormenta. Seria mais fácil se eu não soubesse onde mora. Não ficaria tentado a persegui-la outra vez. Embora ela não precise saber que a visitei. Não. Não posso. Não devo. Nunca deveria. Respiro fundo.
- Ela está bem? Hm? Mamãe está bem? - ele ronrona outra vez. Baixo a voz: - Sinto muita falta da mamãe. - muita. Quase não suporto. Mil ruídos ao mesmo tempo doeriam menos que o silêncio das paredes. Menos que os talheres do jantar batendo, sem nenhum gemido dela. Menos que o sofá vazio. Frio. Menos que a cama arrumada por Luci, a que estava bagunçada do corpo dela.
Menos que a distância dos nossos corpos. Da minha boca da dela. Minhas mãos da pele dela.
Não sei como ainda estou vivo.
- Carolina quem comprou essa roupa ridícula? - Mob entra no escritório, bufando. - Mulheres... não basta o animal ser demoníaco, precisam comprar essa roupinha vergonho...
- Fui eu, Marcos.
Ele fica em silêncio.
- Bom, não deixa de ser ridículo. Mas em fim. Acabamos de trazer o figlio di puttana daquele administrador do Galpão, como você pediu. Podemos deixá-lo passando fome até amanhã de manhã para ele sentir que não vamos deixá-lo sair vivo até nos dar informações, ou então podemos ver isso imediatamente. Considerando que Victor está na casa da nanica, poderíamos deixar para... - começo a andar.
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Medicine | Volsher.
Любовные романы"Ela não é uma droga. É minha medicina. Drogas te fazem esquecer dos seus problemas, mas medicina... cura. Ela me cura. Mas sem esquecer do que eu vivi."