Bárbara some pelo corredor.
Carolina se vira para mim. Mas parece alterada. Suas bochechas estão mais quentes, e ela parece precisar de fôlego para falar. Seus olhos vão de minha cintura a meus olhos. Se arrastam pelo meu tronco outra vez. A cor linda neles está carregada de uma timidez... recatada. Como se estivesse lutando para não pensar algo.
Sinto um frio na barriga. Não sabe as coisas que penso com ela assim. Não sabe as coisas que penso com esses mamilos marcando o tecido fininho. Como um doce.
- Nossa, eles... nem convidam, né?
Engulo seco. Minha voz sai falha, ainda sim.
- Graças a Deus, mio dolce. Não os suporto de melação.
Ela dá risada.
- Tem razão. Eles são inseparáveis. E eu nem posso reclamar né, já que você me levou em um restaurante chique de comida japonesa também. E me pagou um milk shake de mais de dez reais. - ela dá risada.
Mantenho-me encostado na parede. Observando seus olhos. Cada traço lindo em seu rosto.
- Preciso me desculpar por te colocar naquela situação. Não deveria ter te levado no Galpão.
Não irá mais acontecer. Preciso separar as coisas. Não envolvê-la em situações assim outra vez. Logo, não irá mais se envolver em minha vida. Ao menos, não tanto. É o que deveria ter ocorrido. Desde o início.
- Ah, mas não teve problema nenhum! Sabe, por mais que tenha sido horrível... eu fiquei sabendo de coisas horríveis que realmente existem no mundo, sabe? Posso ter chorado e ficado chocada com a maldade humana daquele lugar, mas além de eu gostar de me meter em encrencas, por puro interesse, também não sou uma bonequinha de porcelana. Queria eu não sentir na pele o que é passar fome e ser despejada... - sua boquinha carnuda continua falando besteiras. -... ao ponto de ficarem com dó de mim e me darem um pouco de comida e um apartamento...
- Não lhe dei por ficar com dó.
- Ah, não? Então foi por quê. - fico em silêncio. Ela aperta os olhos. Se aproxima, e minha pele se ouriça. - Ah, as coisas que eu faria para poder entrar nos seus pensamentos, Ramos...
Nem precisa. Já faz parte deles. Uma boa parte.
- Está em período de provas? - disperso o assunto. Ela suspira.
- Graças a Deus, não. Só de trabalhos. E da apresentação que eu te falei, sabe?
- Vai fazer uma apresentação sobre o livro?
- Hammm, não exatamente. Eu vou apresentar como se estivesse dando uma aula para convencer as pessoas a lerem o livro. Aí durante a interpretação, vou pausando e dando a eles referências do livro, como roupas típicas da época, costumes e culturas e coisas do gênero. Acho que a cultura italiana não é uma coisa tão discutida dentro da minha área e além de eu inovar, vou apresentar algo que eu realmente me interessei, sabe? E quero fazer as pessoas se interessarem também. - meu peito se enche de algo.
Orgulho. Mas não orgulho próprio. É dela. Ela suspira.
- É... eu me apaixonei pelo seu povo, Crusher. - Carolina diz sem desviar os olhos dos meus. - Ou talvez não tenha sido... exatamente pelo povo. - ela me olha com intensidade. Então respira fundo, descendo os olhos por meu tronco. - Mas é claro que não vou falar sobre a mania de vocês de perambular sem camiseta pela casa, da de odiarem nós americanos e priorizarem a qualidade do que vocês ingerem. - não a odeio. Ela é a única americana que não odeio. Mia americana.
- Obviamente priorizo. Americanos comem qualquer coisa em qualquer lugar. - sinto repulsa. - Nós, não. - ela ri.
- Deve ser porque nossa cultura não prioriza tanto almoços com a família e comidas caseiras, como a sua. Somos a terrível cultura do fast-food. Minha avó quase nunca cozinhava pra mim e quando cozinhava... não era a coisa mais gostosa do mundo. - ela sorri de leve. - Ela comprava macarrão instantâneo, chegava com um pacote do McDonald's e outras coisas industrializadas, às vezes.
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Medicine | Volsher.
Romance"Ela não é uma droga. É minha medicina. Drogas te fazem esquecer dos seus problemas, mas medicina... cura. Ela me cura. Mas sem esquecer do que eu vivi."